Renascer: A força da dramaturgia rural de Benedito Ruy Barbosa
A República nos tempos da pandemia
Por Nicole Antunes de Souza Oliveira.
O curta-metragem República, de Grace Passô, tem como cenário o Brasil de 2020 enfrentando a terrível pandemia do coronavírus. Um detalhe cuidadosamente colocado na trama é a confusão e a desorganização do ambiente político que o país vem enfrentando por longos anos. No enredo, o Brasil não é nada além de uma imaginação, notícia que a protagonista, vivida pela própria Passô, recebe com alívio – o que reflete a atual situação, de desalento, em que vivemos. O atual Presidente da República constantemente idealiza e teoriza o que, para ele, seria o Brasil de verdade. Com uma crítica sútil, porém sólida, a artista levanta uma discussão recorrente por entre os brasileiros: como é um Brasil verdadeiro?
A Narrativa Transmídia em AmarElo
Por Fábio Garcez.
O mundo atual é marcado pela grande circulação de formatos midiáticos, que nos atravessam em quase todos os momentos do cotidiano. O fluxo de conteúdos entre diferentes plataformas vem se tornando quase inevitável, assim como o prazer na busca e no consumo amplo de informações (principalmente entre as mais novas gerações). É crescente, também, a vontade do mercado do entretenimento de se aproveitar desse contexto.
O true crime e sua relação com a experiência feminina
Por Daura Campos.
Produtos audiovisuais do gênero true crime* lidam com experiências traumáticas e fatais em que as sobreviventes e vítimas são desproporcionalmente mulheres. Ironicamente, a audiência destes conteúdos também é de forma esmagadora constituída por mulheres. Segundo a pesquisadora Kelli S. Boling, elas conformam 73% do público deste tipo de produção. Além disso, documentários seriados bem sucedidos como Making a Murderer e podcasts como My Favorite Murder** foram criados por mulheres e para mulheres. Mas qual seria a motivação desta audiência?
O lugar da comédia de stand-up em 2021: uma análise de Inside
Por Daura Campos.
Bo Burnham é um comediante, músico e multi-artista norte-americano que se tornou conhecido em 2006 com a viralização de seus vídeos no YouTube. Em sua prática artística, Bo converge apresentações presenciais e virtuais. Seu último especial, Inside, nos convida a refletir sobre como a forma que consumimos a mídia audiovisual nos últimos anos, especialmente durante a Pandemia, pode afetar nossa saúde mental.
Um Lugar ao Sol marca retorno de Lícia Manzo e estréia da autora no horário mais nobre da TV
Por Carlos Eduardo Noronha.
Até que ponto você iria para alcançar seus objetivos? Para conquistar dignidade, respeito e posição social? Para ter um lugar ao sol? Esta é a premissa da trama criada e escrita por Lícia Manzo, com colaboração de Carla Madeira, Cecília Giannetti, Leonardo Moreira, Rodrigo Castilho, Dora Castellar e Marta Góes, direção geral de André Câmara e direção artística de Maurício Farias. A primeira semana, de 8 a 13 de novembro, trouxe para o horário nobre frescor de um enredo inédito após dois longos anos de reprises, em formato de edições especiais; e deixou ótimas impressões em torno da primeira obra da autora titular para a faixa.
Comércio de teledramaturgia no exterior populariza tramas nacionais e constrói visão sobre o país
Por Carlos Eduardo Noronha.
Você chega exausta do trabalho e se esparrama no sofá. É final de tarde. A campainha toca e você hesita um pouco, num relance entre se deve ou não abrir a porta. Você decide que sim. Há uma mulher desconhecida do lado de lá, aparentemente confortável em um vestido verde casual. “Boa tarde! Sou a nova moradora do 1302. Eu e meu marido nos mudamos na terça”. Era sexta. Você retribui o cumprimento e a convida para entrar. “Muito obrigada! Mas não vou demorar. Vim apenas pedir um pouco de açúcar emprestado para terminar um bolo. O Rodrigo, meu marido, ama bolo de fubá com aquela casquinha de canela e açúcar por cima. Trouxe até a xícara! Com a mudança, ainda não tive tempo de ir até o supermercado”. Você vai até a cozinha e volta com a xícara cheia de açúcar. “São seus filhos?” – pergunta a mulher, apontando para os porta-retratos encima do aparador. Você confirma, conta que o mais velho se formou advogado recentemente e que o outro…
A transformação da imagem da Atlântida na mídia de papel do Rio de Janeiro
A Atlântida Cinematográfica foi uma companhia, que surgiu no Rio de Janeiro durante o segundo semestre de 1941, que buscava realizar grandes filmes de estúdio. A produtora passou por várias fases ao longo de sua existência e ficou conhecida por produzir filmes que ficaram marcados pelo termo “chanchada”. A expressão demarcava produções que foram consideradas pela crítica sobretudo mercadológicas, responsáveis por produzir um humor popular, ignorando a história e cultura do país.
A força crescente do terror indonésio
Por Gustavo Fernandes.
Em 2020, o longa-metragem de terror Impetigore (Perempuan Tanah Jahanam) do cineasta indonésio Joko Anwar, foi majoritariamente aclamado no Festival Sundance de Cinema. Posteriormente, no fim de 2020, o filme foi escolhido como o representante oficial da Indonésia no Oscar 2021 (a 93ª cerimônia do Academy Awards). Apesar de não ter sido escolhido pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas para compor a lista de indicados ao prêmio de Melhor Filme Estrangeiro, a obra representa com propriedade a força do cinema de terror na Indonésia, cuja indústria cinematográfica tem ganhado cada vez mais força por meio das plataformas de streaming.
Aspectos da crítica dos fãs em Star Wars: Os Últimos Jedi – Ciclo de Variações de Crítica da Mídia
Por Fábio Garcez.
No dia 8 de outubro, no Ciclo de Variações de Crítica da Mídia realizado pelo grupo de pesquisa Mídia e Narrativa da PUC Minas, aconteceu a mesa Crítica do Entretenimento, com o objetivo de propor debates sobre esse campo. Frequentemente, este é um terreno subestimado e desprestigiado, mas possui grande relevância na sociedade, uma vez que é central em nosso cotidiano.
Pós-Terror: A “inflação teórica” no uso do prefixo
Por Frederico Alves.
Em julho de 2017, o escritor e resenhista especializado em cultura Steve Rose, do The Guardian, popularizou o termo pós-terror para caracterizar alguns filmes do gênero produzidos no decorrer da última década. No texto intitulado How post-horror movies are taking over cinema, que discute a obra Ao Cair da Noite (It Comes at Night, 2017), do diretor Trey Edward Shults, Rose tenta delimitar o que é e o que não é, de fato, pós-terror. Contudo, nesse exercício de conceitualização, surgem algumas incongruências que merecem destaque a fim de se refletir sobre a necessidade ou não do uso do prefixo.
Cannes Lions: Qual é o valor da criatividade?
Por Fábio Garcez.
Após a edição de 2020 ter sido cancelada devido à pandemia da Covid-19, em 2021 finalmente tivemos o retorno do Cannes Lions, o maior festival de criatividade do mundo, que ocorreu entre os dias 21 e 25 de junho, julgando trabalhos tanto desse ano quanto do anterior. Com um grande número de campanhas focadas em pautas sociais e na exploração de novas mídias em busca de conectar melhor as pessoas, essa edição evidenciou o quanto a pandemia foi um grande catalisador para muitos problemas da sociedade contemporânea. Em contrapartida, ela também escancarou a urgência da solução para essas questões, o que levou o mercado e os profissionais da comunicação e da publicidade a repensarem o seu papel em meio a esse contexto, tendo que se reinventar criativamente.
A contemplação na nouvelle vague taiwanesa
Por Gustavo Fernandes.
Nos anos 1980, o cinema de Taiwan viu a ascensão de uma nova modalidade cinematográfica que logo passaria a ter considerável repercussão internacional. Na contramão dos filmes produzidos na ilha ao longo das décadas anteriores, que geralmente eram filmes de ação, a nova onda do cinema taiwanês foi marcada pela ascensão do realismo e da contemplação do cotidiano, viabilizando também a experimentação dentro da maleabilidade dos dramas mais comedidos que passariam a ser realizados ali.
O Amadurecimento do Amor Moderno
Por Júlia Horta.
Histórias de amor, relações complicadas, paixões avassaladoras, amores não correspondidos, encontros e desencontros, são características que definem a série Modern Love, disponível na plataforma de streaming Prime Video. A produção, que conta com duas temporadas e 16 episódios no total, busca retratar relações da vida real em episódios unitários, que trazem uma narrativa única, porém com um denominador em comum: o amor.
“Verdades Secretas” está de volta: reprise serve de aquecimento para segunda temporada
Por Carlos Eduardo Noronha.
Na TV, diversos instrumentos medem o sucesso de uma obra: número de aparelhos ligados, participação (share), rentabilidade, etc. Contudo, nenhum deles é tão eficiente quanto a interação com o público. Novela que está na boca do povo, nas mesas de bar, nos intervalos do trabalho e nas filas de banco, sem sombra de dúvida, é novela de sucesso. “Verdades Secretas” permeou todos esses ambientes, conquistou o título de maior audiência das 23h e, como se não bastasse, venceu o Emmy Internacional de 2016. Agora, seis anos após sua exibição original, a trama está de volta como aperitivo aos paladares sedentos pelos desdobramentos da história que, por um adjetivo, pode ser resumida: ousada.
“Travessia” e a Resistência da Memória
Por Fábio Luis Almeida Garcez de Carvalho.
Existe um famoso dito popular que afirma que “quem não é visto, não é lembrado”. De fato, é por meio da memória que histórias, pessoas e culturas sobrevivem à inevitável passagem do tempo e superam a barreira da morte, deixando para as futuras gerações legados e aprendizados. Entretanto, o que ocorre quando não permitem que um certo grupo de pessoas tenham suas vidas registradas e guardadas em lembranças?
“Travessia” e a Estética da Representatividade
Por Daura Campos.
Poderia a lente fotográfica condicionar, e retroativamente, explicitar o preconceito racial no Brasil? Travessia (2017) faz emergir este questionamento e essa possibilidade, em uma construção narrativa na qual as imagens de arquivos, paradoxalmente, limitam e ampliam a noção global de quem realmente importa na sociedade. Esta discussão se dá a partir de diversas intersecções, em especial as de raça e classe neste documentário dirigido, produzido e roteirizado por Safira Moreira, celebrado internacionalmente como o filme de abertura do Festival Internacional de Cinema de Rotterdam em 2019.
A experimentação nos blockbusters hollywoodianos de ação
Por Gustavo Fernandes.
Comumente rejeitados pela crítica especializada, blockbusters de ação que não buscam certa polidez estética tendem à rejeição também por parte do público. Talvez devido à tendência de se buscar por realismo e verossimilhança, diversos filmes que permitem a si mesmos certo grau de inventividade não costumam ser sempre vistos com bons olhos.
A Cinematográfica Terra do Brasil
Por Beatriz Xavier e Sarah Cafiero.
Desde os primórdios do cinema, existem mulheres interessadas em realizar filmes, mas, ainda hoje, toda vez que é lançado um filme cujo número de mulheres na equipe supera o de homens, a iniciativa é aplaudida como novidade. O que pouco se comenta é que esforços desse tipo vêm sendo realizados há tempos, nem sempre com sucesso.
Lugares fotográficos: a representação da mulher por fotojornalistas na primeira metade do século XX
Por Renata Garboci.
Ao lermos sobre a história da sociedade do final do século XIX e início do século XX, observamos mudanças importantes em sua estrutura. Na época, muitos paradigmas estavam sendo questionados e, com isso, fomentava-se a discussão sobre a emancipação das mulheres e suas participações pioneiras em diversas áreas e atividades da vida social. A nossa pesquisa analisou, especificamente, a representação da mulher nas fotografias de Margaret Bourke-White (EUA, 1904-1971), Tina Modotti (Itália, 1896-1942) e Dorothea Lange (EUA, 1895-1965). Em suas obras, as fotojornalistas retratam mulheres de diferentes de etnias e classes sociais. Diante delas, fizemos os seguintes questionamentos: Como o feminino está representado no trabalho dessas fotojornalistas, produzido no início do século XX? E de que modo essas representações tornam-se, por meio do discurso fotográfico, um gesto político-identitário?
Mobilidade urbana: cobertura midiática sensível a soluções
Por Jessica de Almeida.
A cobertura jornalística focada em cidades, chamada em algumas redações de Gerais, Cidades, Diário, costuma figurar o primeiro caderno dos jornais impressos. Da mesma forma, é a editoria que concentra o maior número de repórteres. Notícias a respeito da mobilidade urbana e trânsito são comuns, mas elas traduzem os leitores às reais problemáticas dos transportes, suas origens e soluções?
Como você se torna convencível em um perfil do Tinder
Por Marcelle Primo.
Quem nunca baixou o Tinder que atire a primeira pedra. Desde 2013, temos em nossos bolsos esse modo digital de conhecer pessoas mundo afora. E desde que somos humanos tentamos seduzir e conquistar nossos pares. Que os usuários do aplicativo editam o que os outros devem saber sobre eles, isso já sabemos. Faz parte dos modos de apresentação no cotidiano, como nos disse Goffman no século passado. O que continua um mistério é por que as pessoas são levadas a acreditar que o que está escrito no espaço de descrição é um fato ou uma verdade. Quando eu me descrevo, qual é a mágica para ter likes?
A distância na arte do encontro
Por Júlia Horta.
O Centro de Crítica da Mídia conversou com Juliana Martins, atriz e professora de teatro, para entender a luta, a resistência, as complicações e reinvenções que as práticas teatrais estão enfrentando durante a pandemia. O questionamento principal que norteou a nossa conversa foi: como fazer para sobreviver no campo educacional e nos palcos a arte do encontro, do coletivo, do afeto e do toque, em tempos que temos que nos manter tão distante? Buscarmos refletir sobre as formas de sobrevivência do teatro ao longo deste ano atípico que enfrentamos; lembrar da importância de exaltar, divulgar, compartilhar e consumir os conteúdos criados por espaços culturais relativos ao teatro; e apontar as grandes dificuldades que acometem os artistas que precisam do público e do coletivo para seguir existindo.
O diálogo, o discurso e o contradiscurso: a prosa em cacos de A Sirene e da Fundação Renova
Por Lara Dornas.
“Em Mariana, a derrama dos rejeitos empilhados como um castelo de cartas em duas barragens a montante, apoiando-se a si mesmas […] cobrou seu tributo às comunidades e a todos os reinos da natureza em vidas e em destruição, no distrito de Bento Rodrigues e em tudo que se estende pelo rio Doce até o mar”. A epígrafe de Wisnik (2018) dá conta do que foi o rompimento da barragem de Fundão, no município de Mariana, em 5 de novembro de 2015. O tsunami de lama cravado na experiência dos atingidos – comunidades, empresas, Estado, entre outros – provocou toda sorte de discussões em meio ao complexo jogo de ação-reação e significações-ressignificações que o acontecimento é capaz de suscitar. Entre elas, a mobilização de estratégias organizacionais-discursivas-institucionais-sociais dos atores envolvidos.
O realismo melodramático de José Luiz Villamarim
Por Gustavo Fernandes.
Comumente enxergada como um dos formatos mais conservadores do audiovisual brasileiro – e geralmente subestimada por estudiosos do campo –, vez ou outra a telenovela vai ao encontro de profissionais com tendência à experimentação. É o caso de José Luiz Villamarim, renomado diretor conhecido por imprimir o frescor realista ao folhetim diário tupiniquim, mas sem abrir mão do tradicional melodrama do gênero.
O Escapismo pelo Folclore
Por Julia Alvarenga.
O ano de 2020 foi acometido pela atroz pandemia de COVID-19 e o mundo foi obrigado a parar. Também, foi estimulado a repensar a melhor maneira de prosseguir. Influenciados pelas novas circunstâncias, os artistas continuaram produzindo e se reinventando. Um dos resultados da produção em meio ao caos é o álbum folklore, de Taylor Swift.
Conectando o racismo à tecnologia: racismo algorítmico e produção de sentidos
Por Nana Miranda.
Se você utiliza alguma rede social, provavelmente já viu alguém comentar sobre as ações dos algorítmos, como eles são e como funcionam. Apesar de certa popularidade, nem todo mundo compreende a relevância que eles possuem na sociedade. De forma geral os algoritmos são um conjunto de instruções que, seguidos à risca, proporcionam resultados esperados, como uma receita de bolo ou manual de instruções de aparelhos. Na computação, os algoritmos são sequências de instruções construídas para que se possa, por meio de dispositivos computacionais, chegar a determinados objetivos.
Brasil acima da liberdade e Deus acima da democracia?
Por Deborah Dietrich, Julia Portilho e Letícia Anacleto.
“A minha força vem de Deus. Se alguém acha que um dia abriremos mão da nossa liberdade estão enganados”. Essa foi a frase usada por Jair Bolsonaro para iniciar seu discurso de aniversário de 66 anos. No auge da pandemia de Covid-19, o presidente da República promoveu, no dia 21 de março, uma aglomeração em frente ao Palácio do Planalto para agradecer aos presentes e manifestar suas perspectivas sobre a situação política do país.
Algo Diferente: Um olhar questionador sobre a expressão da mulher na sociedade
Por Júlia Horta.
A experiência de ser mulher em uma sociedade regida pelo patriarcado e pela dominação masculina consiste em viver com amarras que são impostas desde o nascimento. Não é de hoje que a definição dos papéis sociais do homem e da mulher acarreta discursos discriminatórios, assim como prisões individuais e coletivas que limitam a expressão de certos sujeitos. Desde os primeiros passos, cai sobre o colo das mulheres um manual de regras a serem seguidas: são ensinadas, por exemplo, a como cuidar de uma casa ou a forma correta de se portar dentro e fora de seu lar. Ainda que experimentem uma educação progressista em casa, quando a necessidade de encarar o mundo aparece fica evidente que a cultura machista está enraizada nos ideais sociais e distribui uma série de obrigações e implicações para todos os gêneros. Entretanto, é evidente que homens cisgêneros, heterossexuais e brancos detêm privilégios dentro desse sistema.
A mídia e seu papel na representação da mulher atleta
Por Gabriela Freitas.
A sociedade em que vivemos é produzida em torno de significações que moldam a forma com que os indivíduos enxergam o mundo a sua volta. As práticas midiáticas, elementos fundamentais e ativos da sociedade, produzem certas representações que propagam determinadas formas de pensamento. Para Stuart Hall (2016), representar significa, justamente, “utilizar a linguagem para, inteligivelmente, expressar algo sobre o mundo ou representá-lo para outras pessoas” (HALL, 2016, p.31).
Retorno de Império dá margem para entender porque o Brasil é líder na produção de teledramaturgia mundial
Por Carlos Eduardo Noronha.
O horário nobre voltou a brilhar, como outrora resplandeceu em 2014 sob a luz do diamante cor-de-rosa do Comendador José Alfredo Medeiros. Ontem (12) a Rede Globo voltou a exibir, às 21h, Império – novela escrita e criada por Aguinaldo Silva com colaboração de Márcia Prates, Nelson Nadotti, Rodrigo Ribeiro, Maurício Gyboski, Renata Dias Gomes, Zé Dassilva, Megg Santos e Brunno Pires – no espaço deixado por Amor de Mãe, assinada pela estreante Manuela Dias. O folhetim traz consigo, além do enredo funcional e bem amarrado, uma estatueta do Emmy como reconhecimento mundial ao talento e qualidade brasileiros.
Velório da Chapecoense: ética jornalística e espetacularização
Por André Tolomelli.
No ano de 2016, o cenário esportivo brasileiro sofreu um grande golpe com a perda de 71 vidas na queda do voo 2933, da Lamia, que transportava a delegação da Chapecoense e diversos profissionais de imprensa rumo à Colômbia, onde seria disputada a primeira partida da final da Copa Sul-Americana. O episódio ganhou repercussão internacional e uniu o Brasil em luto, levando a histórica campanha da humilde equipe catarinense ao fim mais inimaginável e triste possível.
Curtir, comentar, salvar e compartilhar: a positividade tóxica das redes
Por Ane Guimarães.
Hoje, o sentimento de insatisfação é amplamente utilizado pelo mercado, pelas indústrias e, também, pelo patriarcalismo. Esse afeto, por mais contraditório que possa parecer, ganha forças com o excesso de exposição da positividade nas redes sociais. Tornam-se inaceitáveis quaisquer perspectivas de fracasso, criando-se, justamente, um espaço tóxico, no qual o erro, apesar de inevitável, não é admitido. Tinder, Snapchat, Instagram, Facebook, LinkedIn e TikTok, qual ou quais dessas redes sociais fazem parte do seu cotidiano?
Bons diálogos também se constroem sem script
Por Carlos Eduardo Noronha.
“Muitos anos depois, diante de um pelotão de fuzilamento, o coronel Aureliano Buendía havia de recordar aquela tarde remota em que seu pai o levou para conhecer o gelo. Macondo era então uma aldeia de vinte casas de pau-a-pique e telhados de sapé, construídas na beira de um rio de águas diáfanas que se precipitavam por um leito de pedras polidas, brancas e enormes como ovos pré-históricos. O mundo era tão recente que muitas coisas careciam de nome e, para mencioná-las, era preciso apontar com o dedo.”
Retrato de uma jovem em chamas: a escolha dos poetas
Por Julia Alvarenga.
O que é arte? Por toda estada dos seres humanos no mundo, a arte se fez presente, assim como questionamentos sobre sua existência. Em anos de estudos, teorias e artigos mostravam-se inconclusivos ao englobar a essência artística; até hoje, a arte viaja pelos ideais estéticos, formalistas e emocionais, sem nunca findar-se num conceito fechado. É da arte que trata o filme Retrato de Uma Jovem em Chamas (Portrait de la jeune fille en feu), que nos apresenta um romance francês do século XVIII, quando o Neoclassicismo voltava a emergir na Europa, junto de suas normas academicistas, convenções formais e proporcionais. Marianne é uma pintora profissional submetida ao desafio de pintar, a partir de vislumbres sigilosos, um retrato da inexorável Héloïse, à pedido de sua mãe; dessa forma, a pintora sujeita-se à angústia da emoção.
Dilemas da representação no documentário africano “Pare de nos filmar”
Por Clara Pellegrini.
Filme de abertura da corrente Mostra de Cinemas Africanos 2021, o longa documental Pare de nos filmar (Stop filming us, 2020, Joris Postema) vai até Goma, cidade do nordeste do Congo, com a intenção de não apenas retratar aquele território, mas investigar questões que tradicionalmente marcam a produção de imagens na e da África: quem tem o direito de filmar, qual a forma como se filma e quais as consequências disso? São essas indagações que movimentam o filme e o próprio filmar; o longa de Postema tenta se debruçar sobre si mesmo tanto quanto tenta se debruçar sobre o mundo.
O deleite do presente em O Dia de Jerusa
Por Gustavo Fernandes.
Para o autor Goethe, o que passou, passou, mas o que passou luzindo, resplandecerá para sempre. A transitoriedade do ser humano, de suas relações e das fases de sua vida é, portanto, inevitável. Tudo que ainda não é passado, um dia será. No entanto, em alguns casos, faíscas do passado podem ser tão vívidas quanto o próprio presente, e até mesmo assumir a forma de um refúgio em tempos de dificuldade. Esse é o cerne de O Dia de Jerusa, curta-metragem de 2014 escrito e dirigido por Viviane Oliveira e estrelado por Débora Marçal e Léa Garcia.
A jornada intermidiática de Kbela
Por Clara Pellegrini.
Kbela (Yasmin Thayná, 2015) é um filme sensorial. Muito mais do que uma construção narrativa, o curta-metragem se oferece como uma experiência, sobretudo às mulheres negras – é, afinal, feito por, sobre e para elas. É um filme sentimental, afetivo; um lugar de identificação e pertencimento, uma ode à feminilidade negra. É uma obra intrinsecamente intermidiática. Mas antes de qualquer coisa, Kbela é uma vivência coletiva, um filme-jornada – intra e extra diegeticamente.
A boneca e o silêncio: reflexos de um grave problema social
Por Julia Andrade.
O curta A boneca e o silêncio, dirigido e roteirizado por Carol Rodrigues, cineasta brasileira, foi lançado em 2015 e retrata um momento delicado e dramático na vida de Marcela, uma jovem de 14 anos. A adolescente se encontra grávida do namorado, um rapaz que assim como ela, vive uma vida simples. O jovem casal está passando por um momento difícil, sem preparo psicológico para assumir as responsabilidades que envolvem ter um filho. Juntos, tem que decidir quais medidas tomarão em relação à gravidez: ter o filho ou realizar um aborto. Ainda que seja uma obra de ficção, não é possível deixar de associá-la a problemas sociais do Brasil.
O Dia de Jerusa resgata a simplicidade dos gestos e aposta no poder da boa palavra
Por Carlos Eduardo de Noronha.
A simplicidade nunca esteve tão em alta como agora. Junto ao excesso de informações, à convergência de ideias e à produção industrial de conteúdos, quem opta pela simplicidade se destaca em meio ao ritmo frenético da vida contemporânea. Foi exatamente neste contexto que a cineasta Viviane Ferreira apresentou Jerusa Anunciação e nos convidou a passar um dia em sua casa. Jerusa está para receber os filhos e netos para o almoço de aniversário quando é surpreendida por Silvia, pesquisadora da Central de Opinião Popular interessada em realizar uma entrevista sobre sabão em pó.
Talvez Entre Nós Estejam Multidões (2020)
Por Júlio Martinez.
Talvez Entre Nós Estejam Multidões (2020) é um documentário sobre a ocupação Eliana Silva em Belo Horizonte e é o primeiro longa-metragem dos cineastas Aiano Bemfica e Pedro Maia. A dupla já havia dirigido os curtas Na Missão Com Kadu (2016) e Conte Isso Àqueles que Dizem que Fomos Derrotados (2018), que também tratam das ocupações da capital mineira. Entretanto, Talvez Entre Nós Estejam Multidões possui uma abordagem diferente dos outros trabalhos de Bemfica e Maia. Os primeiros filmes tratam da luta e do confronto direto com a polícia para garantir a permanência da ocupação. No documentário em questão, os realizadores retratam os problemas de um espaço já consolidado, que ainda trava, porém, lutas burocráticas com a prefeitura de Belo Horizonte.
Apropriações do discurso neoliberal das lutas por reconhecimento
Por Ercio Sena e Juliana Gusman.
Neste artigo, os autores refletem sobre os limites das lutas por reconhecimento em termos prioritariamente identitários, desvinculadas de um projeto de transformação social mais amplo, que abarque as esferas política, social e econômica. Como apontam alguns autores, a ideologia neoliberal consegue se reapropriar de pautas circunscritas majoritariamente no campo da cultura e esvaziá-las de seu potencial político e revolucionário.
Análise crítica do documentário “O dilema das redes”
Por Ana Flávia Almeida Pisani; Laura Couto Lopes; Maria Clara Sales Lacerda Gomes; Maria Laura Alves de Carvalho Oliveira; Maria Vitória Arantes Mazão.
O Dilema das Redes (2020), documentário lançado pela Netflix, dirigido por Jeff Orlowski, conta com a participação de ex-funcionários e executivos de empresas como Google, Facebook e Twitter que expõem os perigos causados pelas redes sociais. Eles escancaram o domínio que essas mídias exercem no cotidiano da sociedade, influenciando na forma em que pensamos, agimos e vivemos. Jogando luz sobre os bastidores das grandes empresas de tecnologia, o documentário expõe a necessidade de se atentar para a gratuidade dos aplicativos de redes sociais, uma vez que, como disse o ex-designer do Google, Tristan Harris: “se você não está pagando pelo produto, então você é o produto”.
A abordagem intertextual no estudo de celebridades: aspectos teórico-metodológicos
Por Marcio Serelle.
O artigo busca atualizar as quatro categorias textuais concebidas pelo crítico de cinema Richard Dyer para o estudo da construção da imagem de celebridades pois essas tangem meios midiáticos da década de 1970. O texto defende que a imagem da estrela é constituída por meio de textos e interações midiáticas, além de ser uma “polissemia estruturada” que contempla diversos sentidos e é desenvolvida ao longo do tempo.
Cinema, história, memória e verdade: found footage e apropriação em Wajda
Por Silvana Seabra.
O artigo discute a apropriação de arquivos de filmes e vídeos (footage) para propostas representacionais de fundo histórico no cinema. A dissertação de Seabra se limita às obras do cineasta polonês Andrzej Wajda, com um foco maior no filme O Homem de Mármore (1981). A escolha desse autor se deve a apropriação dos footage como um recurso criativo e crítico, ao contrário do que era comum nos anos 1930.
Polêmicas nas reverberações críticas de Bacurau
Por Ercio Sena e Juliana Gusman.
O artigo problematiza a polêmica em torno do filme Bacurau (2019), de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles. A obra teve ampla repercussão de público e na crítica jornalística especializada, marcada por intervenções dissonantes. Objetiva-se mapear as diferentes chaves de leitura evocadas por esses discursos sobre a obra, localizando a confrontação política que permeia diferentes interpretações.
A personagem no jornalismo narrativo: empatia e ética
Por Marcio Serelle.
O artigo trabalha a questão da personagem no jornalismo narrativo enquanto elemento, assim como em obras ficcionais literárias, capaz de humanizar o leitor à medida que desperta empatia – além de ilustrar padrões de comportamento e condições de vida com maior legitimidade graças a transcrição de detalhes.
Anne, uma protagonista a frente de seu tempo
Por Julia Portilho.
A série “Anne With An E”, baseada nos livros de L. M. Montgomery, conta a história de Anne, uma menina órfã que, após um erro no sistema do orfanato, é adotada por engano por um casal de irmãos que buscava ajuda para o trabalho na fazenda. Ambientada na zona rural do Canadá do século XIX, o enredo explora diversos temas em evidência na época e que continuam relevantes, como o preconceito e o machismo estrutural incrustado na sociedade. Mesmo após quase dez meses desde seu cancelamento no final de 2019, a série canadense continua movimentando as redes sociais. Isto porque inúmeros abaixo-assinados em prol de sua renovação para uma quarta temporada circulam pela internet e buscam conquistar seu objetivo a todo vapor.
Quem fala sobre a ditadura nos jornais? Reflexões sobre as fontes de informação jornalísticas
Por Fernanda Nalon Sanglard e Teresa Cristina da Costa Neves.
O artigo verifica como se deu a cobertura jornalística brasileira sobre a ditadura militar durante o processo da Comissão Nacional da Verdade (CNV) e demais comissões entre julho de 2012 e dezembro de 2015. Discute, também, o papel das fontes de informação enquanto instrumento político e evidencia como o jornalismo tem predileção pelas fontes consideradas oficiais.
A impossibilidade de comunicação em Sagrada Família (1970) e Bang Bang (1971)
Por Júlio Martinez.
Durante o período da Ditadura Militar no Brasil (1964 – 1985), o Ato Institucional n. º5 (AI-5), instaurado em 1968, é considerado um dos momentos mais sombrios do regime. Essa atitude autoritária, dentre todas as medidas, legalizava a censura dos meios de comunicações e de obras artísticas, além da tortura dos opositores do governo. Em relação à arte brasileira nesse período, sabem-se de diversos casos de censura e até a destruição de obras artísticas, como músicas de Chico Buarque e Gilberto Gil (Cálice), Adoniran Barbosa (Tiro ao Álvaro), dentre outras. Também há casos no cinema, como Macunaíma (1969) de Joaquim Pedro de Andrade, que a censura impôs dezesseis cortes de sequências do filme. Entretanto, após várias negociações, esse número foi reduzido para três. Portanto, o início da década de 1970 é marcado por um enrijecimento do regime militar no Brasil, o que afetou bastante a produção cinematográfica, já que a liberdade de expressão era quase nula.
Outros tons do sertanejo: misoginia e feminicídio como marcas do cancioneiro rural brasileiro
Por Damiany Coelho e Mozahir Salomão.
O artigo investiga como a misoginia e a violência física contra a mulher aparecem nas canções do repertório da música sertaneja. O trabalho foi feito a partir da análise de conteúdo das letras de quatros músicas, que fazem referência a essa temática. São elas: Cabocla Tereza (1936), Justiça Divina (1959) ambas gravadas pela dupla Tonico e Tinoco, Ele Bate Nela (2014) de Simone e Simaria e O Defensor (2015) de Zezé di Camargo e Luciano. Os autores optaram por esse recorte pelo fato de tais canções se mostrarem bastante representativas dos períodos em que tiveram forte circulação e consumo.
WhatsApp na sala de parto e a midiatização do nascimento
Por Alessandra Gonçalves; Conrado Moreira Mendes; Maria Ângela Mattos.
Neste artigo, os pesquisadores e professores da PUC Minas investigam a midiatização do nascimento. O aplicativo de envio de mensagens WhatsApp, que terminou 2019 como o aplicativo mais baixado do mundo, entra como uma ferramenta de divulgação do recém nascido. O estudo foi realizado em uma maternidade pública estadual de referência para partos de alto risco obstétrico em Belo Horizonte.
Os efeitos da propaganda: análise de um comercial da Parmalat e uma campanha publicitária da Dove
Por Dara Russo; Deborah Dietrich; Julia Portilho; Letícia Anacleto; Vinícius Medeiros.
A Teoria da Persuasão, desenvolvida nos anos 1940 por estudiosos estadunidenses, propõe que um grupo de pessoas possa agir de maneiras diferentes ao receber determinadas mensagens, sendo o resultado de tais estímulos definido por processos psicológicos intervenientes. Dessa forma, vão existir fatores que podem interferir na forma de recepção de cada um: o interesse em obter informação por parte da audiência, a exposição, percepção e a memorização seletivas. (Wolf, 1996). Além desses fatores relacionados aos receptores, existem alguns vinculados, particularmente, à mensagem – como a credibilidade do comunicador, a integridade das informações, a ordem das argumentações e a explicitação das conclusões. Podemos aferir que a maneira de se conduzir a mensagem pode influenciar na recepção da audiência.
A propaganda contra a ideologia nazista
Por Fabíola Duarte; Giovana Cangussú; Marina Lemos; Paola Mariano.
Compreender o papel da comunicação social é fundamental para entendermos as dinâmicas da vida cotidiana. Diferentes usos da mídia foram decisivos, até mesmo, em diversos embates históricos. No contexto das Grandes Guerras Mundiais, por exemplo, técnicas de persuasão midiáticas influenciaram a opinião pública de forma a validar investidas bélicas totalitárias. Acreditou-se, inclusive, na onipotência dos meios, cujos efeitos nos modos de agir e pensar da audiência eram tidos como instantâneos, já que ela, supostamente, se constituía em uma “massa” apática, em uma coletividade heterogênea e desestruturada socialmente. Entretanto, a Alemanha Nazista não foi o único país a lançar mão de estratégias propagandísticas. Os Estados Unidos também se utilizaram, nesse contexto, de retóricas similares para promover seu próprio estilo de vida. Até mesmo figuras aparentemente inocentes como o personagem do Pato Donald foram acionados nesse esforço.
Djonga e a comunicação de sua área: uma análise do álbum “Histórias da minha área”
Por Frederico Brade Teixeira; João Scarano Guerra; Juan Chaves; Lacir Gomes Feital Junior; Leticia Santos Gois; Lucas Braga Teixeira Raposo da Cunha.
Nos últimos anos, em Belo Horizonte, observamos a ascensão de um fenômeno na música brasileira. De voz gritante e rimas que carregam o peso de uma dura realidade, Djonga trabalha em sua obra, desde o início da carreira, temáticas direcionadas a questões raciais e grupos marginalizados. No dia 16 de março de 2020, lançou seu quarto álbum de estúdio: Histórias da minha área. Com reconhecimento e fama por todo solo nacional, o rapper, no mainstream da mídia, dita tendências na música. Assume, mais do que nunca, sua verdadeira intenção como artista, afirmando suas raízes. Dessa forma, seu sucesso reverbera em todos aqueles que compartilham a realidade periférica, subalternizados por um sistema racista.
Até o amor ser bom, ele é tão ruim
Por Júlio Martinez
André Novais Oliveira é um dos diretores mais promissores do cinema brasileiro contemporâneo. Logo no início de sua carreira, seus filmes tiveram reconhecimento tanto nacional, quanto internacional, como o curta-metragem Pouco Mais de Um Mês (2013), disponível no canal da produtora mineira Filmes de Plástico, que passou na Quinzena dos Realizadores em Cannes.
Liberdade que aprisiona
Por Júlio Martinez.
Em Estou Me Guardando Para Quando o Carnaval Chegar (2019) Marcelo Gomes (diretor de Era Uma Vez Eu, Verônica e Joaquim) retorna a Toritama, cidade em que costumava ir com seu pai quando criança, localizada no agreste de Pernambuco. Atualmente, o município é conhecido por ser a capital do jeans e seus moradores se encarregam de cerca de 20% da produção nacional. Somos apresentados à Toritama por meio de planos que evidenciam o forte negócio da cidade. O documentário se inicia com um motoqueiro segurando uma penca de calças jeans, transportando-as por uma rodovia. Depois, a câmera observa o processo de produção em uma das facções, como são chamadas as pequenas fábricas dentro das casas, responsáveis desde o corte das roupas até o carregamento da mercadoria em uma carreta.
Atlantique: um Transe Tropical
Por Júlio Martinez.
Atlantique (2019), longa-metragem de estreia de Mati Diop, fez história no Festival de Cannes, sendo a primeira obra dirigida por uma mulher negra a entrar na competição pela Palma d’Or e, ainda, levar o Grand Prix. O filme se passa no Senegal, na cidade de Dakar, onde acompanhamos um amor proibido entre Ada (Mame Bineta Sane) e Souleiman (Ibrahima Traore).
A quem confessar? (O Irlandês, de Martin Scorsese)
Por Fábio de Carvalho
Nos perguntamos a quem a narrativa de Frank Sheeran (Robert De Niro) se dirige em O Irlandês (2019). Uma câmera em movimento nos detêm sobre os corredores de um asilo para idosos e encontra seu destinatário.
A ambiguidade, a inocência (Coringa, de Todd Phillips)
Por Fábio de Carvalho. O palhaço, por excelência, domina o ridículo de si. Havia uma sabedoria em Yorick, o bobo da corte de Hamlet, que atento a mise-en-scène da nobreza dinamarquesa sempre deu a última risada. Ao estar ao mesmo tempo com e contra o personagem, a câmera do filme de Todd Philips anda numa corda bamba. Como um bobo que maneja a sátira da própria corte para quem trabalha, o filme joga com sua plateia, prosperando nas transgressões que promove.
Comunicação, Pesquisa e Sociedade – Ep. 1 “O cinema e as imagens da cultura: alegoria e contraponto em Terra Estrangeira”, de Pedro Vaz Perez
No primeiro episódio apresentamos o professor da PUC Minas Pedro Vaz Perez com o tema “O cinema e as imagens da cultura: alegoria e contraponto em Terra Estrangeira”.
Comunicação, Pesquisa & Sociedade: I Encontro dos Grupos de Pesquisa do PPGCom
O Centro de Crítica da Mídia (CCM) – em parceria com: Faculdade de Comunicação e Artes (FCA); Lab Áudio Coreu; Lab Vídeo SG; Programa de Pós-Graduação em Comunicação PUC Minas (PPGCom) – tem o prazer de anunciar a série de vídeos Comunicação, Pesquisa & Sociedade. A fim de reafirmar a importância da pesquisa científica no campo da Comunicação Social para o cotidiano e o futuro das pessoas, os vídeos trarão pequenas exposições sobre os trabalhos realizados na pós-graduação da PUC Minas, reiterando os seus impactos na formação dos pesquisadores e no meio social. O primeiro episódio, a cobertura em vídeo do I Encontro dos Grupos de Pesquisa do PPGCom realizada pelo laboratório de áudio da FCA, será a exceção à regra para introduzir de maneira ampla as produções da série.
A Entrevista de Glenn Greenwald no Roda Viva e o olhar critico sobre o jornalismo
Por Carolina Lopes
O jornalista Glenn Greenwald, editor do The Intercept Brasil, concedeu na noite desta segunda-feira (2) entrevista a jornalistas no programa Roda Viva, da TV Cultura. Atualmente o The Intercept Brasil tem soltado uma série de reportagens intitulada Vaza Jato, onde informações importantes e comprometedoras dos bastidores da operação Lava Jato estão sendo divulgadas, mostrando que houve uma “armação política” por parte dos membros do Ministério Público, o que coloca em risco a integridade de todo o sistema Judiciário brasileiro.
Diálogos Impertinentes: a televisão universitária em encontro com a sociedade
Por Fábio de Carvalho
O Diálogos Impertinentes foi um programa universitário produzido pela TV PUC em parceria com o Sesc São Paulo e a Folha de São Paulo. No ar de 1995 a 2007, o programa contou com participações de importantes figuras da cultura e intelectualidade brasileira. Trazendo o debate entre diferentes perspectivas sobre temas como utopia, urbanismo, paixão o Diálogos representa um raro momento de convergência entre academia, televisão e sociedade brasileira.
Disposições sobre anônimos: o sujeito ordinário na história, na sociologia e na mídia
Por Ercio Sena e Juliana Gusman
O artigo pretende refletir sobre a presença de sujeitos anônimos e sobre suas realidades cotidianamente negligenciadas em narrativas midiáticas distintas. Para isso, estabelece relações com estudos sobre a abordagem dos anônimos na história e nas ciências sociais brasileiras. Esses movimentos buscam capturar ações que miram a visibilidade desses sujeitos, pertencentes às classes populares, em vestígios configurados, ou não, por eles. A partir daí, o artigo discorre sobre os desafios que caracterizam a emergência de outros sujeitos, não hegemônicos, na cultura da mídia contemporânea.
Crítica e reconhecimento: lutas identitárias na cultura midiática
Por Marcio Serelle e Ercio Sena
Este artigo analisa interações polêmicas sobre o filme Vazante e a peça Gisberta, em que grupos identitários vinculados a pessoas negras e transexuais, respectivamente, criticaram o modo como foram representados nessas ficções. A partir da teoria de reconhecimento em Axel Honneth, busca-se compreender a emergência dessas formas de luta social na cultura midiática. Para isso, examinam-se a semântica coletiva e o modo como ela organiza e expressa os sentimentos de injustiça em face dessas narrativas. Os embates evidenciam diferentes reivindicações, que se referem tanto à inclusão cultural como à autonomia da ficção, e propõem relações entre narrativa e sociedade que desafiam a crítica midiática atual.
Garotas mortas é sobre procura
Por Caíque Pinheiro
Desde a capa da edição brasileira (Todavia, 2018), com a imagem de uma flor muito próxima e de outras mais distantes, todas desfocadas, a não ficção de Selva Almada, Garotas mortas, parece sugerir esta mensagem: seu livro é sobre a busca de ver algo (e também sobre não vê-lo, de fato). No caso, a autora denuncia e investiga mais profundamente três feminicídios ocorridos na década de 1980, em cidades no interior da Argentina; histórias irresolutas desde então, e que – paradoxo posto – mesmo seu bom olhar não contribui para solucionar.
O show deve continuar?
Por Amanda Diniz
“Criamos uma indústria da moda onde as pessoas morrem e o show continua”, disse Marina Colerato, editora do site modefica. Após a morte do modelo Tales Cotta no dia 27 de abril, que passou mal durante o desfile da marca Ocksa na São Paulo Fashion Week (SPFW), diversos questionamentos sobre posturas no mundo da moda contemporânea começaram a surgir.
Imagens do leitor: a experiência da leitura como instância da mediação
Por Gabriela Barbosa
A leitura não é uma ação natural, precisamos ser ensinados a ler para ter acesso ao texto (HÉBRARD, 2011). Mas, uma vez aprendida, a leitura se torna um lugar de possibilidades infinitas. Especialmente nos dias de hoje, quando a circulação de livros é mais fluida e permite que mais pessoas tenham acesso à leitura e aos livros que eram antes considerados territórios dominados pelos eruditos.
Queerbating: eles querem seu dinheiro, não quem você é
Por Victoria Silva Rodrigues
É inegável a má interpretação, processos de estereotipagem e marginalizações de determinadas parcelas da sociedade nas representações midiáticas e em diversos produtos culturais. Filmes, séries, programas de televisão e rádio foram responsáveis por reforçarem preconceitos que até hoje estimulam a constante repulsa a certos grupos, afastando-os de sua devida visibilidade e de seus direitos. Logo, a mídia pode extrapolar sua missão de entreter e pode, também, buscar remediar injustiças sofridas por esses sujeitos através de conteúdos cada vez mais inclusivos. Porém, esta realidade ainda permanece longe de ser alcançada.
Utopia no fim do homem soviético
Por Ercio Sena e José Milton Santos
Os pesquisadores Ercio Sena e José Milton Santos publicaram o artigo Utopia no fim do homem soviético na revista Intexto, da UFRGS. A proposta deste estudo é de uma análise da utopia na obra O fim do homem soviético, da escritora e jornalista Svetlana Aleksiévich. Escrito a partir de relatos e depoimentos de pessoas comuns, o trabalho da autora é analisado por meio de falas cotidianas que abordam o fim do socialismo na União Soviética. A autora busca a percepção da grande narrativa sobre a construção socialista na visão das pessoas ordinárias, afetadas diretamente por esse período.
Como a cultura das playlists interfere no processo de produção musical
Por Rafael Mafra
Embaralhar músicas de artistas diferentes em uma playlist não é algo novo. O rádio faz isso desde seus primórdios, alternando uma música do Led Zeppelin com uma do Queen, uma do Michael Jackson com uma da Madonna, uma do Baco Exu do Blues com uma do Djonga, e assim por diante. Um Frankestein diferente a cada era musical. Contudo, a partir de um menor consumo do rádio por parte da juventude, são as plataformas de música por streaming – tecnologia multimídia através da transferência de dados pela Internet – que se tornam o meio privilegiado de consumo de músicas por lista.
Suspiria: como um remake feito quarenta anos depois acompanhou a emancipação feminina
Por Victoria Silva Rodrigues
Em 2018, o diretor italiano Luca Guadagnino, autor do aclamado Me Chame Pelo Seu Nome (2017), dividiu opiniões sobre seu remake do famoso Suspiria de 77. Ovacionado por alguns, odiado por outros, o próprio Argento, em entrevista, posicionou-se: “traiu o espírito do original”, moderando em seguida e pontuando o produto como “refinado”. É inegável que a obra de Guadagnino sequer se aproxima da lisergia visual construída por Dario, entretanto, alguns aspectos notáveis explicitam o poder de uma história múltipla que acompanha o amadurecimento de uma geração e da sociedade em geral.
Ficção científica por mulheres: Faculdade de Letras da UFMG promove seminário sobre o gênero literário
O ano de 2018 marca o bicentenário de uma das obras mais aclamadas e reconhecidas da literatura mundial: Frankenstein, escrito pela inglesa Mary Shelley. A obra, considerada por muitos berço da ficção científica, foi o pontapé para a criação do seminário De Shelley a Atwood: Ficção Científica por Mulheres, que ocorreu na Faculdade de Letras (FALE) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), no dia 6 de novembro. O evento foi organizado pelo Núcleo de Utopismos e Ficção Científica e, nessa primeira jornada, a palestra de abertura foi articulada pelo professor Julio Jeha.
Crítica de mídia e estigmas sociais: entre reconhecimento e resistência
Por Gabriela Barbosa
Em função das atividades do VII Seminário Mídia e Narrativa, semana passada recebemos Rosana de Lima Soares — professora da ECA-USP, coordenadora e pesquisadora do grupo de estudos MidiAto — para conversar com os alunos do mestrado e demais interessados sobre crítica da mídia e reconhecimento.
O cotidiano nos quadrinhos documentais
Por Douglas Fernandes e Henrique Perini
A noção de quadrinhos documentais, segundo o professor da UFJF, Felipe Muanis, propõe a articulação entre a forma cultural da HQ, comumente associada ao entretenimento, e a narrativa de não ficção. O termo “serviria para designar um gênero mais amplo, um guarda-chuva, contendo outras abordagens como a jornalística, a biográfica e a do relato de viagem”, assinala. Muanis esteve em setembro, na Faculdade de Comunicação e Artes, para dar uma palestra sobre o tema a convite do CCM.
Memória e persistência dos golpes: as revistas brasileiras na análise de Frederico Tavares
Por Juliana Gusman.
A relação de Frederico Tavares com revistas começou, segundo ele, na infância. Seu interesse extrapolou a gaveta na qual guardava “décadas em papel couché” debaixo da cama para se transformar em um persistente objeto de estudo, foco do trabalho do professor do departamento de Comunicação Social da Universidade Federal de Ouro Preto há onze anos. Ao longo do tempo, no entanto, o apreço passou a conviver com certa desconfiança, sentimento profícuo para a perspectiva crítica.
Um copo de água e um cochilo à tarde
Por Carolina Cassese.
“Quando vocês pediram pra gente escrever alguma coisa da nossa vida, eu achei que não tinha nada pra contar. E até agora eu não sei se eu tenho. Mas depois de um tempo, eu fui tomando gosto de pensar nas coisas que me aconteceram. Comecei a pensar em tudo que eu tinha visto, nas cidades que eu conheci e em todo mundo que eu encontrei pelo caminho. E comecei a pensar muito na Ana. E fiquei pensando que, de tudo que eu vivi, essa história é a que eu mais ia gostar de escrever”.
Vamo comê? A política antropofágica de Adriana
Por Caíque Pinheiro
Adriana Calcanhotto está de volta ao país. Depois de um tempo em alguns lugares da Europa, como Portugal, onde ensinou sobre poesia brasileira na Universidade de Coimbra, ela traz um espetáculo repleto de intertextualidades, com poderosas canções inéditas e releituras. A Mulher do Pau Brasil começou sua turnê em Belo Horizonte, na noite da sexta-feira, 10 de Agosto, em um Palácio das Artes inteiramente ocupado pelo público. Sua apresentação teve uma bela parte introdutória, um núcleo muito significativo e “encerramentos” dignos de nota.
A descoberta de uma anatomia
Por Fábio de Carvalho
Me chame pelo seu nome, que eu te chamarei pelo meu – troca de afetividades, transcorporalidade. Eu em você, você em mim. O descobrimento de uma dada sexualidade é processual, não há possibilidade instantânea para tal conhecimento. É necessário tocar e ser tocado, sentir e fazer sentir. Esse processo não começa necessariamente pelos rituais programados de uma sociedade heteronormativa, mas pela singularidade de cada experiência. É através da captura de certa singularidade que “Me chame pelo seu nome” (2017), dirigido por Luca Guadagnino, revela sua pertinência ao espectador.
Um hotel às margens do capitalismo
Por José Victor Fantoni
“Projeto Flórida” é o sexto filme do diretor Sean Baker, que, em 2015, alcançou notoriedade com “Tangerine”, narrativa sobre o cotidiano de duas mulheres trans, colocadas à margem da sociedade, lutando pela sobrevivência no duro mundo da prostituição. “Tangerine” e “Projeto Flórida” se destacam pela capacidade de criação e imaginação, potência crítica e pelo baixo orçamento – ambas as filmagens foram feitas em um estilo seco, sendo a primeira integralmente por câmara de celular.
Refletindo e desvendando a narrativa na cultura digital com Vera Follain
Por Gabriela Barbosa
Para refletir e enriquecer o debate sobre narrativa e cultura contemporânea, o grupo de pesquisa Mídia e Narrativa recebeu, nos dias 17 e 18 de maio, na PUC Minas, campus Coração Eucarístico, a professora doutora Vera Lúcia Follain de Figueiredo da PUC Rio, que atua no Programa de Pós-Graduação em Comunicação e também no Programa de Pós-Graduação em Literatura, Cultura e Contemporaneidade, do Departamento de Letras da mesma instituição.
A reflexividade dos fios expostos: contra-hegemonia no documentário Laerte-se
Por Juliana Gusman
Embora tímida, Laerte Coutinho é uma figura midiática intensamente explorada. Para além de seu prestígio profissional, sua transgeneridade lhe rendeu reportagens, capas de revistas e entrevistas em diversos programas de televisão. Em 2017, tornou-se alvo da câmera de Eliane Brum e Lygia Barbosa da Silva, diretoras e roteiristas do documentário que transforma seu nome em verbo. “Laerte-se” retrata, ineditamente, aspectos da vida da celebrada cartunista, mulher trans que viveu 57 anos como homem. No país que mais mata transexuais, transgêneros e travestis no mundo, Laerte se coloca como notável ativista da causa e acreditamos que a maneira como sua militância artística, corporal e política é representada neste filme pode conflagrar importantes discussões sobre abjeção, humanização, diferença e, claro, gênero.
Ambiguidades do culturalismo conservador em “Pega Pega”
Por Ester Caroline Rodrigues Pinheiro
A telenovela “Pega Pega”, exibida pela Rede Globo entre 2017 e 2018, teve sua trama inspirada pelo momento político em que o Brasil se encontrava, em que vários casos de corrupção foram publicizados, com a prisão de políticos e empresários. O próprio título da novela: “Pega Pega” remete à ideia de ‘pegar’ os que estariam fora da lei, o que é confirmado no decorrer na trama, que expõe, em sua narrativa, a corrupção de forma generalizada. “Pega Pega” também debateu a idealização do exterior e a desvalorização do Brasil, junto com o pensamento segregacionista da elite e da classe média em relação à chamada classe C.
Distopia e opressão de gênero: “The Handmaid’s Tale”
Por Gabriela Barbosa e Juliana Gusman
Baseada no livro homônimo da canadense Margaret Atwood, romance distópico publicado em 1985, a série “The Handmaid’s Tale” estreou em 2017, no serviço de streaming Hulu. Aclamada pela crítica, a produção já ganhou vários prêmios: oito prêmios Emmy, em 2017, e dois Golden Globes, em 2018. O mundo de “The Handmaid’s Tale” se passa em um futuro próximo quando uma instituição totalitária toma posse do governo dos EUA e institui uma sociedade dividida em “castas” de acordo com, entre outros aspectos, gênero e estamento. A série foi discutida em três sessões na PUC Minas, promovidas pelo grupo de pesquisa Mídia e Narrativa e o Centro de Crítica da Mídia, com comentários das mestrandas Gabriela Barbosa e Juliana Gusman, do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social.
Nos dois textos a seguir, as mestrandas discorrem analítica e criticamente sobre a série, abordando questões acerca das representações de gênero e da distopia na literatura e no audiovisual.
Jornalismo e o trabalho de tradução da experiência de ocupação urbana
Por Míriam Santini de Abreu e Gislene Silva
O VI Seminário Mídia e Narrativa, com o tema Emergências: novas realidades e as mídias, pautou-se pela constatação de que as mídias têm, historicamente, apagado sujeitos e espaços sociais. Outras narrativas, tanto à margem como em articulação com os meios de comunicação estabelecidos, vêm valorizando vozes até então silenciadas. Entre elas estão as mídias que produzem jornalismo contra-hegemônico, que tem potencial para fazer o trabalho de tradução das experiências sociais que se contrapõem aos modelos hegemônicos ditados pelo capitalismo global, na perspectiva teórica de Boaventura de Sousa Santos.
Jornalismo alternativo brasileiro: a produção da notícia como iniciativa em economia solidária
Por Elisangela Colodeti
Este ensaio trata do papel do jornalismo contra hegemônico brasileiro, no atual contexto de avanço das políticas neoliberais. Num país onde se vive uma democracia de baixa intensidade e pouco participativa, no qual a distância entre representantes e representados cresce na mesma medida em que o ideal capitalista se edifica enquanto concepção social preponderante, buscaremos entender como o jornalismo alternativo, enquanto parte do campo, se coloca enquanto peça-chave de um conjunto de propostas e práticas de resistência e mudança paradigmática.
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Eu não gosto de Black Mirror
Por Gloria Gomide
Não há como negar que as séries são o melhor formato ficcional adaptado à televisão ‒ difusão regular e pacto com o espectador visto que sua narrativa cumpre a promessa pragmática de regresso. Como nos antigos folhetins do século XIX, vê-se, portanto que o seriado é sempre composto de uma mesma fórmula. Se no feuilleton original, as histórias ocupavam os rodapés periodicamente, no seriado televisivo as aventuras se desenvolvem sempre no mesmo dia, mesmo horário, com temas atraentes ao público.
O machismo introjetado na poesia: formas e conteúdos em O Filme da Minha Vida
Por Nanda Rossi
O “Filme Da Minha Vida”, lançado em agosto deste ano, é o terceiro longa de direção de Selton Mello. Baseado no livro “Um Pai de Cinema”, do chileno Antonio Skármeta, o filme conta uma história ambientada nas Serras Gaúchas nos anos cinquenta. Os pontos a serem discutidos passam, aqui, por três eixos: a forma, a estrutura (como parte da própria forma), e a temática. A forma e a estrutura, elementos principais do filme, sustentam e fazem do longa o que ele primeiramente é: uma beleza dotada de grande dose de poesia. Mas que não apagam, afinal, a problemática no conteúdo — a maneira como a temática foi conduzida e principalmente concluída: a estereotipização das personagens femininas e o machismo de um pai vangloriado que acaba por ser tratado de forma leviana.
HOMOSSEXUALIDADE NO CINEMA: REALIDADES EM CONFLITO
Por Roberto Barcelos
Pensar sobre cinema é analisar como representações influenciam espectadores e formas de significar o mundo. Em espaços alternativos às produções realizadas pelo audiovisual televisivo, assuntos considerados tabus para muitos são tratados com uma visão crítica e delicada por diretores e roteiristas. Logo, o gay no cinema e suas diversas facetas podem ser enxergados como um ato político de representatividade.
Fritz Lang e a ideologia: a construção do contraditório entre o cinema e a história
Por Pedro Vaz Perez
Não são muitos os diálogos reservados por Jean-Luc Godard a Fritz Lang em O Desprezo (1963). Mas, naqueles momentos em que ouvimos o personagem-ator-diretor, temos a justa medida de um grande homem que enfrentou o fascismo na Alemanha para cair nas mãos tiranas do produtor hollywoodiano. “Anos atrás, uns anos horríveis atrás, os hitlerianos diziam “revólver”, em vez de “talão de cheques”, ironiza Lang ao responder à provocação do capitalista americano Jeremy Prokosch: “quando escuto a palavra cultura, eu puxo meu talão de cheques”.
Eu não sou seu negro: o racismo daqui e o racismo de lá
Por Pablo Moreno Fernandes Viana
O Oscar 2017 foi marcado por um momento de transição na Academia de Artes e Ciências Cinematográficas dos Estados Unidos. Desde as críticas por conta da ausência de representatividade negra nos filmes indicados à premiação em 2016, muito se discutiu a respeito da temática. Isso refletiu nos indicados de 2017: pela primeira vez na história, vários atores e atrizes negros concorreram em diversas categorias. Filmes com temáticas direcionadas aos negros disputaram estatuetas, diretores negros foram indicados, além de haver representantes também em diversas categorias técnicas. Um grande passo rumo a uma maior inclusão e representatividade na principal premiação do cinema comercial no mundo.
A representação do outro em Deus e o Diabo na Terra do Sol
Por Roberto Barcelos
A promessa de o mar virar sertão e o sertão virar mar é um ponto de esperança na narrativa do filme “Deus e o Diabo na Terra do Sol” (1964). Dirigido e roteirizado pelo cineasta Glauber Rocha com a colaboração do documentarista Walter Lima Jr., o longa-metragem faz valer ao nome o diretor ao lado de outras obras dele, como “Barravento” (1962) e “Terra em Transe” (1967). No filme, encontramos o posicionamento político do diretor como um autor, dono de sua obra e de um pensamento forte de revolução. Todavia, sua temática socialista e a luta do proletariado contra o sistema que o oprime é compreendido, infelizmente, apenas por aqueles que estudam a obra do Glauber Rocha e a sua importância para o cinema nacional.
Crítica de Mídia e Arte Urbana: manifestações culturais e visibilidades periféricas
Por Rosana de Lima Soares
Na oficina “Crítica de Mídia e Arte Urbana”, buscamos apontar a presença da arte urbana na cidade de São Paulo (SP) e as diferentes narrativas presentes nas mídias a respeito dessa questão, tendo como objetivo analisá-las em perspectiva crítica a partir de aportes dos estudos de discurso e dos estudos culturais. Os objetivos foram: a) compreender a função da crítica de mídia; b) observar diversas narrativas midiáticas em torno de uma mesma questão, enfatizando os estigmas, estereótipos e preconceitos nelas presentes; c) realizar a análise crítica de narrativas midiáticas sobre a questão do grafite na cidade de São Paulo.
Whitewashing: a herança de um passado xenófobo na indústria do cinema
Por Roberto Barcelos
Apesar das inúmeras contribuições do cinema hollywoodiano para a indústria audiovisual, existem certas lógicas de seu sistema que influenciam a construção social e a marginalização e estereotipização de certos grupos sociais em diversos níveis. O whitewashing é uma forma de violência simbólica que elimina a representação de etnias não caucasianas em filmes, séries, seriados e novelas, criando uma realidade narrativa composta por personagens de aparências homogêneas de acordo com o padrão de beleza vendido por essa indústria. Essa prática recorrente, ainda, elimina a representatividade e naturaliza preconceitos.
Feminino de peitos
Por Juliana Gusman
Lévi-Strauss, citado por Rodrigues (1979) propõe abordar a sociedade a partir da perspectiva de que o comportamento humano e as relações sociais constituem uma linguagem. Para o autor, o espírito humano opera em uma estruturação inconsciente que ordena relações entre sujeitos e o mundo. Organizar, para Lévi-Strauss, significa atribuir e reconhecer sentidos disponíveis no cotidiano. Tratam-se de normas que estipulam, instituem e convencionam valores e significações que possibilitam a comunicação entre sujeitos e grupos. A sociedade é encarada como uma construção de pensamentos individuais, coletivos e compartilhados. A cultura seria, portanto, uma espécie de mapa que orienta comportamentos na vida social.
Black Mirror: Cinismo e Crítica da Mídia em “15 milhões de méritos”
Por Julia Lery
Seguindo a tradição das distopias, recentemente resgatadas pelas séries televisivas, episódio “15 Milhões de Méritos” (Euros Lyn, 2011), de Black Mirror, aborda um futuro opressor exagerado, mas incrivelmente próximo de realidades presentes e cotidianas. É exatamente por conta dessa identificação que sentimos ao ver a série que o jargão e a hashtag “isso é tão Black Mirror” tornam-se parte das conversas cotidianas e postagens nas redes sociais.
Diante da dor dos outros: a cobertura do sofrimento humano em ocorrências de terremotos no mundo
Por Eliziane Silva Oliveira
Na madrugada do dia 24 de agosto de 2016 – ainda noite do dia 23 no Brasil – um terremoto de 6.2 graus na Escala Richter atingiu a região central da Itália, deixando cerca de 300 mortos, dezenas de feridos e centenas de pessoas desabrigadas. Abalos sísmicos na Itália são relativamente frequentes. Entre as explicações apresentadas por cientistas para a intensa atividade sísmica na região estão o grande atrito entre as placas tectônicas da Eurásia e da África e também a existência de um sistema de falhas ao longo de toda a extensão da Cordilheira dos Apeninos.
A fala simples na reportagem
Por Caíque Pinheiro
No ultimo ano, a Academia Sueca fez juntar-se a nomes como Alice Munro, Doris Lessing, Mário Vargas Llosa e J.M. Coetzee a quase desconhecida Svetlana Aleksiévitch – uma senhora nascida ucraniana e criada na Bielorrúsia. Em comum, esses autores têm o Nobel de Literatura, mas, à diferença de quase todos, Svetlana o recebeu por sua obra não ficcional.
O cinema de Leon Hirszman como investigação da realidade social
Por Pedro Vaz Perez
Um dos principais nomes do cinema novo no Brasil, Leon Hirszman dedicou sua carreira a filmar injustiças e opressões identificadas no tecido social do país, aprofundando, através do exemplo brasileiro, nas desigualdades do capitalismo. Exprimiu a dupla proposta do movimento cinemanovista – o exercício político e a experimentação estética –, ao longo de seus 12 curtas-metragens e oito longas-metragens, entre ficções e documentários. Registrou e ficcionalizou as relações de trabalho e de classe, as condições de vida e a expressão cultural da parcela batalhadora e sem privilégios da sociedade brasileira, através de uma linguagem seca e direta, buscando a comunicação sem abrir mão do apuro artístico. Em sua estética, informada pelo realismo crítico e pelas lições da montagem soviética, deu-nos a perceber essas realidades a partir de rígidas composições pictóricas e uma precisa direção de olhares, gestos, palavras e movimentos, em momentos combinados a um exercício documental de observação.
O jornalismo reflexivo de Janet Malcom
Por Bruno Costa
A escrita de Janet Malcolm trabalha no limite da não ficção. Criativa, original, cuidadosa com as palavras, dotada de voz marcada e marcante, a jornalista possui amplo repertório cultural e capacidade de engajar o leitor. É quase surpreendente que Malcolm não tenha se tornado uma ficcionista. E por que ela não se tornou?
Blog promove leitura crítica sobre imagens do cotidiano
Por Juliana Gusman
O blog Reading the Pictures propõe uma reflexão crítica sobre imagens que circulam cotidianamente na mídia. Em uma sociedade cada vez mais visual, busca-se compreender níveis de significado, histórias que suscitam produções imagéticas e as mediações que as costuram no tecido social. A plataforma também publica e analisa trabalhos de fotojornalismo originais.
A Não-História do Cinema Nacional