A mídia e seu papel na representação da mulher atleta

Por Gabriela Freitas.

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 Megan Rapinoe durante a chegada da Seleção Americana em Nova York (Eduardo Munoz/Reuters)

A sociedade em que vivemos é produzida em torno de significações que moldam a forma com que os indivíduos enxergam o mundo a sua volta. As práticas midiáticas, elementos fundamentais e ativos da sociedade, produzem certas representações que propagam determinadas formas de pensamento. Para Stuart Hall (2016), representar significa, justamente, “utilizar a linguagem para, inteligivelmente, expressar algo sobre o mundo ou representá-lo para outras pessoas” (HALL, 2016, p.31). 

Em um estudo sobre a forma com que a jogadora de futebol dos Estados Unidos Megan Rapinoe foi representada por veículos da mídia brasileira durante o ano de 2019, fica perceptível, por exemplo, a forma como a mídia costuma enquadrar atletas mulheres. A partir desse recorte, é possível contextualizar o lugar que a mulher ocupa na sociedade e no esporte ao longo dos anos, apresentando a visão social e midiática da figura feminina. Podemos problematizar o caminho que o futebol feminino e a própria editoria de jornalismo esportivo percorreram para ter mais visibilidade nos meios de comunicação. Partindo da ideia de que, ao abordar a representação de mulheres atletas, o jornalismo é fator fundamental para a disseminação de pré-conceitos e estereótipos, a mídia tem papel definidor de como, através da linguagem, a mulher atleta será vista. 

Se a presença das mulheres nos ambientes esportivos como espectadoras já causava controvérsias, como esportistas, então, era, durante muitos anos, impensável. No Brasil, o decreto-lei 3.199, sancionado em de 14 de abril de 1941, proibia mulheres de jogar futebol, alegando que era incompatível com sua natureza. 

Todo esse distanciamento promovido por uma estrutura social que reverbera atitudes patriarcais e machistas, que excluem as mulheres da participação na sociedade, foi a razão pela qual as mulheres atletas e os esportes praticados por mulheres pouco foram incluídos nas páginas esportivas nos meios de comunicação. 

Por outro lado, quando essa inclusão ocorre ela é regada de representações e estereótipos. As coberturas midiáticas do futebol feminino seguem certos padrões, que aparecem com frequência em matérias a respeito das jogadoras ou da modalidade. Entre as principais estratégias comunicativas, observamos, por exemplo, comparações com o futebol ou atletas masculinos; as menções sobre a aparência das profissionais; e discussões sobre suas sexualidades. Estes são apenas alguns dos tópicos que aparecem com recorrência nas notícias relacionadas às atletas femininas. 

As discussões feitas no estudo sobre Rapinoe, especificamente, passam todos esses pontos destacados acima, mas também provocam questionamentos sobre como as representações podem transitar entre negativas e positivas, dependendo do que está sendo representado. Por exemplo, Megan Rapinoe se tornou uma referência no esporte na luta pela igualdade de gêneros e direitos LGBTQI+, e as matérias que saem sobre ela geralmente abordam essa temática. Dessa forma a jogadora passa a ser um símbolo dessa reinvindicação, que não tem cunho negativo. Em contrapartida, a mídia aborda com muita frequência a aparência das mulheres atletas, destacando os aspectos físicos delas nos textos ou através de imagens, às vezes destacando mais a aparência do que o real motivo da matéria, propagando estereótipos do corpo feminino. 

A mídia, em verdade, parece estar em um momento de transição. Por mais que ainda existam diferentes representações quando se fala da mulher atleta, nem sempre positivas, o fato de que as conquistas das jogadoras estarem sendo motivo de notícia aponta um avanço na visibilidade da modalidade e da aceitação da sociedade no geral. 

Pensando hoje em um mundo cada vez mais globalizado, é interessante notar a dependência das grandes mídias. Tomando como base esse estudo, a visão de avanço tem como ponto de referência os grandes grupos, os grandes sites de comunicação. Existem hoje milhares veículos independentes na cobertura dos esportes praticados por mulheres, do futebol feminino, que não propagam estereótipos, muito pelo contrário; eles produzem um conteúdo que lidera o caminho para as grandes mídias.  

Referências: 

HALL, Stuart. Cultura e Representação. Rio de Janeiro: Editora PUC-Rio: Apicuri, 2016.

Gabriela Freitas é jornalista, formada na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. 

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