A potência dos encontros no cinema de Ritesh Batra

Por Gustavo Fernandes.

O cinema indiano ganhou repercussão internacional pelos grandes lançamentos da Bollywood. As obras melodramáticas de contornos épicos e ostensivos fascinam o olhar com a explosão de cores comum ao gênero, além de contarem, comumente, com números musicais grandiosos e extravagantes. Dentre os maiores sucessos da indústria, destacam-se os recentes e bem sucedidos Devdas (2002), Como Estrelas na Terra (2007) e Mimi (2021). Na contramão dos grandes lançamentos de Bollywood, alguns cineastas indianos destacam-se por narrativas que prezam pela sutileza – e assim como há espaço para o melodrama espalhafatoso, também há espaço para dramas mais comedidos e introspectivos.

Iniciando sua jornada audiovisual com a confecção de curtas-metragens, Ritesh Batra estreou sua carreira de longas com A Lancheira (2013), filme estrelado por Irrfan Khan e Nimrat Kaur. Inicialmente idealizado por Batra como um documentário sobre os entregadores de Mumbai, o filme acabou se tornando uma ficção depois que o cineasta passou uma semana com os trabalhadores ouvindo suas histórias atentamente. O filme foge das convenções dos épicos de Bollywood ao buscar uma abordagem romântica comedida, calcada no realismo intimista, evitando o caráter grandiosidado da maioria dos lançamentos locais.

A Lancheira conta a história de Ila, que, na tentativa de melhorar seu casamento, prepara uma marmita para ser entregue no trabalho de seu marido. No entanto, a refeição vai para o endereço errado e acaba nas mãos de Isaajan, um homem solitário e infeliz. A partir de então, Ila e Isaajan começam a trocar mensagens, iniciando uma amizade inesperada que culmina em possibilidades românticas até então inimaginadas por ambos. Por meio de uma direção cinematográfica alicerçada no uso constante de câmera na mão, remetendo à artesanalidade documental, Batra confecciona sua narrativa de modo gracioso e delicado, construindo a relação dos personagens com paciência e sutileza – termos dificilmente utilizados para descrever as obras de renome da Bollywood.

Após seu lançamento no Festival de Cannes de 2013, onde também foi premiado, A Lancheira percorreu diversas mostras e festivais de cinema ao redor do mundo, sendo indicado a mais de 33 prêmios e levando vários deles, como o prêmio de Melhor Primeiro Longa-metragem no Toronto Film Critics Association Awards em 2014. Os dois filmes seguintes de Batra foram realizados fora da India: O Sentido do Fim (2017) e Nossas Noites (2018). As duas obras mantêm o rigor de Batra no que diz respeito à delicadeza na construção fílmica, tratando de temáticas comuns entre si, sendo a principal delas o enfrentamento de problemas da juventude na terceira idade.

Em seu quarto longa-metragem, Batra retornou à India e, consequentemente, ao estilo que o consagrou como diretor de longas-metragens de romance em 2014. Em Retrato do Amor (2019), Batra disseca uma relação amorosa em construção nos seus primórdios. Conforme desenvolve seus protagonistas, utiliza os anseios de seus personagens para aproximá-los um do outro e do próprio público. O filme narra a história de um fotógrafo de rua de Mumbai que, pressionado pela avó a se casar, convence uma tímida desconhecida a fingir que é a sua noiva durante uma visita da família. Apesar das grandes diferenças culturais que os separam, os dois desenvolvem uma ligação surpreendente que os leva a questionar as suas formas de olhar o mundo.

Com seu cinema sutil e no intimista, Ritesh Batra consagrou sua obra dentro e fora da India. Provando que é possível emocionar em tom menor, Batra dialoga sobre temas comuns a pessoas de diversas localidades. Sua obra transcende fronteiras, evidenciando que, em muitos casos, desassociar-se do cinema vigente pode ser um caminho para o encontro de sua própria autoria.

Um comentário em “A potência dos encontros no cinema de Ritesh Batra

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *