Nouvelle-Vague, Godard e Weekend

Por Alysson Mussolin

No fim dos anos 1950 e início dos anos 1960, jovens cinéfilos e críticos se reuniram para restabelecer o conceito de cinema de autor, que despontou, inicialmente, na França dos anos 1930. A partir dessa retomada, iniciou-se um novo movimento no cinema francês, a Nouvelle-Vague.
A Nouvelle-Vague foi um movimento artístico e contestatório. Sem grandes orçamentos, produzia-se filmes inspirados pelo espírito “rebelde” de seus representantes, que transgrediam várias regras cinematográficas fielmente seguidas pelo cinema comercial até então.
Obras como Hiroshima meu amor (1959) de Alain Resnais, Os Incompreendidos (1959) e Jules et Jim (1962) de François Truffaut e também Acossado (1960) e O Desprezo (1963) de Jean-Luc Godard, marcaram o início do movimento.

O cineasta e crítico de cinema franco-suíço Jean-Luc Godard, particularmente, ganhou notável destaque por ser um dos pioneiros da Nouvelle-Vague.
As obras cinematográficas de Godard desafiaram as convenções estabelecidas pela Hollywood tradicional. Ele é frequentemente considerado o cineasta francês mais radical das décadas de 1960 e 1970. Em suas obras, sempre aborda, criticamente, as convenções cinematográficas, filosóficas e políticas. Pode-se afirmar que ele se tornou um dos diretores mais influentes da Nouvelle-Vague.
Seus principais filmes são: Acossado (1960); Uma Mulher é Uma Mulher (1961); Viver a Vida (1962); O Desprezo (1963), Banda à Parte (1964); Alphaville (1965); O Demônio das Onze Horas (1965); Masculino, Feminino (1966); Adeus à Linguagem (2014); Imagem e Palavra (2018). Muitos dos cineastas notáveis foram influenciados por Godard, como Martin Scorsese, Quentin Tarantino, Brian De Palma, Wim Wenders, Bernardo Bertolucci e Pier Paolo Pasolini. Ao subverter regras, o diretor abria novas possibilidades de trabalho em relação ao tratamento do roteiro, às dinâmicas da direção e às escolhas nos processos de montagem. Em seu primeiro longa-metragem, Acossado (1960), Jean-Luc Godard rompeu, por exemplo, com a decupagem clássica ao criar um filme não-linear e bastante fragmentado, propondo ritmo e estilo próprios.

Em 1967, Godard lançou Weekend, mais um de seus “filmes-manifesto” contra a sociedade burguesa e o cinema da época. Nele, um casal faz uma viagem durante o fim de semana para o interior da França em busca de uma herança familiar. Porém, no caminho, se deparam com um grande engarrafamento, agravado por acidentes de trânsito, brigas e até cenas de canibalismo. O longa “anarco-expressionista” apresenta alguns artifícios comumente utilizados pelo diretor em outras obras, como a desdramatização e o uso de personagens descolados da realidade, antipáticos e inconsequentes.

“Que filme podre, tudo o que conhecemos é gente doida”.

O virtuosismo técnico do diretor impressiona com longuíssimos e bem coreografados planos-sequência, que se somam ao domínio da montagem. Não é à toa que alguns consideram esse filme o ápice da carreira de Godard.

Transitando entre referências literárias, como Lewis Carroll, e referências à cultura pop da época, como o Rock and Roll, Godard debocha dos rumos impostos pela sociedade capitalista. O desprezo pela ordem vigente é explícito na sequência em que uma personagem, ao ver um corpo acidentado na estrada, interessa-se pelas calças de marca da vítima e as rouba. O mesmo acontece quando essa mesma figura, logo após sofrer um acidente grave e sair do carro em chamas, teme, acima de tudo, que sua carteira Hermès tenha sido queimada pelas chamas que consumiam o veículo. A violência, o abuso, as brigas e o caos se tornam algo comum, ordinário.

Com isso, Godard cria uma comédia cínica, complexa, verborrágica e caótica, trazendo questionamentos políticos e filosóficos com sua visão radical. Esse radicalismo atravessa todo o filme (e toda a filmografia do diretor) escancarando a decadência humana, capaz de se rebaixar à barbárie. Godard encerra o filme com um texto em caixa alta anunciando o fim do cinema.

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