O Ultimato: Ou Casa ou Vaza escancara o imediatismo dos relacionamentos 

O Ultimato surpreende com troca-troca de casais, ciúme e barraco na Netflix  · Notícias da TV
Foto: divulgação/Netflix: Ultimato: Ou Casa ou Vaza.

Por Agnes Lara

Depois do sucesso de Casamento às Cegas, Nick e Vanessa Lachey estão à frente de mais um reality de relacionamentos. Se no primeiro a proposta é provar a possibilidade de se apaixonar e ir ao altar sem ao menos ver o pretendente, em O Ultimato: Ou Casa Ou Vaza a premissa é ainda mais bizarra. Seis casais estão em um impasse: uma das partes está decidida a subir ao altar e a outra está em dúvida. Para resolver o problema – de maneira muito sensata – um deles submete o seu parceiro a participar de uma troca: uma troca de casais transmitida pela Netflix. Durante três semanas, eles passam por um casamento experimental com outra pessoa. Ao final, cada participante decide se quer casar com o parceiro original, ter um relacionamento com o par que acabou de conhecer ou sair do programa sozinho.  

Quando você acha que todos os temas possíveis para reality shows já foram produzidos, chega a Netflix e surpreende a todos mais uma vez. O mais recente programa de relacionamento é a nova aposta da plataforma de streaming. O sucesso de reality shows de relacionamento não é novidade. Ainda mais se a abordagem é casamento, a proposta parece ser ainda mais intrigante. Levando em conta as incontáveis temporadas e spin offs de 90 dias para casar, além das duas temporadas americanas e a versão brasileira e japonesa de Casamento às Cegas, O Ultimato: Ou Casa ou Vaza tem tudo para despertar interesse dos amantes desse tipo de entretenimento.  

Quem está acostumado com o gênero, sabe que é a partir de pensamentos equivocados que os bons reality shows são produzidos. E o que não falta nessa série são equívocos. A começar pela própria dinâmica: ao final de uma semana, os participantes escolhem quem eles tiveram maior afinidade para passar três semanas juntos, em uma espécie de casamento experimental. Este experimento tem como objetivo mostrar se seu par original era de fato o certo ou se existe um match melhor. Mesmo correndo o risco de seu parceiro se apaixonar por outra pessoa, o importante aqui é sair com uma aliança no dedo. Aliás, a pergunta que não saiu da minha cabeça foi: como conseguiram encontrar 12 pessoas que aceitassem participar dessa bizarrice?  

Aqui, o casamento a todo momento parece ser tratado como uma fase obrigatória na vida. Isso fica claro em um dos depoimentos de April, uma das participantes, que chega a afirmar que quer sair do programa casada seja com o namorado ou não. É de se espantar que casais com poucos anos juntos estejam tão desesperados para o casamento sem nem terem chegado aos 30 anos. É incômodo e ao mesmo tempo interessante ver que alguns pares não têm absolutamente nada em comum e mesmo assim continuam juntos, seja por comodismo, carência ou apenas vontade de casar. Incômodo porque os participantes nem ao menos conseguem explicar o motivo de quererem se casar. Aquela ideia romântica de conhecer alguém interessante, que te admire e que te desperte a vontade de ter uma vida a dois não existe. Aqui, o desejo pelo casamento parte de um pensamento que as pessoas têm a obrigação de se casar. 

Um ponto preocupante é que apenas dois homens deram o ultimato em suas respectivas parceiras, sendo que um desses casais nem chega à fase do experimento. Por uma razão histórica, não é de se espantar que o desejo imediato pelo casamento esteja mais enraizado no imaginário feminino, enquanto os homens ainda têm aversão ao matrimônio. Por mais que isso esteja mudando a passos lentos, o programa faz questão de enfatizar essa disparidade entre homens e mulheres. É muito cafona ouvir de uma jovem de 20 e poucos anos que o seu maior sonho é ganhar um pedido de casamento de princesa e ainda dizer coisas do tipo: “ele precisa colocar um anel no meu dedo”. Além do imediatismo, O Ultimato reafirma outra tendência: o conservadorismo. E assim como em Casamento às Cegas, os produtores parecem não se importar com as lutas pelos direitos de pessoas trans, de igualdade e luta pelos direitos LGBTQIA + que estão mais em voga do que nunca e continuam mostrando apenas casais heteronormativos. Uma vergonha. Ainda mais para uma marca que se diz tão engajada em causas como essas, como a Netflix. 

Apesar de muitos problemas, a premissa do programa é tão absurda que nos deixa vidrados na televisão. Em O Ultimato: Ou Casa Ou Vaza, vemos muito constrangimento, ciúmes, lágrimas, novas afinidades e muito caos. Tudo aquilo que um bom reality show precisa ter. Para quem é fã de Casamento às Cegas vai se simpatizar com esse novo reality.  E se você quer maratonar logo, todos os 10 episódios já estão disponíveis na Netflix. Incluindo o episódio de reencontro com muita lavação de roupa suja e muitas reviravoltas.  

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *