The Celluloid Closet e a representatividade homossexual nas telas hollywoodianas

Por Luís Machado

Constantemente, filmes pretendem operar como um importante espelho da nossa sociedade, mesmo que muitas vezes distorcido. Neles, vemos os nossos sonhos e desejos emoldurados, frame a frame. Hollywood, em particular, sempre será uma máquina de mitos, que ilustra através de diferentes lentes como queremos e devemos ser vistos. No entanto, quando nossas imagens de referência são ofertadas por um cinema tão dominante e conservador quanto o hollywoodiano, muitos grupos sociais se veem erroneamente caracterizados.

É essa distorção que o documentário The Celluloid Closet (1996), da HBO, denuncia e analisa, ao mostrar diferentes representações homossexuais em produções cinematográficas. Baseada no livro de mesmo nome do historiador e ativista Vito Russo, a obra entrevista profissionais ligados a essa indústria, que comentam sobre suas próprias experiências pessoais na lida com personagens e casais LGBTQIA+.

Tal como o longa-metragem introduz, a homossexualidade raramente foi estampada nas telas de cinema. Porém, quando isso ocorria, sempre emergiam impressões rebaixadoras: de chacota, pena ou temor. Consequentemente, esses vieses influenciaram de modo considerável a visão que os heterossexuais têm daqueles que não são iguais a eles; para os homossexuais, eles proporcionaram somente migalhas de imagens, pouco representativas de suas experiências, apesar de não serem completamente ausentes de valor.

Profundamente afetados pela censura estadunidense, personagens homoafetivos apenas tiveram a chance de serem livremente abordados com o fim do Código Hays, um conjunto de regras morais aplicadas sobre os lançamentos dos estúdios cinematográficos, entre 1930 e 1980. Como resultado, eles se viram obrigatoriamente inseridos nas tramas de maneira subliminar e camuflada, a fim de passarem despercebidos pelos censores. 

Um dos estereótipos narrativos mais usuais é a vilanização de gays ou lésbicas ou a incorporação de trejeitos e atitudes que remetam à comunidade queer aos antagonistas de uma história. Enquanto o protagonista representa a normalidade e o padrão a ser seguido, o seu contraponto apresenta esse caráter subversivo, excessivamente vaidoso e afeminado, características vistas socialmente com desprezo. As animações da Disney, por exemplo, frequentemente se aproveitam do seu tom caricato para atribuir tais traços aos seus vilões 

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Por outro lado, mesmo que seus criadores pretendessem contar histórias genuínas e carregadas de sensibilidade sobre essas pessoas, essas narrativas encontravam lugar apenas nos subtextos dos filmes. Ao longo do tempo, homossexuais aprenderam, porém, a escavar nessas imagens algum significado, enxergando-se na tela por essas minúcias. 

Felizmente, houve uma mudança significativa de paradigma no decorrer das últimas décadas. Hoje em dia, tramas com temáticas LGBTQIA+, apesar de ainda lutarem pelo seu espaço, se concretizam na cultura popular com mais abundância. Como um espelho de uma sociedade mais conscientizada, personagens homoafetivos têm proposto audiovisualidades mais complexas para o público mais amplo. 

Se anteriormente essas figuras eram acometidas por fins trágicos e exageradamente pessimistas, na atualidade há uma gama de histórias com trajetórias diferentes. Há espaço para enredos dramáticos e cheios de reviravoltas pouco otimistas para as minorias, mas também se conquistou o direito de rir, de aventurar-se em lugares fantasiosos e principalmente, de se apaixonar sem medo. A série Heartstopper, da Netflix, é uma grande referência nesse sentido. Conta-se uma história simples e comum, mas verdadeiramente valorosa, a respeito da comunidade LGBTQIA+. dois jovens meninos, Charlie e Nick, se conhecem no ensino médio e se autodescobrem juntos num romance improvável, porém doce. Diversos críticos e espectadores pontuaram nas redes sociais o quão positivo e reconfortante é a mensagem do seriado. Afinal, todos nós, independentemente da sexualidade, merecemos clichês hollywoodianos.

Heartstopper | Site oficial da Netflix

Disponível em: https://mubi.com/pt/films/the-celluloid-closet

RUSSO, Vito. The celluloid closet: homosexuality in the movies. New Yokk: Harper and Row, 1987.

https://www.amelie-mag.com/2020/04/queer-coding-e-verdade-sobre-viloes.html

https://vejasp.abril.com.br/coluna/filmes-e-series/heartstopper-netflix/

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