Aspectos da crítica dos fãs em Star Wars: Os Últimos Jedi – Ciclo de Variações de Crítica da Mídia

Por Fábio Garcez.

No dia 8 de outubro, no Ciclo de Variações de Crítica da Mídia realizado pelo grupo de pesquisa Mídia e Narrativa da PUC Minas, aconteceu a mesa Crítica do Entretenimento, com o objetivo de propor debates sobre esse campo. Frequentemente, este é um terreno subestimado e desprestigiado, mas possui grande relevância na sociedade, uma vez que é central em nosso cotidiano.

Uma das palestras do evento, apresentada pela professora Carmem Borges, teve como tema Aspectos da crítica dos fãs em Star Wars: Os Últimos Jedi, buscando analisar o comportamento dessas comunidades e a forma como interagem com determinados produtos midiáticos, utilizando como estudo de caso os fãs de Star Wars e o penúltimo filme da última trilogia da saga.

Primeiramente, Carmem deixa clara uma característica central na definição de fãs: uma audiência conectada de forma afetiva ao produto. Por muito tempo, essa relação mais passional foi um motivo para se associar o fã a algo pejorativo, massificado, vazio, desconsiderando o potencial e a importância dessas pessoas. Hoje, entretanto, esse valor não só é reconhecido como é desejável tanto cultural quanto economicamente por aqueles por trás da produção do entretenimento.

Tal reconhecimento se dá ao perceber que os fãs integram esse sistema tanto quanto as obras, sendo intermediários populares entre elas e o restante do público, agregando valor a elas por meio das produções que realizam ao seu redor, interpretando, criticando, remixando e compartilhando. Além disso, é notável a influência que as comunidades (ou fandoms) e suas opiniões têm sobre decisões mercadológicas e criativas de estúdios como Disney e Lucasfilm, que modificam o direcionamento de tramas inteiras com base na sua recepção. 

Um exemplo disso é a introdução da personagem Rose (Kelly Marie Tran) em Os Últimos Jedi como um interesse amoroso para Finn (John Boyega). Após uma possível indicação de uma relação homoafetiva entre ele e o personagem Poe (Oscar Isaac) no filme anterior, houve uma reação mista da comunidade, o que levou os produtores a reformular sua trama. Porém, o envolvimento de Finn com Rose também não foi bem recebido – muitos comentários racistas foram direcionados à atriz de origem vietnamita – e a personagem foi praticamente ignorada no filme seguinte.

Foto: Divulgação/Disney

Esse caso, juntamente com a busca por uma certa diversidade entre os protagonistas da nova trilogia (uma mulher, Rey, interpretada por Daisy Ridley; um negro, Finn; e um latino, Poe), nos leva a um dos principais questionamentos levantados na palestra e na mesa como um todo: dar visibilidade a certas questões é o mesmo que realizar uma crítica? Nesse exemplo específico, tanto as produções dos fãs (em sua maioria) quanto os próprios filmes apenas sinalizam uma pauta de representatividade, sem se preocuparem em desenvolvê-la com muita profundidade. É preciso algo além disso ou o papel da ficção é justamente esse?

Foto: Divulgação/Disney

Outra relevante questão levantada foi se essa leitura crítica está de fato presente nos conteúdos produzidos pelos fãs. Em sua pesquisa, a professora Carmem observou que eles se mostram mais preocupados com outros aspectos da obra, como respeito ao cânone do universo da saga e caminhos tomados pelos personagens. Isso se relaciona diretamente à conexão emocional que essas pessoas possuem com os filmes, que dificulta o distanciamento para uma análise com parâmetros que se enquadram na crítica. O que leva um fã a produzir algo sobre uma obra não é necessariamente a vontade de desconstruí-la, mas sim o fascínio ou a frustração que ela causa nesse indivíduo cujo desejo é, acima de tudo, acrescentar significados a ela. 

Assim, o debate trazido pelo evento foi extremamente pertinente, ao tratar de um assunto que vem sendo cada vez mais presente tanto na produção quanto no consumo do entretenimento, que também tem se misturado bastante com a comunicação de modo geral. Além disso, a palestra estimulou uma visão questionadora sobre o papel do fã como parte integrante desse sistema e, portanto, sobre a nossa importância como espectadores, consumidores e emissores de opinião a respeito desses produtos midiáticos.

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