“Wish: O Poder dos Desejos” – um filme que deixa a desejar

POR: Isabela Prates

Em 2023, a gigante do audiovisual Disney, completou seu primeiro centenário. Como parte da comemoração desse marco, o filme “Wish: O Poder dos Desejos” foi lançado e chegou aos cinemas brasileiros em 4 de janeiro de 2024. Com duração de uma hora e meia, que parece se estender como se fossem duas horas, o filme destaca a capacidade universal de realizar sonhos, ecoando o emblemático slogan da Disney “Where dreams come true” (Onde sonhos se tornam realidade).

A narrativa do filme se passa no “Reino mágico de Rosas”, um local em que os habitantes entregam – literalmente, e em formato de esferas, – seus mais profundos desejos ao Rei Magnífico. Esse governante, promete cuidar desses “sonhos” e realizá-los num futuro próximo através do uso da magia. Mas, na realidade, ele é um vilão da história e se aproveita dessas pessoas, pois, elas, ao entregarem os desejos, se esquecem do seu propósito de vida e ficam “apaziguadas”. Ao descobrir isso, Asha, a protagonista da trama, se revolta e decide desejar para que todos os desejos do reino se realizem. Em especial, o desejo de seu avô, Sabino, que está completando 100 anos e desde sempre espera que seu desejo se realize, mesmo sem se lembrar dele. Assim, o longa nos conta que Sabino tem o sonho de inspirar as pessoas e deixar um legado para gerações futuras. Por isso, é possível deduzir que ele é a personificação da própria Disney, já que os dois tem a mesma idade e o mesmo propósito de existência. Apesar de ser uma jogada interessante, pode ser um erro, pois ao se personificar na trama, a Disney reduz a experiência do espectador a uma espécie “merchandising”, que, por mais que sutil, incomoda.

Ademais, referências e menções de personagens clássicos da empresa são feitas constantemente durante o filme, como o próprio grupo de amigos de Asha que homenageia os sete anões da Branca de Neve de forma discreta. São mencionados
também, outros protagonistas como Rei Artur e o Peter Pan. A presença dessas personagens que constituem o “legado Disney”, poderia ter sido algo divertido, mas acabou sendo muito mal explorado. A escolha dessas figuras pareceu arbitrária e desconexa com o restante da história. As personagens não acrescentam em absolutamente nada na trama. É como se elas só “estivessem lá”, uma homenagem que passa por cima da proposta de uma boa narrativa, ao desviar seu foco e não ser algo memorável ou especial para a maior parte do público.

Além disso, o filme apresenta esboços do Mickey Mouse e muitos animais falantes, que são elementos típicos dos filmes anteriores da Disney. Mas, esse tanto de informação foi exagerado. Para conseguir colocar tudo isso, a animação acabou
perdendo, novamente, tempo de desenvolvimento, deixando a narrativa confusa. Assim, a resolução de trama pareceu forçada e simples, como se tudo se resolvesse apenas por meio de uma música cantada no fim do longa. No entanto, o filme apresenta algumas características interessantes. Por exemplo, a inclusão de um vilão, o Rei Magnífico, é uma tentativa de retomar uma questão que a Disney vem enfrentando, a falta de vilões em seus filmes. Essa tradição da empresa de criar vilões e princesas, castelos e varinhas de condão, é resgatada no filme.

Outro ponto positivo foi a maior atenção dedicada às mulheres. Essa é uma tentativa de abordar a representação feminina de forma mais equilibrada. Sendo um acerto na personagem da rainha, por exemplo, mas falhando com Asha. A protagonista, que supostamente seria uma integrante da franquia de princesas da empresa, possui uma história fraca e esquecível, como o filme por inteiro. No entanto, o filme, em geral, deixa bastante a desejar, apesar de seu título, que sugere um desejo. Ao invés de criar uma história interessante e uma princesa memorável, o filme parece mais uma propaganda de longa duração ou um saudosismo da própria Disney perante a si. E isso não é suficiente para criar um bom filme.

De toda forma, esse foi o projeto de 100 anos da Disney. Era de se esperar muito mais. É nítido que os responsáveis enfrentaram um grande desafio: “Como honrar o centenário da empresa?”, mas, infelizmente, eles não encontraram a melhor forma. Com certeza, teriam formas mais interessantes, mais inteligentes de fazer isso acontecer. Por outro lado, é possível que as crianças tenham se divertido. Certamente, o longa tem muito apelo para o público infantil já que conta com: animais falantes, poderes mágicos, personagens engraçados e tem como mensagem, algo esperançoso e otimista. Mas, infelizmente, não deixa de ser um filme fraco.

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