Ótica frouxa

 Lavra (2021), o documentário de Lucas Bambozzi, ensaia uma novidade no que se refere à forma de documentar os relatos e as vivências de quem sofreu com os crimes cometidos pelas empresas de mineração Vale e Samarco. A abordagem do diretor de fato se destaca em relação a alguns aspectos do que conhecemos e identificamos como linguagem documental. A escolha dos planos e dos movimentos de câmera, que na maioria das vezes foram feitos em follow shot, isto é, a câmera seguindo a personagem no plano, deram um tom totalmente orgânico para a produção. Esse tom intimista usado na linguagem audiovisual do filme vem da tentativa do realizador de retratar os sentimentos reais de maneira mais próxima e sentimental das personagens de seu filme. No que tange a sensibilidade do enredo sobre a naturalização da empresa no território mineiro e a consequência disso na vida das pessoas que vivem ali, o documentário cumpre bem seu papel. O filme trata de maneira incisiva e sensível a exploração ambiental e a dependência econômica da cidade explorada pela mineradora. Porém, o filme não se consuma em seu caráter artístico e proposta inovadora de retirar as histórias vividas da perspectiva do real, ele na verdade não cumpre essa promessa de ser tão diferente assim, uma vez que repete padrões hierárquicos entre documentarista e personagens entrevistados.