Crítica Avatar: O 3D em forma de linguagem e imersão

Por Lucas de Andrade Moreira

O filme Avatar (James Cameron, 2009) voltou às salas de cinema com intuito de gerar engajamento para o lançamento de sua continuação. Sua exibição foi feita exclusivamente no formato 3D, como aconteceu em seu lançamento, há 13 anos. A obra representou o ápice da febre da tecnologia 3D e marcou a história do cinema com seus efeitos especiais e cenários de tirar o fôlego. Porém, em um momento posterior, Avatar foi amplamente distribuído em DVDs e canais de televisão, o que provocou uma inevitável perda de sua força estética. O que restou, nesses formatos de exibição, foi o roteiro pouco original e os personagens rasos da trama, já que todos esses elementos eram um plano de fundo para a experiência sensorial do 3D na tela grande. Nela, Avatar se sustenta como um longa extremamente polido que não tem medo de ousar nos usos da linguagem cinematográfica.

No enredo da obra um planeta é colonizado pela raça humana com objetivo de extrair seus recursos naturais. Nesse processo de colonização, a raça alienígena tribal Na’vi (os gigantes azuis emblemáticos do longa), entram em conflito com os interesses dos colonizadores. Em poucas palavras, é uma versão futurista do filme Pocahontas. Trocando os nativos indígenas da América por alienígenas azuis, e os conquistadores espanhóis por americanos do ano 2154.

As cenas se desenvolvem em planos com várias camadas, que geram a impressão de profundidade nos cenários do filme. Ao contrário de outros filmes que se utilizam do 3D, Avatar apresenta, em todas essas camadas, um altíssimo nível de nitidez. Os objetos contam com uma aparência solida e palpável a despeito da profundidade da cena.

Há alguns trechos nos quais a força da estética 3D fica mais evidente. A primeira é quando o personagem principal, Jake Sully (Sam Worthington), deita-se pela primeira vez na cabine de transmissão de consciência. O 3D provoca uma sensação de confinamento, ao contrário do que acontece nas cenas que nos apresentam ao planeta Pandora, que contam com várias camadas visuais. Aqui, o 3D sugere vastidão. O espectador permanece imerso diante de cenários amplos e exuberantes, e também quando se depara com espaços pequenos e claustrofóbicos.

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Até quando são mostrados retratos e fotografias na diegese do filme percebemos a potência da tecnologia. Em 3D, essas imagens parecem ter uma profundidade própria, independentemente do que esteja acontecendo no restante da cena. O mesmo vale para monitores de computador e outros objetos que realçam a ideia de que estamos diante de uma tecnologia futurista.

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O 3D também ressalta os reflexos do sol na água e em espelhos, que ajudam a garantir um maior grau de imersão no filme, uma vez que eles subvertem nossa percepção de que há uma câmera filmando, mediando os acontecimentos. A impressão é de que não há interposições e de que o espectador é único observador da ação. Ao contrário de outros filmes, Avatar não utiliza o formato 3D apenas como maneira de obter lucros fáceis e se atenta para aquilo que o formato tem a oferecer para a linguagem cinematográfica.

Entretanto, há momentos em que o 3D é utilizado de maneira excessiva ao longo da trama. Há certos elementos visuais menores – como mosquitos, folhas e fuligem – que podem desviar a atenção da grandeza e do detalhamento do resto do cenário. Em alguns momentos, belos planos se tornam caóticos, como acontece quando Sully chega na selva de Pandora pela primeira vez. No entanto, esse é um problema menor. O excesso de partículas nem sempre é usado em vão. Em uma das sequências mais bonitas do filme, uma árvore gigantesca é incendiada; a fuligem e as cinzas transmitem a ideia de desordem e confusão de que a narrativa precisava naquele momento.

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O trabalho de som de Avatar também reitera a imersão na experiência 3D. O som remete a objetos que estão dentro e fora de quadro, como se o espectador, imerso na trama, conseguisse ouvir não somente aquilo que está sendo mostrado na tela, mas também aquilo que está ao redor, no extracampo. O som, na verdade, engendra o ambiente tridimensional do filme. Em uma das cenas mais marcadas pelo manejo de trilha sonora, o personagem principal vai pela primeira vez, junto com a equipe de exploração, à densa floresta de Pandora. Nessa sequência, podemos escutar os cientistas conversando, fora do quadro, sobre as amostras que estão colhendo do local. A câmera, porém, está com o foco em outro acontecimento. Temos a sensação de que a narrativa não se limita às bordas das telas.

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A experiência de assistir a Avatar em 3D na tela do cinema é totalmente diferente. Não é à toa que a obra é a maior bilheteria da história do cinema – arrecadou mais de 2,8 bilhões de dólares de bilheteria ao redor do mundo. O filme de James Cameron conseguiu, como nenhum outro, brincar com a linguagem do cinema para nos fazer mergulhar na narrativa. O espectador se torna parte do mundo de Pandora.

Um comentário em “Crítica Avatar: O 3D em forma de linguagem e imersão

  1. Uma crítica perfeita e bastante elucidativa. Inspira-nos a assistir novamente com um novo olhar para os detalhes técnicos abordados na crítica. Parabéns!

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