Copa do Mundo FIFA de Futebol Feminino e a representatividade midiática

Por: Maria Eduarda Abranches

Neste ano, entre os dias 20 de julho e 20 de agosto, acontecerá a 9°edição da Copa do Mundo FIFA de Futebol Feminino, o evento mais aguardado da modalidade. O evento vai acontecer na Austrália e na Nova Zelândia, de modo a ser a primeira vez que uma edição da Copa do Mundo principal acontece na Oceania, e contará com a participação de 32 participantes, um aumento de 12 equipes participantes com relação à última edição, podendo assim, se igualar ao torneio masculino.

A última Copa do Mundo FIFA de Futebol Feminino aconteceu em 2019, na França e foi um marco histórico para a modalidade. Essa registrou a maior audiência da história, com mais de 1 bilhão de pessoas de acordo com a FIFA, sendo a primeira vez que a Rede Globo, a maior emissora de canal aberto do país transmitiu o evento. Além disso, foi a primeira vez que a Seleção Feminina Brasileira jogou com um uniforme feito e pensado para elas, em que na gola apresentava a inscrição “Mulheres Guerreiras do Brasil”.

Ter um uniforme exclusivamente feminino é uma marca muito importante para a conquista da tão sonhada igualdade no esporte. Ao levar em consideração que há 35 anos, na primeira copa do mundo feminina disputada na China, os uniformes utilizados eram os já usados pelos homens, de forma a serem de um tamanho muito maior do que os que elas realmente vestiam. De acordo com a ex-jogadora Sissi, “Todas as roupas que usamos eram do masculino. A gente não tinha nada. O uniforme era gigantesco. A gente dobrava o short para dar certo. Aí ficávamos rindo uma da cara da outra olhando essa situação. Mas na época ninguém se importava com isso, o que importava era a paixão, o sonho. A gente queria mostrar que a gente tinha capacidade”.

Para a Copa deste ano, as principais fornecedoras de material esportivo mundial, como Nike e Adidas, realizaram novamente novas camisas diferentes das utilizadas pela seleção masculina. A marca alemã levou em consideração a natureza predominante de cada país para realizar a camisa, por exemplo a camisa da Escócia representa os rios glaciais presentes. Já a marca estadunidense, levou em consideração a biodiversidade brasileira ao fazer a camisa e uma tecnologia inédita para os shorts utilizados pelas jogadoras, com o intuito de dar maior conforto para as atletas que menstruam e garantir uma proteção a elas.

A questão da camisa e dos shorts tem uma relação muito forte com a visibilidade dada a última copa, podendo promover a representatividade e identidade ao evento. Essa representatividade é capaz de inspirar diversas meninas, de maneira a deixar um legado importante que transmite a ideia de que elas são capazes de serem o que quiserem e ocupar todos os espaços que desejarem. Para mais, pretende-se despertar o interesse das mulheres pelo esporte, seja futebol ou em qualquer outro, de modo a demonstrar como elas foram excluídas devido a um preconceito enraizado culturalmente.

O preconceito enraizado está associado com a proibição do futebol feminino no Brasil. O contexto histórico dessa interdição se dá na ditadura do Estado Novo, no governo de Getúlio Vargas (1937 a 1945), que tinha como característica a centralidade e o fortalecimento da identidade nacional. Isso impactava de forma direta na vida dos cidadãos, principalmente a questão do esporte, que era e é considerado um símbolo de identidade nacional. A proibição teve como base justificativas físicas, biológicas e supostamente morais, sendo apoiadas por um discurso médico de que o corpo feminino era “frágil” e “delicado”, podendo colocar em risco os órgãos reprodutores, de modo a não ser capaz de praticar um esporte “violento” como o futebol. Além disso, esse discurso seria incompatível com a chamada “natureza feminina”, visto que o foco deveria ser na maternidade e na vida doméstica.

A visão de que o lugar da mulher seria apenas dentro de casa era reforçado pelas narrativas feitas pela mídia impressa da época, contribuindo para a mentalidade estereotipada e para os argumentos com preceitos machistas, de modo que o corpo feminino foi historicamente excluído dos espaços, influenciando na representação. Tais condições vivenciadas dificultaram a prática do futebol feminino. Dessa forma, tanto no passado como agora, é preciso a modificação da cultura esportiva de modo geral, desde as organizações que promovem as competições até a mídia que cobre os eventos, sempre com o objetivo de reconhecer a necessidade de investir e promover o acolhimento das mulheres nessa área.

Com a Copa do Mundo de Futebol Feminina se aproximando, torna-se um momento favorável para analisar a forma que a mídia propõe, a partir de construções representacionais, a noção da mulher atleta na sociedade. É notório que a invisibilidade midiática presente, se fundamenta em discursos machistas e sexistas que difundem percepções baseadas em uma propensão de valorizar pensamentos masculinos, e em uma superioridade deles. Sendo assim, na atual conjuntura contemporânea, é evidente o papel fundamental que a mídia exerce no futebol, de maneira a transformar o esporte em um bem de consumo. Como resultado, a representação da mulher na prática desse esporte, se torna um elemento essencial com relação às disputas das relações de gênero.

O esporte é capaz de promover a visibilidade das mulheres no espaço público, e ao longo da história do esporte nacional, muitos talentos esportivos femininos foram projetados. Apesar de terem conquistado o mundo esportivo e de praticarem esportes – no caso trabalhado, o futebol feminino- que antes eram considerados exclusivamente masculinos, as mulheres ainda são invisíveis para a sociedade que acompanha o esporte por meio dos meios de comunicação. É necessário, portanto, refletir sobre a prática das mulheres no esporte e rever o papel da mídia e suas atitudes, para que o esporte contribua para um mundo em que as diferenças sejam fonte de enriquecimento e não de desigualdades.

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