Por: Davi Tufic
Antonella Braga e Duda Guerra dominaram o TikTok após um desentendimento interno se tonar um assunto discutido nas redes sociais, e gerar uma discussão sobre a exposição de jovens nas plataformas midiáticas. Após Antonella seguir o namorado de Duda, o filho de Luciano Huck, Benício Huck durante um encontro de influencers em Gramado, o ato, na percepção da namorada, foi visto como uma provocação que rendeu uma disseminação de posts sobre o assunto nas redes.
Esse caso entra para uma lista de situações virais contextualizadas dentro desse mundo de influenciadores menores de idade, o que acabou por trazer à tona novamente uma discussão sobre essa superexposição de jovens nas redes, a espetacularização de situações pessoais como se fossem realitys shows e o desconhecimento sobre os possíveis reflexos dessa exposição na vida desses adolescentes.
A partir do momento que casos como esse ganham espaço na mídia, questiona-se até que ponto assuntos privados devem ser tratados publicamente. Nesse viés, podemos citar a autora Paula Sibilia (2016) que no seu livro ´´Show do Eu: a intimidade como espetáculo´´ trabalha como esse aumento da ritualização e ficcionalização da vida cotidiana e estetizada com recursos das plataformas, provoca uma busca maior por uma vida mais real e menos encenada. Quando jovens como as duas influencers mirins abrem sua vida pessoal com um palco, isso pode promover uma ânsia externa de conhecer cada vez mais os seus íntimos e sem denominar limites.
O mercado de influenciadores digitais só vem crescendo no Brasil, de acordo com a matéria do site Meio & Mensagem (2025) e conforme apontam dados da Influency.me (2025), empresa especialista em marketing de influência, houve um aumento de quase 70% no número de influenciadores digitais só de março de 2024 pra cá, no Brasil. Esse aumento demonstra um elevado interesse de todas as faixas etárias nesse meio, mas ainda constata que o perfil dos influenciadores entre 13 e 24 anos é de quase 40%. Se colocando no segundo perfil mais comum, ficando atrás somente da faixa de 25 a 34 anos não muito distante, com 10% a mais.
Dentro desse contexto, recentemente foi lançado na Netflix o documentário ´´Bad Influence´´, dirigido por Jenna Rosher e Kief Davidson (2025), que dialoga sobre casos de trabalho infantil desregulamentado, exploração infantil e até abusos sexuais envolvendo a mãe de uma dessa influenciadoras infantis. O caso aconteceu em Los Angeles e durou anos, Piper Rockelle e sua mãe e empresária Tiffany Smith são personagens centrais do documentário que conta e denuncia os abusos feitos pela mãe de Piper a ela e a outros jovens, dentro da casa que moravam juntos em uma região nobre de um dos maiores centros urbanos dos Estados Unidos. Nessa casa produziam conteúdos percebidos como inapropriados para crianças de 12 a 15 anos o que na época passou despercebido pelos pais, mas o que realmente ficou marcado foram os abusos feitos por Tiffany Smith quando as câmeras estavam desligadas.
Ainda que o caso de Antonella Braga e Duda Guerra tenha sido superficial comparado ao caso denunciado em “Bad Influence´´ é importante se atentar aos problemas que podem gerar uma vida super exposta e espetacularizada.
No artigo cientifico ´´Microcelebrity and the Branded Self´´ produzido pela Ph. d Theresa M. Senft professora da faculdade New York University (2012), ela discorre sobre esse processo que na tradução livre seria ´´Microcelebridade e o eu de marca´´. O processo apontado por ela como mudança no modo de enxergar a nós como marcas e os meios de comunicação como vitrines. O artigo vai de encontro ao caso na medida em que transmite a ideia de que tanto os adultos quanto os jovens tem passado por esse movimento de super exposição nas redes sociais que pode afetar diretamente na maneira como nos enxergamos e na forma como percebemos o mundo.
Entre tantas consequências citadas pela autora, uma delas é o conceito de invasão da ´´stranger familiarity´´ que na tradução seria ´´estranha familiaridade´´. Este conceito abrange a ideia de que somos motivados pelos algoritmos a observar a vida do outro, mas acima disso nos permitir sentir próximo e merecedor de certas informações pessoais dos atores da rede.
Ela cita o caso da iraniana Neda Soltani que teria sido vítima de uma confusão de identidades que acabou por a fazer fugir da própria pátria, devido a um vídeo em que uma mulher era morta, e Soltani tinha meras semelhanças com ela. O que causou uma onda de pesquisas e mensagens direcionadas a Neda Soltani indicando que ela teria sido a pessoa morta.
Além disso, a autora fala sobre a ideia de que nos tornamos objetos de venda e compra a partir do momento em que o capitalismo se apropria das plataformas como maneira de vender nossa atenção para empresas e outros atores digitais.
A disseminação e normalização de casos como o de Antonella e Duda é só uma mostra do que as plataformas, seus operadores e o capitalismo são capazes de fazer para que a vida de jovens que nem sequer respondem pelas próprias ações sejam afetadas. E ainda afetem a vida de outros milhões de adolescentes e crianças que os acompanham e idealizam o seu lugar nesses contextos.