Mulheres que dançam com os traumas

Juliana Gusman, que é jornalista e doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Meios e Processos Audiovisuais da ECA-USP, discute as tensões entre a dança, especialmente o ballet, e padrões de feminilidade hegemônicos no texto “Mulheres que dançam com os traumas”. O artigo foi publicado no Blog do Centro de Dança, Pesquisa e Treinamento Bastidores e aborda suas experiências como bailarina à luz de debates feministas, tensionando as relações de dominação que atravessam essa prática cultural.  

Eu tinha três anos e meu collant era roxo. O arranjo de cabelo florido era harmonicamente lilás, mas pouco funcional – com um corte chanel liso, lisíssimo, não há coque que suporte a gravidade. Minha história com o ballet é uma história comum, ou mesmo inarredável. Graças à ecografia, um destino assemelhado é traçado para quase todos os corpos que, na imagem prescritiva da ultrassonografia, sofrem a invocação performativa inaugural: “é uma menina!”. Essa declaração, segundo Judith Butler, está longe de ser mera descrição de fato dado. Trata-se de uma interpelação que produz aquilo que nomeia. Esse ato imperativamente fundador – “é uma menina!”, perceba a exclamação – determina uma série de outras práticas que devem ser continuamente reiteradas, recitadas, para que um sujeito “mulher” se torne possível dentro de uma estrutura epistemológica hegemônica. Uma vez paridas, vista-as de rosa, bote-lhes um laço na cabeça careca, fure-lhes as orelhas, dê-lhes barbies e kens, sente-as de pernas cruzadas, coloque-as para assistir A pequena sereia. E, claro, matricule-as numa aula de ballet. “É bom para corrigir posturas, aprender hierarquias e exercitar delicadezas”.

Trecho do artigo

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