Por Felipe Tavares.
A trajetória de uma realidade que está, de maneira intrínseca, atrelada a um contexto de ignorância e desinteresse é o foco da produção maranhense Marina (2017), de Taciano Brito. Em uma espécie de análise socio reflexiva, o curta-metragem apresenta uma construção narrativa que se constitui da elaboração de imagens que, em conjunto, contribuem na formação da beleza do relato. Marina Côelho da Silva é a personagem principal e, portanto, quem tem contada, ou melhor, conta sua história. Delineada por detalhes que se entrelaçam na apresentação das imagens, o percurso da aposentada até os dias atuais serve de instrumento para a reflexão acerca dos processos sociológicos que definem o relatar de seu viver.
Fica claro, a partir da experiência obtida, a intenção de se produzir efeitos sinérgicos capazes de introduzir o espectador às problemáticas que se fazem presentes, à vida influenciada pelo tratamento pré-determinado socialmente e à crítica a um sistema que, ainda que antigo, permanece excluindo e ignorando indivíduos.
Taciano Brito coloca o espectador em um lugar de introspecção. Os elementos visuais contribuem para a percepção do mundo que vai de encontro a realidade anteriormente vivida por Marina. As cenas que seguem, enquanto o relato é dado, estão presentes de forma conveniente. Todas as que exigem uma espécie de maior exposição de fatos íntimos da personagem são apresentadas de maneira sutil com a descrição da mesma que somente nesses momentos compõe as cenas.
O lavar, o varrer, o limpar são ressignificados ao longo do curta. As mensagens que são destacadas a partir de memórias de dor e impotência passam a obter outros significados quase que antônimos: liberdade e realização. A presença dos integrantes que servem de apoio à estruturação da narrativa faz da produção uma grande ferramenta para análise dos elementos que constituem a sociedade.