Quem Matou Eloá

Por Lídia Caetano.

Imagem: Danilo Verpa – Folhapress

O documentário Quem matou Eloá? (2015), dirigido por Lívia Perez e produzido por Fernanda Capua, retrata a atuação da mídia e o recorte feito de um caso de feminicídio televisionado como um romance de final trágico. Na época da cobertura de um dos maiores sequestros no Brasil com grande repercussão midiática, alguns veículos trataram o agressor de Eloá Pimentel, seu ex-namorado Lindemberg Alves, como celebridade, naturalizando o crime de feminicídio, desqualificando e desmoralizando a vítima.

A narrativa do documentário promove uma discussão acerca da ética jornalística e de seus limites profissionais. Neste tipo de caso, o dever dos repórteres seria apenas expor a notícia ao público e relatar fatos, sem interferir nas negociações, preservando a integridade das vítimas.

Segundo Marques Melo (1985, p.10),

O sistema de comunicação de massa desempenha um papel de educador coletivo, permitindo o acesso a um certo tipo de conhecimento que vincula os indivíduos à sua contemporaneidade, mas ao mesmo tempo orienta a sua percepção para apreender significados compatíveis com a ideologia dominante.

A mídia exerce um papel fundamental e paradoxal na sociedade, pois, ao mesmo tempo, reforça e pode ajudar a descontruir o patriarcado, ainda enraizado pelos homens e muito parecido com o escravismo, tornando-se um dos maiores problemas sociais e crescentes da nossa sociedade contemporânea.

As falas dos jornalistas e dos especialistas evidenciados pelo documentário geram reflexões sobre a gravidade do tema e das práticas jornalísticas sedimentadas. Também servem para levantar questões e entendimentos desde o ponto de vista das vítimas, atuando como porta voz de suas demandas e desconstruindo rótulos contra essa invisibilidade da violência cotidiana. A divulgação correta do acontecido (não justificando o crime) abre espaço para que muitas mulheres rompam com a vergonha e denunciem a violência.

Logo, a mídia, em determinadas formas, pode exercer um papel fundamental como formadora de opinião na sociedade, incentivando a população a defender minorias e a se revoltar contra o sistema, ampliando, contextualizando e aprofundando os debates sobre a violência contra as mulheres.  As causas dessas violências são estruturais e históricas; após a legislação de 1988, a luta vem sido lentamente conquistada. Contudo, o acesso as informações é um importante instrumento para que as vítimas reconheçam a situação e saibam reivindicar seus direitos. O papel do documentário foi de sensibilizar a sociedade sobre o problema e promover a prevenção, corroborando para a ideia de uma justiça mais punitiva.

QUEM  matou Eloá. Doctelamidiacom. 4 de ago 2015: 24min22s, YOUTUBE 4 de ago 2015.Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=4IqIaDR_GoQ>. Acesso em: 14 dez de 2021.

MARQUES DE MELO, José. Para uma leitura crítica da comunicação. São Paulo: Paulinas, 1985.

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