Euphoria: A reinvenção do drama adolescente da geração Z

Por Daura Campos, Isabel Lisboa e Mirella Silluzio.

As personagens são esféricas, ou seja, complexas. Há protagonistas e antagonistas, mas não mocinhos e vilões. Euphoria, série da HBO, traz à narrativa nuances presentes nas relações do mundo real, levando o espectador a se conectar não somente com o texto da obra, mas também com a forma com que as personagens lidam com estes conflitos.

Um dos recursos narrativos utilizados para que o espectador se sinta mais envolvido com as personagens é o uso de cold opens (tradução livre: aberturas frias), que consistem em trechos abordando o passado destas. O recurso indica não somente a narrativa a ser apresentada, mas também o ponto de vista de qual personagem define o episódio.

Fugindo de clichês narrativos, a montagem na série modifica a maneira como o telespectador enxerga as histórias. A complexidade narrativa também se é construída através da singularidade da montagem, proporcionando assim o ritmo e a fluidez característica da série. Destarte, a montagem deixa de ser uma apenas uma  ferramenta; ela se transmuta em forma de linguagem.

O comportamento principal encontrado na montagem é o reflexo do conflito da psiquê das personagens, isto é, conduz e esculpe as personagens através de sentimentos. Esse recurso narrativo proporciona a visualização das várias camadas das personagens, o que direciona o espectador a compreender e simpatizar com os acontecimentos.

Euphoria explora também recursos estilísticos dos gêneros cinematográficos, utilizando desde cenas com características de video clipe, filmes noir, até a quebra da quarta parede. No entanto, essa diversidade da montagem é unida bela estética singular da direção de arte e fotografia. 

Ao analisar a fotografia da série, é possível perceber uma estética padronizada durante todos os episódios. A seleção das cores vibrantes não é acidental, e ao ser aplicada na série, cria um aspecto fantasioso a tudo que ocorre nela contrastando com a sua temática abordada. A expressividade visual da série reflete o próprio estado mental adolescente: confuso, hormonal e em busca pela sua identidade.

O guarda-roupa das personagens também carrega consigo certa expressividade, ao externalizar a personalidade de cada um através de seus estilos próprios. 

Foto: Divulgação/HBO MAX

Conforme o desenvolvimento e conflitos internos das personagens, suas roupas também sofrem interferências e variações, mais evidentes nas personagens Kat (Barbie Ferreira) e Maddie (Alexia Demie). Somado a ele, há  também  a presença de maquiagens inovadoras e artísticas, que não só adicionam brilho e personalidade à série, mas inspirou a própria indústria a inovar e investir no aspecto lúdico e artístico da arte, ao invés da característica corretiva existente.

O aspecto colorido da fotografia traz vivacidade e personalidade para a série, e junto ao guarda-roupa e a maquiagem das personagens, cria uma identidade visual facilmente reconhecível.

Foto: Divulgação/HBO MAX
Foto: Divulgação/HBO MAX

Euphoria – 1a Temporada (Estados Unidos, 2019). HBO.

Direção: Sam Levinson, Pippa Bianco, Augustine Frizzell, Jennifer Morrison

Roteiro: Ron Leshem, Daphna Levin, Sam Levinson, Hunter Schafer

Elenco: Zendaya, Hunter Schafer, Sydney Sweeney, Jacob Elordi, Maude Apatow, Alexia Demie, Barbie Ferreira, Angus Cloud, Eric Dane, Nika King

Duração: 8 episódios com cerca de 60 min.

Trabalho produzido para Narrativas seriadas, do curso Cinema e Audiovisual.

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