POR: Victor Enzzo
No domingo (21), o mundo presenciou, mais uma vez, um caso de racismo escancarado durante a partida entre Real Madrid e Valencia, válida pelo Campeonato Espanhol. Na ocasião, a torcida do Valência disparava a todo momento insultos racistas ao atleta do Real Madrid, Vini Júnior, até que em determinado momento, o jogador demonstrou sua indignação com um dos torcedores e cobrou alguma atitude do árbitro da partida, mas o resultado da reclamação não correspondeu às expectativas do atleta. Após muita confusão entre os jogadores e torcedores, o goleiro do Valencia confrontou Vini Júnior de maneira violenta, o que piorou ainda mais a situação. Uma briga generalizada entre os jogadores se instaurou e Vini foi paralisado com um “mata leão” por um dos jogadores do Valencia. No final de toda essa confusão, Vini foi penalizado com um cartão vermelho, sendo expulso da partida e o goleiro do Valencia, Mamardashvili, levou apenas um cartão amarelo.
Essa situação não é um caso isolado de racismo, na verdade, se trata de um reflexo da sociedade estruturalmente racista na qual vivemos. Vini Jr é um jovem milionário, famoso e que atua em um dos melhores e maiores clubes do mundo, ou seja, faz parte de uma elite econômica e social que poucos têm o privilégio de estar. Porém, Vini Jr também é
um homem preto, nascido em um país localizado na periferia do capitalismo e que joga na Europa, um continente com um enorme histórico xenófobo e racista. Assim como Vini Jr, diversos outros jogadores de variados esportes em variados países, sofrem com o racismo diariamente, mesmo estes, também pertencendo a uma elite econômica muito exclusiva,
deixando claro que o racismo está presente em mundo todo. A perspectiva racial se coloca como um obstáculo tão importante quanto a classe para se obter reconhecimento social.
Em 2019 o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) fez uma pesquisa sobre a desigualdade social do país e observou que 75% dos brasileiros que vivem na extrema pobreza são pretos ou pardos. Apesar de ser rico, Vini Jr é periférico, apesar de ser bem sucedido, Vini Jr é preto e, infelizmente, essas características, que são intrínsecas
a ele, são alvo de preconceito e violência. Porém, felizmente, para o atleta, essas características são motivos de orgulho. Quando Vini Jr se posiciona de maneira incisiva contra atos racistas ele não está lutando apenas por ele, mas sim, por toda uma coletividade. Vini resgata a autoestima do povo preto quando se posiciona diante das ofensas, quando dança para comemorar um gol, quando abertamente fala sobre racismo e quando enfrenta abertamente o presidente da “La liga” Javier Tebas.
Em uma sociedade capitalista, tudo é transformado em mercadoria, inclusive as pessoas. Tendo isso em vista, o racismo se torna ferramenta fundamental para a manutenção dessa estrutura econômica. Historicamente o povo preto tem sido tratado como mercadoria o que se agravou com o início do capitalismo europeu. A estratégia era de desvalorizar o povo preto e sua cultura para rebaixar seu valor e após isso, literalmente vendê-los como escravos, e essa cultura escravocrata ainda está enraizada na sociedade brasileira e em vários lugares do mundo. Vini Jr é um exemplo de como o estigma racial ainda é um problema a ser combatido e personalidades como ele são peças fundamentais nessa luta.
grande texto um dos melhores que já li