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Conheça a história do Bar do Zezé, clássico do Barreiro

Bar faz parte do cenário gastronômico de Belo Horizonte e está enraizado na cultura do bairro

Nascido em Belo Horizonte, capital mundial dos botecos, o famoso e já consagrado concurso Comida di Buteco chega à sua 23º final no próximo domingo, 7 de maio. Criado em 1999 e tendo sua primeira edição no ano 2000, o concurso ganhou o coração dos belorizontinos e se expandiu para todo o Brasil, tendo, em 2023, o número recorde de participantes: são quase mil bares e restaurantes concorrendo ao prêmio desta temporada que tem como tema as Ervas e Especiarias.

Convenhamos, não há nada melhor que um petisco gostoso e uma cerveja gelada ao lado de boas companhias. Enraizados na cultura mineira, os botecos formam caráter, são palco de ótimas histórias e oportunizam novas amizades. Celebrar a existência dos botecos é valorizar os bons momentos vividos nesses lugares e reconhecer o trabalho e dedicação daqueles que fazem parte dessa tradição. 

Zezé e Alfa são exemplos de pessoas que ajudaram a construir essa história.

José Batista Martins, conhecido por todos como Zezé, nasceu em São Domingos do Prata, interior de Minas Gerais, mas aos doze anos se mudou para Belo Horizonte. Aos dezoito, começou a trabalhar na Mannesmann, empresa do ramo de siderurgia, onde ficou por cinco anos, e viu que lá não era seu lugar. Zezé sempre demonstrou interesse em abrir seu próprio negócio, entretanto, sem nenhuma experiência, foi convidado por um amigo a trabalhar em uma loja de materiais elétricos no centro da cidade, onde também permaneceu por cinco anos. Depois que adquiriu conhecimento e experiência no ramo do comércio, decidiu, junto com sua esposa Alfa, abrir uma mercearia na região do Barreiro.

Alfa Cota Martins, cozinheira de mão cheia, também nasceu no interior de Minas Gerais, numa fazenda localizada na cidade de João Monlevade. Foi lá que floresceu sua paixão pela culinária raiz. Desde criança, Alfa já auxiliava a mãe na cozinha: 

A minha origem é lá de João Monlevade, eu nasci e fui criada lá na fazenda e aprendi cozinhar com minha mãe. Desde doze anos de idade eu já comandava o fogão, cozinhava para doze, quinze trabalhadores, e eu aprendi com ela tudo que eu sei hoje.

Minha mãe, até pouco tempo, falava que eu não gostava muito de fogão, sabe? Porque era muita gente ali, que eu ficava nervosa de fazer comida para aquele tanto de gente. Mas hoje, não. Hoje eu vejo que eu gosto de fazer, eu adoro cozinhar. E tudo que eu sei eu sempre aprendi com ela.

Alfa Cota Martins. cozinheira

Com o surgimento e posterior ascensão dos grandes supermercados na região do Barreiro, a mercearia de Alfa e Zezé foi perdendo espaço e público. Então, o casal decidiu abrir um bar no mesmo local, para complementar a renda e ajudar a pagar a faculdade dos filhos. Tudo começou bem pequeno, apenas com quatro mesinhas e um fogão no cantinho. Aos poucos, as pessoas foram conhecendo o talento de Alfa, encantando-se com os pratos e com a cordialidade no atendimento. As prateleiras da mercearia foram dando lugar a mais mesas, e o bar foi crescendo. 

No túnel do tempo do Bar do Zezé, fotos da período em que o bar ainda dividia espaço com a mercearia:

O primeiro Comida di Buteco

Em 2004, ainda no início da trajetória, o Bar do Zezé foi convidado a participar do Comida di Buteco e, com Encontro Marcado, prato desenvolvido por Alfa, garantiram a vitória logo na primeira participação. 

O Encontro Marcado foi o primeiro prato que a gente fez e até hoje vende muito: carne com jiló e angu. É a polenta, a carne de panela, o jiló recheado com queijo minas, cebola e cebolinha.

A sensação [de ganhar] é muito boa. Cê ta é doido, não tem nem palavras para descrever. Como a gente não tinha experiência nenhuma, o bar ainda estava começando, eu fiquei é doido, mas no final deu tudo certo.

Zezé

A partir desse momento, tudo mudou!

O sonho de duas pessoas que saíram do interior de Minas Gerais, que montaram um bar improvisado dentro de uma mercearia para pagar a faculdade dos filhos, estava destinado a alçar voos mais altos. Tri-campeão do concurso, levando o primeiro lugar nos anos de 2004, 2006 e 2011, o Bar do Zezé, mesmo quando não ganhou, sempre esteve entre os finalistas. 

Galeria de prêmios do Comida di Buteco. Foto: Otávio Loureiro

O Comida di Buteco foi o pontapé inicial para tudo isso que está acontecendo até hoje no Bar do Zezé. Em termos de divulgação, a clientela veio, eles gostaram da comida, gostaram do atendimento, gostaram de tudo, e até hoje o bar fica cheio, mas eu agradeço muito ao Comida di Buteco que pôs a gente no mercado.

Zezé

E qual é o segredo de tamanho sucesso?

Há quem diga que são as receitas ou ingredientes especiais. Mas, na visão deste que vos fala, nascido e criado no Barreiro, hoje, o bar pode até estar mais bonito, ser mais conhecido, mas a sua essência foi o que sempre o tornou especial. Quem frequenta o bar atualmente ainda pode encontrar aquele casal que montou quatro mesinhas improvisadas no meio de uma mercearia e, com a receptividade do mineiro, continua conquistando o coração das pessoas e o paladar de quem ama um boteco raiz.

Um boteco de raiz, igual o nosso, que é ‘buteco’ mesmo, não pode faltar um torresmo, a mandioca, o pé de porco a costelinha, são as carnes como se diz, de segunda, mas que o povo gosta muito desse tipo de tira gosto. Não pode faltar é isso, torresmo de barriga, bolinho de milho com bacalhau, o pé de porco, isso tem que ter em um boteco raiz. 

Zezé

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Otávio Loureiro Arco Verde

Estudante de Jornalismo na PUC Minas. Atleticano. Gosto de filmes, séries e viajar.

2 comentários

  • Foi um prazer ler essa matéria sobre um o Bar do Zezé que adoro frequentar e conheço desde que era uma simples mercearia. Não mudou a simplicidade e os sabores. Mão divina da Alfa e carisma do Zezé. Homenagem merecida.
    Parabéns Otávio por contar a história deles e nós fazer conhecer como tudo começou.

  • Que delícia ler essa matéria 😃 Me trouxe várias recordações e muita saudade.