Por: Raianne Ferreira
O seriado Shameless, produzido e exibido pela emissora Showtime, fez sua estreia na tv norte-americana em janeiro de 2011, e perdurou por mais 11 anos no ar, tendo seu último episódio sendo exibido em abril de 2021. A série que inicialmente demonstra um enredo genérico e com o orçamento que aparenta ser de um pão de queijo e uma coquinha, fisga o espectador logo na primeira temporada, é o insere no meio da caótica e disfuncional família Gallagher.
Os Gallaghers são uma família, que vive no subúrbio de Chicago – ou como os mesmos dizem na série, South Side of Chicago – Frank, o patriarca da família, viciado e alcoólatra, vive na companhia de seus seis filhos: Fiona, Lip, Ian, Carl, Debbie e Liam. Sua esposa, Mônica, também viciada, abandonou a família, quando os filhos ainda eram muito novos. Como o pai, se demonstra ausente a maior parte do tempo e pouco liga para os filhos.
Fiona, a irmã mais velha, assume a responsabilidade de cuidar de seus irmãos, enquanto eles próprios aprendem a cuidar de si mesmos.
Shameless, é um remake de um seriado britânico de mesmo nome, mas a versão norte- americana foi a que mais se popularizou entre a crítica e o público. No início, a série se apresenta como uma comédia de humor ácido, mas ao longo da construção narrativa, o seriado apresenta uma carga dramática, mais densa. Apesar das piadas e situações cômicas que os Gallaghers vivenciam, existe uma realidade dura e não tão bonita vivida pelos personagens. A grande sacada e diferença das outras séries de dramédia para Shameless, está exatamente aí. Aqui não existem finais felizes, os personagens se corrompem e gostam disso, são imorais e cretinos, a família não permanece unida e se voltam uns contra os outros várias vezes, o pai permanece negligente até o fim, é o mundo é e permanece cruel. Em contrapartida, o que faz a série não se perder em meio a toda essa carga dramática pesada, é simplesmente a genialidade dos personagens em rirem do próprio fracasso. Essa construção tão próxima da realidade é o que faz o espectador se identificar e se encantar com a família Gallagher. Compactuando e se tornado confidentes em todas as angústias, quedas e alegrias vividas pelos personagens.
A perda da inocência também é algo que está presente na jornada pessoal de toda a família. Enquanto lidam e tentam driblar da melhor maneira possível a negligência dos pais, os irmãos amadurecem muito cedo, na maioria das vezes de forma dolorosa. Fiona, desde muito cedo assumiu as rédeas da casa e do cuidado com seus irmãos, tendo sua adolescência e vida adulta deixadas em segundo plano. Lip, garoto prodígio, que consegue vaga nas Ivy Leagues, opta por uma faculdade mais próxima de casa, e apesar de ser extremamente inteligente e bom aluno, não consegue equilibrar a vida acadêmica com a familiar, começa a beber, se torna alcoólatra, como o pai – que também era um prodígio na universidade – e acaba sendo expulso. Ian, descobre a bipolaridade herdada pela mãe, em meio a um surto psicótico na escola militar, que ocasiona em sua prisão. Carl, se envolve com o crime organizado da vizinhança e também acaba preso. Debbie abandona a escola e se torna mãe, ainda na adolescência. E Liam, vive em busca de uma relação entre pai e filho com o inconsequente Frank. O desenvolvimento dos personagens ao longo das temporadas, é profundo, complexo e coeso. A narrativa também amadurece. Apesar dos conflitos serem emocionalmente difíceis e pesados, a comédia ácida da série, quebra e alivia a tensão.
Mas como nem tudo são flores, o seriado também se perde em certos aspectos, principalmente com alguns furos no roteiro, narrativas criadas aleatoriamente, que não levavam a lugar nenhum dentro da trama. Personagens principais as vezes pouco explorados ou deixados de lado. Em sua décima temporada, após a saída da personagem Fiona, o seriado recebeu seu pior índice de críticas desde a estreia. Mas, ao que os realizadores conseguem se redimir bem em sua décima primeira e última temporada, trazendo um desfecho emocionante e comovente para Frank, o mais sem vergonha dos Gallaghers.
A série foi nomeada várias vezes ao Emmy, porém foi vitoriosa em apenas 2. Joan Cusack em 2015 de Melhor Atriz Convidada em Série de Comédia, e em 2016 e 2017 por Coordenação de Dublês para um Programa de Variedades ou Série de Comédia.
Por fim, Shameless se consagrou como um sucesso e caiu nas graças do público por 11 anos consecutivos, justamente por serem contra a ideia da família tradicional americana e provando que a ‘sem vergonhice’ e a imoralidade são o melhor remédio. Os Gallaghers se tornaram únicos por não serem perfeitos.
Raianne Ferreira é graduanda do 7° período de Cinema e Audiovisual da Puc Minas.