Por Isis Grazielle Antônio Da Silva
Quintal (2015) de André Novais, se apresenta, num primeiro momento, de forma tranquila e familiar. Acompanhamos um casal de idosos em sua rotina diária. Nota-se a simplicidade da produção, assim como a simplicidade dos personagens. Zezé e Norberto vivem suas vidas de maneira aparentemente pacata, cuidando da casa e de si em atividades comuns, até que somos surpreendidos por um forte vento no quintal da residência. O vento levanta Zezé do chão e seca rapidamente as roupas no varal. O estranhamento parece arrebatar apenas quem assiste à obra, pois a personagem continua a cumprir seus afazeres normalmente.
Logo em seguida, um portal começa a se abrir no quintal, seguido por um barulho incessante e incômodo. Ainda assim, nada abala os afazeres de Zezé, que faz suas unhas, e de Norberto, que assiste a um filme pornô na sala, enquanto come biscoitos de polvilho. Nada muda. Norberto, então, finalmente se incomoda com o barulho e sai para investigá-lo. Ao ver o portal, entra nele sem hesitar. O personagem parece sugado para alguma (possível) outra dimensão. Ao longo do dia, Zezé fica imersa em suas tarefas, e não sente falta do marido.
A narrativa nos causa estranhamento, já que o casal segue sua rotina mesmo em meio a tantos acontecimentos surreais. E é aqui que está o grande ápice da narrativa: discutir o familiar e o fantástico, ou até aquilo que não vemos quando estamos imersos na comodidade dos dias. O surpreendente pode estar no quintal da nossa casa.
Quintal nos faz então, coautores de sua história, pois fica para nós, espectadores, o potencial de criar fabulações a partir da narrativa. O curta mantém seu desfecho em aberto, de tal modo que podemos adicionar nossas impressões e expectativas. Para onde Norberto foi? E como isso pode ter influenciado, depois, acontecimentos quase inesperados para o casal?
O filme parte de uma premissa que traz inúmeras possibilidades, assim como a própria fantasia, gerando curiosidade e entretenimento a partir de um mergulho no mundo cinematográfico, tudo de forma muito simples, partindo de uma única questão: será?