“Quincas Borba” uma leitura atemporal do Machado de Assis.

Por: João Gabriel Ferreira

Quincas Borba” é uma obra de romance produzida pelo grande escritor brasileira Machado de Assis, lançada e publicada em 1891. O folhetim que viria a se tornar uma das grandes obras do renomado autor, conta a história de Rubião e sua riqueza, proveniente da morte de seu grande e rico amigo, Quincas Borba.

O enredo da história gira em torno de Rubião, um despretensioso professor de Barbacena, que acaba herdando a fortuna de seu melhor amigo, após o mesmo morrer já muito doente (febre e loucura). O livro já se inicia com o professor, um homem rico que vivendo no Rio de Janeiro, convida os leitores a voltar um pouco mais na história para explicar como nosso protagonista chegou até aquele momento.

O livro explora temas como ganância, ingenuidade, manipulação e a fragilidade do ser humano. O autor brinca com a filosofia do “Humanitismo”, inventada por Quincas Borba, sendo ela uma metáfora para uma visão mais cínica e pessimista, do escritor. Um de seus trechos mais famosos é a simbólica frase: “ Ao vencedor, as batatas”, simbolizando a competitividade e luta pela sobrevivência na sociedade, na qual os fracos, mesmo que sejam vitoriosos, serão explorados pelos mais fortes.

Os personagens trazem diversas reflexões se aproximando dos leitores, criando uma relação íntima com eles. A trama conta com Rubião, um personagem desastroso, no qual seu destino é marcado por sua ingenuidade, recebendo assim um final trágico. Já o casal Palha, composto por Sofia e Cristiano, ao contrário de Rubião, representam a malandragem, astúcia e exploração. A personagem Sofia se destaca durante toda a história por ser uma figura complexa, extremamente calculista e ambiciosa. Cabe ressaltar que o grande Quincas Borba, mesmo estando morto, permanece simbolicamente na história por meio de sua filosofia.

Machado de Assis faz uma narrativa em terceira pessoa, repleta de ironia (marca registrada do autor) e comentários metalinguísticos, engajando o leitor ao longo do texto. A obra possui uma linguagem acessível, sem perder a forma elegância, com diálogos que revelam a complexidade das relações. Ele utiliza essa ironia tanto para se fazer críticas à hipocrisia da sociedade quanto para apresentar os delírios do “Humanitismo”. Ao mesmo tempo que ele diverte o leitor, expõe a fragilidade das relações humanas.

Mesmo possuindo uma crítica à sociedade brasileira no ano de 1891, que passava por um momento de transição do regime monárquico para o republicano, com suas hierarquias de poder, ambições econômicas e hipocrisia moral, o escritor indica a exploração e desigualdade que atravessam as interações, produzindo uma obra que mesmo ao longo dos anos permanece relevante no contexto atual. Sua representação do “Humanitismo’’ também faz crítica ao darwinismo social e ao individualismo, representando o mundo de Quincas Borba como um lugar cruel, na qual as conquistas materiais nem sempre vão representar uma realização ou trazer felicidade.Mais de um século depois de sua publicação, o exemplar continua a conversar com temas bastante atuais. O embate por poder e status, as complexas interações de relação humana e a nossa fragilidade mental, são temas que ainda ressoam na nossa sociedade. Além disso, a publicação convida os leitores a refletirem sobre os valores e estruturas que nos rondam e nos moldam.

Com isso pode-se afirmar que “Quincas Borba” é uma obra-prima que transcende seu tempo. A genialidade de Machado de Assis vive em sua habilidade de unir crítica social, humor, com um toque refinado de drama, em uma narrativa que instiga o leitor a todo momento. Ele é um livro indispensável para aqueles que apreciam uma boa obra de romance, sendo uma trama aparentemente simples em um universo de grandes complexidades.

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