Por trás de Brat: como Charli XCX se tornou o nome do verão de 2024

Por: Davi Neiva

Lançado em junho de 2024 durante o verão americano, o álbum Brat, da cantora britânica de 32 anos Charli XCX, tornou-se um dos projetos musicais mais bem sucedidos do último ano. Sendo o sexto disco da artista, Charli é conhecida na indústria por misturar a música pop com elementos eletrônicos e colaborações alternativas. Com estéticas visuais e sonoras consideradas experimentais, ousadas e agressivas, Brat se consolidou como um grande sucesso de público e crítica. O inteligente trabalho de marketing realizado por Charli, aliado à exposição de sua vulnerabilidade nas letras, foi parte considerável deste sucesso, como visto nas canções “Sympathy is a knife”, “Apple” e “Girl, So Confusing”, esta última em parceria com a cantora Lorde.

Apresentando uma capa minimalista marcada pela cor verde neon e letras minúsculas, a estética visual do álbum se tornou um dos maiores fenômenos culturais de 2024. Este minimalismo, escolhido inicialmente por questões financeiras — quando a artista optou por trabalhar com um orçamento menor —, acabou causando impacto e desafiando as normas da música pop, em que produções femininas costumam depender de grandes recursos visuais e conceituais para ter uma boa recepção do público. A escolha foi interpretada como uma provocação visual e sonora aos espectadores, e contribuiu para a transmissão do conceito principal do álbum. O título Brat, que traduzido do inglês significa “pirralha” ou “atrevida”, ganhou uma nova interpretação pelo público, virando sinônimo de rebeldia, liberdade e confiança — reforçado por Charli, onde ela define Brat como alguém com atitudes bagunceiras, que gosta de festejar, diz coisas bobas e é honesta e direta.

O estilo musical do álbum, influenciado pelo hiper-pop, club-pop, dance é marcado pela utilização de sintetizadores e batidas eletrônicas, transmite a energia de festas dançantes e a estética club, popular nos Estados Unidos e na Europa. Este conceito colabora diretamente com o estilo visual e moda do projeto, marcado pela estética Y2K: minissaias, calças de cintura baixa, croppeds e bolsas pequenas, com influências góticas e emo — tendência forte entre a geração Z. Apesar da estética festiva — ou party girl, como a própria Charli definiu — os temas abordados nas letras contrastam com a aparência visual do disco, explorando questões como a pressão da fama, as complexidades das relações interpessoais e a vulnerabilidade emocional. Dessa forma, a artista conseguiu se aproximar do público jovem, utilizando os mecanismos de identificação tanto pela estética quanto pelo conteúdo lírico.

A partir disso, Brat se tornou uma tendência cultural de 2024, dando origem ao chamado “Brat Summer”, com repercussão em diferentes áreas, da música à política. Esse resultado não aconteceu por acaso. Além de todo o conceito e estética criados por trás da obra, Charli conseguiu, de forma inteligente, transformá-lo em um produto de marketing. Diversos projetos promocionais foram criados, sendo o primeiro deles o “Brat Wall”, localizado no Brooklyn em Nova York. O mural se tornou um ponto de encontro entre os fãs da cantora durante o lançamento do álbum, com apresentações surpresas transmitidas nas redes sociais e anúncios relacionados a era. Rapidamente, o álbum viralizou em plataformas como Tik Tok e Twitter. A fonte minimalista, a cor verde-limão — apelidada de “verde Brat” — e toda a estética da era tornaram-se memes entre influenciadores, celebridades e marcas. Um exemplo marcante foi o uso do meme pela ex-vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, que incorporou elementos visuais do álbum para promover sua campanha presidencial nas mídias sociais.

A divulgação do álbum continuou a ser impulsionada pelos relançamentos do disco como na versão deluxe, intitulada “Brat and it’s the same but there’s three more songs so it’s not” e na versão remix do álbum “Brat and it’s completely different but also still Brat”, que contou com a participação de diversos artistas como Lorde, Billie Eilish, Ariana Grande,
Troye Sivan, entre outros. Entre as faixas relançadas, destacaram-se “Girl, So Confusing” com Lorde — que chamou atenção por abordar, na letra, uma possível tensão ocorrida no passado entre as duas artistas — e “Guess” com Billie Eilish, que viralizou por sua abordagem sexual e divertida. Também contribuíram para o sucesso a versão de “Sympathy Is a Knife” com Ariana Grande e a coreografia viral de “Apple” no Tik Tok.

Para prosseguir com a promoção da era, Charli embarcou na turnê conjunta com o cantor australiano Troye Sivan, intitulada The Sweat Tour, que passou por diversas cidades da América do Norte em 2024. Essa escolha revelou-se uma estratégia inteligente, ao unificar os públicos dos dois artistas em um único projeto, ampliando o alcance de Brat. Em abril, Charli se apresentou em dois finais de semana no famoso festival americano Coachella, com shows considerados pelo público como o encerramento da era Brat. Segundo seus produtores, o próximo trabalho da artista deve seguir uma vertente oposto ao que foi desenvolvido neste álbum.

Assim, Brat consolidou-se como um movimento cultural, capaz de influenciar a moda, a linguagem, a música e reformular a percepção do público sobre a cultura pop. Diversos veículos de comunicação, como as revistas Rolling Stone, The Guardian e The Independent elogiaram o álbum, classificando-o como um dos melhores de 2024. Além disso, dicionários de língua inglesa como o Collins definiram Brat como a palavra do ano, reconhecendo seu
impacto e influência. Com isso, Charli XCX demonstrou como o uso estratégico das plataformas digitais e do marketing pode contribuir para a construção de uma identidade artística e cultural bem definida, criando conexões emocionais e marcantes com o público, ao explorar vertentes como a moda, música, estética e letras de forma integrada.

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