Por Julia Alvarenga.

Penúltima Página (2020) é um curta-metragem do mineiro Gustavo Koncht, estudante de Cinema e Audiovisual na PUC Minas. A obra, recheada de sensibilidade, foi prestigiada com exibição em diversos festivais cinematográficos, como a Mostra de Audiovisual Universitário e Independente da América Latina e a Seleção Oficial da 3ª edição da revista Pausa na Rede. Mais recentemente, esteve em cartaz na Mostra Ceis de sua Universidade, catalogado sob o programa de Pertencimento.

O curta conta a história de João, que retorna à sua casa de infância após o falecimento de seu pai. Ao se debruçar em memórias e antigos pertences, João encontra um livro que Antônia – uma velha amiga da família – costumava recitar para ele quando criança. Entretanto, ao lê-lo, o rapaz descobre uma história diferente da que se lembrava de ouvir. Após um telefonema com o filho da mulher, revela-se que dona Antônia nunca soube ler.

Delicado e puro, Penúltima Página nos relembra a potência da arte. Por ter sido produzido no início da pandemia de COVID-19, o filme conta com uma equipe muito reduzida, uma locação única e elenco mínimo – sendo o protagonista interpretado pelo próprio diretor. Mesmo assim, o resultado da obra é de uma qualidade inquestionável. Penúltima Página é repleto de sentimentos que transbordam da tela. O cuidado com cada aspecto se mostra presente, resultando em um trabalho excelente de fotografia, som e narrativa.

A atmosfera nostálgica se torna quase palpável enquanto acompanhamos João redescobrindo suas memórias; a história também se apoia em tudo que não é mostrado em tela. Somos levados a imaginar a história criada por dona Antônia, e, assim, também nos reencontramos com nossas próprias memórias e com as histórias que nos foram contadas enquanto éramos crianças – por vozes que talvez não estejam mais entre nós.

Belo e breve, Penúltima Página emociona em seus oito minutos de duração. Ele tem êxito em cativar seus espectadores; fazê-los divagar sobre suas memórias, sobre suas infâncias, e sobre tudo aquilo que conforta e aspira à eternidade, mas que sempre possui fim. Como despede-se o filme: “Gosto de servir o café bem quente na xícara, então tomar tudo bem rápido. Depois segurar a xícara bem forte, só para sentir a palma da mão bem quentinha até o calor acabar. E ele sempre acaba”.

Penúltima Página – Brasil, 2020
Direção: Gustavo Koncht
Roteiro: Gustavo Koncht
Elenco: Gustavo Koncht, Julha Marcela, Caio Scovino, Angela Resende