Por: Maria Paula Resende Morais
Os modos de consumo da mídia vêm sendo modificados com o passar dos anos. Na atualidade, com o avanço das tecnologias e das distribuições do que produzimos online, muitos fãs conseguiram fazer com que trabalhos produzidos de fã para fã fossem amplamente veiculados e, posteriormente, transformados em trabalhos mainstream.
Entre os estudos da mídia, Henry Jenkins trás o livro “Os Invasores de Texto: Fãs e Cultura Participativa” que aborda justamente essa relação entre fãs e mídia. Além disso, como novas produções surgem a partir da dinâmica de transformações e ressignificação do material original para a produção de um outro material.
Os fãs deixam de ser vistos como ingênuos e passam a ser produtores ativos e peritos em manipular os significados dos programas que assistem.
Jenkins argumenta que os fãs de televisão são “invasores de texto”, tomam a cultura de massa e a fazem sua, muitas vezes subvertendo as intenções dos criadores originais. Ele busca entender como os fãs reinterpretam e recriam os textos midiáticos para se encaixar em suas próprias experiências e interesses.
Em meio a tantos lançamentos mensais nas plataformas de streaming, o Prime Video lançou recentemente o filme The Idea of You, em portugues: Uma Ideia de Você, uma trama que tem como foco principal o relacionamento de Solène Marchand (Anne Hathaway) e Hayes Campbell (Nicholas Galitzine). O filme conta como Solène, mãe da adolescente Izzy conhece Hayes, o vocalista da boyband famosa August Moon.
O filme é uma adaptação de um livro, escrito por Robinne Lee, que possui o mesmo nome do longa. Inicialmente, o filme foi divulgado como adaptação de um livro inspirado em uma fanfic do cantor Harry Styles, como divulgado pela Rolling Stone em janeiro deste ano. Entretanto, a própria autora do livro não confirmou a informação. Apesar disso, muitos fãs acreditam que o cantor tenha sido fonte de inspiração para a história por diversas semelhanças que a história ficcional possui com a realidade com cantor pop.
Apesar disso, outras produções, como After, podem ser consideradas produções feitas por fãs de Styles. Apesar de diversas polêmicas que a história aborda, a princípio, After era uma fanfic escrita por Anna Todd. Mais tarde, o número de leituras da fanfic foi tão expressivo que a autora lançou livros contando a história. Esses livros foram adaptados para o cinema e ganharam o gosto de diversos espectadores que nem ao menos conheciam a obra original, criada por uma fã da banda One Direction.
É essa relação que Jenkins explora em seu livro, a noção de cultura participativa, onde os fãs se envolvem ativamente com o conteúdo, criando suas próprias obras derivadas, como fanfics, fanarts, vídeos, e outras formas de expressão. Jenkins descreve como essa participação cria uma comunidade vibrante e colaborativa, onde o poder é descentralizado e os fãs têm um papel significativo na formação da cultura popular.
A partir do livro “Os Invasores de Texto” é possível observar como é preciso reconhecer a importância da cultura participativa e em dar voz às práticas criativas dos fãs. Ideal para pessoas interessadas em entender a dinâmica entre mídia, fãs e cultura na era digital, a obra oferece uma perspectiva profunda e empática sobre como os fãs se envolvem com e ressignificam os textos que amam.
E você? Conhece mais algum exemplo de “invasores de texto”?