Por Fernanda T. Bordignon
O gênero true crime, dedicado à narrativa de crimes reais, investigações e perfis de criminosos, é objeto de grande interesse popular e acadêmico há décadas. Caracteriza-se por um enfoque detalhado em eventos factuais que abarcam o processo criminal e investigativo, além de explorar aspectos psicológicos de agressores e vítimas. Nos últimos anos, observa-se um notável aumento tanto na demanda por esses conteúdos quanto na sua produção. Esse fenômeno, intensificado após 2018/2019, levanta questões sobre os motivos desse interesse e seus possíveis efeitos socioculturais. Como observa Noel Carvalho, professor do Instituto de Artes (IA) da Unicamp, essa amplificação pode estar associada à popularização desses casos pela mídia e ao fascínio do público em decifrar os motivos subjacentes ao comportamento violento.
Diversos estudos apontam que o consumo de true crime está relacionado à busca por auto defesa e compreensão de situações de risco. Por exemplo, uma pesquisa da Universidade de Illinois, realizada em 2010, revela que 71% dos entrevistados assistem a narrativas de crimes como forma de entender métodos de proteção pessoal. Além disso, o impacto da pandemia de 2020 contribuiu para o aumento no consumo desse gênero, que para muitos espectadores passou a representar uma forma de escapismo e entretenimento em um contexto de isolamento social.
O público feminino, em especial, tem sido um dos maiores consumidores de true crime, fator que se justifica pela necessidade de entendimento e prevenção de ameaças, especialmente no contexto brasileiro, onde os índices de violência contra a mulher são elevados. Dados indicam que entre 2018 e 2019, o público feminino de true crime cresceu 16%, reflexo de uma preocupação crescente com a segurança e o desejo de se informar sobre métodos de proteção.
O true crime está disponível em múltiplos formatos, o que facilita seu consumo e abrange diferentes plataformas. Estima-se que existam atualmente cerca de 2.800 títulos de true crime no formato podcast, com produções como My Favorite Murder, que arrecadou milhões de dólares, e outros programas de destaque no Brasil, como Modus Operandi, Café com Crime, 1001 Crimes e PA Criminal.
No campo do audiovisual, as plataformas de streaming,também têm investido em documentários e séries de dramatização de crimes. Entre as produções documentais de maior repercussão estão Pacto Brutal: O Assassinato de Daniella Perez (2022, HBO Max), Isabela: O Caso Nardoni (2023, Netflix), Murdaugh Murders: A Southern Scandal (2023, Netflix), The Nurse (2023, Netflix) e Get Gotti (2023, Netflix), Dahmer (2022, Netflix), Candy (2022, Hulu), The Act (2019, Hulu), Love & Death (2023, HBO Max), The Menendez Murders (2023, Netflix) , Extremely Wicked, Shockingly Evil and Vile (2019, Netflix), Boston Strangler (2023, Hulu) e a franquia American Crime Story, que inclui os casos de O.J. Simpson e Gianni Versace.
E nacionalmente,temos A Menina que Matou os Pais, O Menino que Matou Meus Pais (2021, Prime Video) e A Menina que Matou os Pais – A Confissão (2023, Prime Video); Maníaco do Parque (2024, Prime Video) e A Vítima Invisível: O Caso Eliza Samudio (2024, Netflix) que tratam de crimes de grande repercussão no Brasil.
Esse consumo elevado de true crime levanta questionamentos sobre os efeitos psicológicos e comportamentais no público que de acordo com uma pesquisa da Vivint Blog, diz que muitos dos espectadores desse gênero se preocupam em implementar medidas de segurança e autodefesa, o que sugere um efeito profundo dessas narrativas na percepção da própria segurança e na busca por proteção.
Por fim, podemos concluir que o fenômeno true crime não apenas entretém, mas também revela aspectos psicológicos, sociais e culturais relacionados à criminalidade. Ao explorar a mente de criminosos e o impacto de seus atos na sociedade. Esse gênero, além de interessar muito, contribui para um debate mais amplo sobre segurança e comportamento humano, oferecendo uma janela para refletir sobre o impacto da violência e o papel da mídia na percepção pública sobre a criminalidade.
fontes :
https://canalcienciascriminais.com.br/producao-audiencia-true-crime/