Por Daura Campos.
Produtos audiovisuais do gênero true crime* lidam com experiências traumáticas e fatais em que as sobreviventes e vítimas são desproporcionalmente mulheres. Ironicamente, a audiência destes conteúdos também é de forma esmagadora constituída por mulheres. Segundo a pesquisadora Kelli S. Boling, elas conformam 73% do público deste tipo de produção. Além disso, documentários seriados bem sucedidos como Making a Murderer e podcasts como My Favorite Murder** foram criados por mulheres e para mulheres. Mas qual seria a motivação desta audiência?
As histórias de crimes reais, de maneira geral, dissecam e exploram detalhes dos pensamentos das mentes criminosas. Assim, elas podem operar como uma ferramenta de conscientização, para que espectadoras evitem que elas próprias sejam as vítimas no futuro. Perguntas como: “o que desencadeou o ataque?” ou “que técnicas a sobrevivente usou para escapar?” são comumente respondidas nestas produções.
Portanto, este conteúdo audiovisual, assim como tantos outros, exercem quase que uma função pedagógica junto ao público. As mulheres que consomem esses produtos midiáticos podem se preparar, ainda que timidamente, para escapar de possíveis violações. Ao mesmo tempo, comunidades online fornecem contato com outras mulheres de interesses semelhantes, tornando-se redes de apoio coletivo.
Finalmente, ao se verem como possíveis sobrevivente e vítimas, mulheres se tornam emocionalmente engajadas nas histórias sendo contadas. Um conclusão lógica para este fenômeno, que escancara os próprios ideais sexistas no que diz respeito aos gêneros de produtos audiovisuais “para mulheres”.
*Crime real
**Meu Assassinato Favorito