(este artigo pode conter assuntos sensíveis para alguns leitores)
POR: Maria Paula Resende Morais
O True Crime está em alta nas produções audiovisuais, podcasts, tornou-se tema de livros e permite que assuntos, como segurança pública, sejam debatidos. Diante dos diversos fragmentos de notícias e as inquietudes de autores, diretores e produtores de conteúdo, a produção de filmes, séries e documentários sobre grandes casos criminais tem se tornado ainda mais populares. Seja para tentar resolver casos que não tiveram solução e, até mesmo, dar voz às vítimas dos acontecimentos.
Entre os casos mais famosos e abordados em diversas adaptações ao longo dos anos, está o caso de Jeffrey Dahmer, um serial killer que nasceu em maio de 1960 na cidade de Milwaukee. Ao longo da vida, Dahmer fez 17 vítimas e tornou-se um dos assassinos mais famosos dos Estados Unidos pela crueldade e violência dos crimes.
Com a fama do caso, Dahmer ganhou diversas adaptações. Duas delas foram lançadas em 2022 através da plataforma da Netflix, são elas a série “Dahmer: Um Canibal Americano” e a série documental “Conversando com um serial killer: O Canibal de Milwaukee”. A primeira foi lançada no dia 21 de setembro de 2022 pela Netflix, conta com 10 episódios e, focada no ponto de vista das vítimas, aborda quem elas eram, trazendo um pouco de humanidade para a história cruel. Criado por Ryan Murphy e Ian Brennan, Evan Peters dá vida ao serial killer.
Já a série documental foi lançada alguns dias depois, em 7 de outubro. Com 3 episódios, a série parte de conversas de Jeffrey Dahmer com sua advogada de defesa. Produzida por Joe Berlinger, Catharine Park, Jon Doran, Jen Isaacson, Jon Kamen, Rusty Lemorande, Josh Model, Jamie Fleischel, Matthew Helderman, Luke Dylan Taylor, David Sirulnick, Dave Snyder, Brendan Hermes, Luke Colson e Kate Berry.
As séries, ou os produtos seriados, são produtos propositalmente pensados para durarem mais do que um filme, por exemplo. Com um tempo de exibição maior, é possível abordar questões mais complexas e mais aprofundadas ao longo da narrativa. No caso do True Crime, essa expansão pode ser relacionada à maior visibilidade de réus e vítimas. Além disso, por meio de recursos utilizados no audiovisual, o espectador consegue se “aproximar” da narrativa relacionando a produção com a memória.
No caso de Dahmer é possível observar construções diferentes de narrativas nas séries ficcional e documental. A primeira tem como foco as vítimas de Dahmer apresentando um background de quem elas foram e como o ambiente ao redor do assassino foi prejudicado pelas atitudes dele, mesmo que essas pessoas não sejam diretamente ligadas ao caso, como por exemplo a vizinha Glenda que teve de sair do apartamento e até mesmo do pai de Dahmer que não convivia com o filho há algum tempo.
Apesar de terceiros terem sido afetados, a série, no primeiro episódio, também dá ênfase no desespero do personagem que seria a última vítima de Dahmer. Isso se dá pelo jogo de câmeras, ao colocar Dahmer como figura central e acima do outro personagem e, até mesmo, aos questionamentos feitos pela polícia ao realizar a denúncia.
Já no documentário, a narrativa pode ser interpretada de maneira diferente. Para além das imagens, a escolha de quem são as pessoas a darem depoimento são significativas para a construção da narrativa de Dahmer. No documentário são apresentados advogados de defesa, médicos psiquiatra, jornalistas e, apenas no fim do episódio, amigos das vítimas. A partir da escolha desses personagens e de como as informações foram organizadas é possível inferir que, mesmo confessando os crimes e se dizendo horrorizado em alguns momentos, foi construída uma narrativa que busca, de certa forma, entender e justificar os crimes cometidos por Dahmer. É importante ressaltar que em nenhum momento os profissionais se mostram a favor do que aconteceu, mas buscam justificar, de certa forma, através do passado e de outros problemas psicológicos os crimes cometidos.
Portanto, no caso de Dahmer, pelo menos duas formas podem ser identificadas: Por meio das vítimas e envolvidos construindo uma narrativa mais sombria e cruel diante dos casos; Ou então com narrativas que buscam entender e justificar de onde surgiram esses impulsos e pensamentos focando no assassino em si, sua história e seus relatos, mostrando a construção do chamado monstro até que os crimes sejam cometidos.