‘O Bonde do Tigrinho’ em pauta na Revista Piauí

Por: Larissa Gino

Esportes da sorte é muito mais que bet !!✡️ Revolucione sua vida com os slots Casanova LouFonte: Divulgação Esportes da Sorte

A Revista Piauí foi criada em 2006 com o objetivo de contar histórias cuidadosamente produzidas em edições mensais. Hoje em dia, a Piauí está em diversas plataformas digitais, além da revista impressa, operando como um meio jornalístico responsável e independente.

Em uma matéria publicada pela Revista em 26 de dezembro de 2024, os repórteres João Batista Júnior e Alessandra Medina produziram uma investigação que buscou entender o fenômeno social relacionado às bets (apostas online) no Brasil e a participação de influenciadores digitais como contribuintes na produção da ‘pandemia do vício’.

A matéria inicia com a descrição de uma corretora imobiliária que vivia uma fase de estabilidade financeira, a qual foi arruinada pelas apostas online. Tathiara Barbosa Fonseca conheceu as bets através de influenciadores digitais, inclusive comprou um curso que prometia ensinar uma “técnica avançada” que multiplicava cada real em 50 reais. Assim, ela começou a apostar pouco, entre 25 e 50 reais, e foi tomando gosto daquilo que parecia ser
uma ‘diversão inocente’.

Depois de um tempo com apostas pequenas, os valores foram escalando. Fonseca começou a pegar empréstimos com bancos e agiotas até que ela e o marido tiveram que vender a moto e o carro para saldar as dívidas. Depois disso, Tathiara passou pela situação-limite, na qual seu filho teve uma crise de asma e ela não tinha dinheiro para comprar os medicamentos. Sentindo-se desolada e isolada da própria família, Fonseca percebeu que tinha que colocar um ponto final nos jogos e passou a fazer tratamento com psicólogo e psiquiatra.

A história da corretora foi descrita em vários parágrafos e em cada um deles o leitor se comove cada vez mais com a situação apresentada, característica importante para gerar conscientização. Para aumentar ainda mais a repercussão, a Revista Piauí publicou em sua página do Instagram um vídeo no qual a Tathiara contava um pouco da sua história. A publicação foi muito compartilhada na mídia social e despertou o interesse da audiência a entender mais sobre a gravidade do assunto.

O vídeo em questão inicia com vários exemplos de influenciadores e artistas participando da máquina de propaganda das bets. Nesses takes, personalidades como Carlinhos Maia, Galvão Bueno, Maya Massafera e Cauã Reymond falam frases de conscientização: “aí é jogo responsável, meu amigo”; “você joga pra cair na conta e não passar da conta”; “tem que jogar com responsabilidade”. Ou seja, pessoas extremamente influentes e milionárias vendem a proposta de um “jogo responsável” para cidadãos comuns, colaborando para a pandemia do vício em apostas online no Brasil.

A matéria segue com dados sobre as bets no Brasil, números que mostram que o problema não é apenas com a Tathiara. Para justificar o estrago que foi apresentado nas pesquisas, os autores afirmam que as bets movimentam uma máquina de propaganda de alta potência, como foi citado anteriormente. Oferecendo cachês milionários, as empresas de apostas online estão com sedes localizadas em paraísos fiscais, como Curaçao, e algumas já até foram suspeitas de ações criminosas, como lavagem de dinheiro. Essas grandes marcas encontram no Brasil um público desesperançoso com a possibilidade de aumentar a renda pessoal ou familiar, ou seja, o público ideal para viciar em apostas.

As empresas das bets procuram influenciadores com todo tipo de alcance, mas aqueles com maior quantidade de seguidores são os que apresentam os dados mais impressionantes. De acordo com a reportagem, a influenciadora Virginia Fonseca assinou um contrato com a Esportes da Sorte nos termos do “cachê da desgraça alheia”. Ela ganha 30% do valor que os usuários perdem ao utilizar seu link de divulgação da empresa. Ou seja, se um seguidor dela perde 100 reais na plataforma, 30 reais vão para a influenciadora. Virginia ganhou um adiantamento de 50 milhões de reais na negociação.

O que antes era restrito para divulgações na internet e com influenciadores do meio, rompeu um limite importante: a possibilidade de contratar profissionais da TV. Além das bets serem as principais patrocinadoras de campeonatos e times de futebol e as grandes financiadoras de anúncios em horário nobre na atualidade, celebridades como Galvão Bueno e Cauã Reymond também colaboram na venda do discurso do “jogo responsável”, passando um pouco de credibilidade para as empresas contratantes e perdendo um pouco da credibilidade deles (afinal, existem muitas questões problemáticas envolvidas nesses processos).

A reportagem também discute os impasses políticos da regulamentação das bets. No final do governo de Michel Temer, as apostas esportivas foram legalizadas e passaram a ser taxadas (pois, até então, operavam no país ilegalmente). Temer sancionou a lei criando a “aposta da quota fixa”, na qual o apostador sabe de antemão o valor do prêmio. A lei deveria ter sido regulamentada pelos próximos dois anos, mas foi engavetada no governo de Jair Bolsonaro. Em 2023, no governo Lula, começaram as providências para regular um mercado que já havia tomado conta de todas as plataformas e da vida social.

A princípio, o projeto negociado pelo governo Lula previa a inclusão dos jogos clássicos de cassino, e a operação se daria nos próprios sites das apostas esportivas. Definiu-se que as empresas teriam até dia 20 de agosto de 2024 para pedir autorização para operar no Brasil e algumas outras regras foram implementadas. “Tudo parecia bem” até que o Banco Central divulgou que, em agosto de 2024, 3 bilhões de reais do Bolsa Família haviam sido perdidos pelas apostas nas bets.

Em meio a tantos estragos, o governo ameaçou até em “acabar definitivamente” com as bets, uma vez que começaram a sair os dados de endividamento das classes mais pobres e as consequências da pandemia do vício instaurada no país. Na tentativa de controlar a situação, o Ministério da Justiça proibiu as bets de oferecer bônus a novos usuários, com o objetivo de evitar que haja ingresso de menores de idade nos jogos, uma vez que esses usuários geralmente não têm dinheiro para jogar. Um ano depois da aprovação da Lei das Bets, Lula decidiu criar um grupo de trabalho interministerial para tratar da prevenção e do vício em apostas. No congresso, a senadora Soraya Thronicke (PODEMOS) abriu uma CPI para a investigação das bets.

Com tantos desafios a serem enfrentados, nem os governantes conseguiram chegar a uma conclusão com relação ao risco que as bets oferecem, e também não chegaram a medidas efetivas. Enquanto isso, o jornalismo responsável da Revista Piauí, apresentado e analisado neste artigo, expõe verdades necessárias para o público cronicamente online.

A reportagem é muito bem construída e a ordem dos acontecimentos é muito bem pensada, mas ela não é simples, já que em alguns momentos é necessário ter uma atenção a mais pela complexidade dos assuntos abordados pelos autores. Já os dois vídeos curtos foram uma ótima estratégia para atrair a atenção dos mais jovens, por serem impactantes e trazerem uma conscientização rápida e gratuita. A prova disso é o fato desses vídeos terem sido o motivo para que eu me interessasse em ler a reportagem.

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