Por João Pedro Diniz
A matéria da revista Piauí sobre os bastidores da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) revela um cenário preocupante de privilégios, aparelhamento e autoritarismo, que contradiz flagrantemente o discurso de moralização propagado pelo atual presidente da entidade, Ednaldo Rodrigues. A análise crítica do conteúdo exposto revela não apenas a permanência de velhos vícios na gestão do futebol brasileiro, mas também o agravamento de práticas que comprometem a credibilidade da instituição.
Um dos pontos mais escandalosos levantados é o aumento exorbitante dos salários dos presidentes das federações estaduais, que saltaram de R$50 mil para R$215 mil mensais, com direito a um inusitado 16º salário. Tal reajuste não pode ser visto de forma isolada: ele vem acompanhado da reeleição unânime de Ednaldo Rodrigues, apoiado justamente por essas 27 federações. A correlação é clara e preocupante, indicando uma estratégia de fidelização baseada em vantagens financeiras, um tipo de “mensalão” institucionalizado dentro do futebol. A promessa de “expurgar imoralidades” soa, diante disso, como retórica vazia usada para encobrir a perpetuação das práticas mais clientelistas possíveis.
Outro aspecto alarmante diz respeito à postura autoritária da CBF diante de críticas. O afastamento de seis comentaristas da ESPN após críticas públicas à gestão de Ednaldo, críticas que se basearam, inclusive, na própria matéria da Piauí que escancara o uso de pressão política contra a liberdade de imprensa. A entidade nega qualquer tipo de influência , porém sabemos que por trás das câmeras e diante de diversos escândalos envolvendo Ednaldo Rodrigues e sua gestão é algo que não podemos duvidar, ainda mais, após o atual presidente da CBF, também ser acusado de plantar escutas e câmeras escondidas em locais públicos da sede da entidade.
O terceiro ponto, relacionado aos gastos da CBF na Copa do Mundo do Catar, completa o retrato de uma entidade que opera à margem da ética e da responsabilidade. Levar familiares e amigos sem qualquer vínculo profissional com a confederação às custas de dinheiro da instituição, em primeira classe e hospedados em hotéis de luxo, configura um desvio claro de finalidade. É uma demonstração de como o futebol brasileiro, apesar de sua relevância cultural e econômica, continua sendo tratado como feudo por dirigentes que confundem gestão pública com benefício pessoal.
Diante de tudo isso, a análise da Piauí é mais do que uma denúncia: é um alerta. A CBF, instituição que deveria zelar pelo desenvolvimento do futebol nacional, atua hoje como uma máquina de autoproteção e blindagem política, sustentada por privilégios, favores e silenciamentos. O futebol, paixão de milhões, segue refém de um sistema opaco e antidemocrático que precisa urgentemente ser enfrentado por órgãos de controle, imprensa e pela própria sociedade civil. Se não houver reação, o jogo seguirá viciado e o maior prejudicado continuará sendo o torcedor.