POR: Isabela França Prates
Alienígenas, eventos históricos e registro. É isso que o curta-metragem, de 23 minutos, dirigido e roteirizado por Zal Batmanglij, “The Recordist”, em livre tradução “A gravadora”, nos apresenta sob uma ótica nova e interessante. Esse curta foi produzido nos Estados Unidos e contou com a estreia destacada da atriz Brit Marling que mais tarde se tornou protagonista na série de sucesso “The OA”, criada por ela em conjunto com Zal Batmanglig e produzida pela Netflix. O curta foi lançado em meados de 2007, e consiste em uma ficção cientifica moderna e excêntrica.
No curta nos é apresentado a vida de Charlie, uma adolescente que deseja seguir uma carreira artística, mas que ainda não encara com maturidade sua vocação. Porém, logo Charlie conhece Avis, uma idosa que insiste no fato de que Charlie é uma “câmera” e está sendo usada por extraterrestres para transmitir informações novas do planeta Terra de primeira mão, entretanto, tais “gravadoras” só são enviadas a Terra quando um evento histórico monumental está prestes a acontecer, e Avis sente um desespero para compreender o que Charlie vai gravar. De início, Charlie não acredita nos argumentos de Avis e se distancia dela, mas, desconfiada, resolve buscar provas do que a idosa lhe contou e acaba se convencendo que Avis está certa. Assim, juntas, Charlie e Avis vão atrás de autoridades para relatar o que descobriram, entretanto, não são recebidas e as chamam de “loucas”. Ao fim da trama, é implícito que Charlie estava no avião, que tomado por terroristas, colidiu com as torres gêmeas e fez parte do trágico evento do dia 11/09/2001, e consequentemente foi responsável por registrar tal tragédia.
O destaque da obra, sem dúvida, é o roteiro. A história é misteriosa e prende o espectador. Sua premissa de enredo é inovadora e capaz de sustentar a história, isso porque, logo de início, fica evidente a proposta ficcional, deixando o espectador intrigado com o evento desconhecido que Charlie veio a Terra gravar. Além de um roteiro interessante e cativante, a obra conta com uma ótima atuação da atriz que interpreta a protagonista e contém músicas que completam a atmosfera de mistério e extraordinariedade. Por outro lado, a trama carece de diálogos, o que pode dar a impressão de que ela é devagar, e algumas cenas poderiam ser mais curtas, como a cena inicial e a cena da Charlie buscando a “pelota” que ela libera contento informações para os alienígenas.
Figura 1 Cena “The Recordist”
No vídeo, também temos a apresentação de uma metáfora, muito instigante, que pode ser vista como um “foreshadowing” da obra, um prenunciando. Em dado momento, Avis pergunta a Charlie sobre o que ela sonha a noite, e Charlie diz que sonha, repetidamente, “… (com) pássaros, em queda livre. E eu não consigo dizer se eles estão mergulhando, tipo voando em queda livre, ou se estão apenas mortos e caindo do céu” diz Charlie, o que faz o público pensar sobre o significado do sonho dela, dado que eles soam como uma metáfora, pela simples razão de ser poético e distinto. Assim, ao fim do curta, vemos que a metáfora do “mergulho” dos pássaros era uma explicação indireta que o curta nos dá sobre o que vai suceder na obra, que, no caso, é o avião que vai cair, e percebemos que por mais que parecessem ser pássaros voando, Charlie sonhava com ela mesma, e outras pessoas, que estariam dentro da aeronave que cairia, colidindo no terrível e emblemático atentado. Portanto, o uso dessa estratégia do “foreshadowing” é ótima e deixa a obra poética, e dá aos espectadores uma forma de trilhar um caminho para a conclusão do enredo.
Dessa forma, fica perceptível que o objetivo da obra, além do entretenimento, é a reflexão sobre a nossa realidade, uma vez que o curta nos propõe novas possibilidades. Então, é fácil concluir que, por mais que tenha pontos a serem melhorados como em muitos outros curtas, “The Recordist” é uma obra de qualidade e que vale a pena assistir. Sem dúvida, a trama é formidável e devo acrescentar que poderia facilmente ter uma sequência de alto nível, mesmo tendo um final que supre sua proposta inicial.
Portanto, se você quer ouvir uma história envolvente e que te faça conectar com uma ficção mística e completa, “The Recordist” é uma ótima escolha, uma vez que nos faz refletir se estamos sozinhos e se somos realmente a forma de vida mais inteligente do universo. E com vontade, recomendo mergulhar na história como se você estivesse voando em queda livre.