Memória no jornalismo digital como alternativa de combate à desinformação durante a pandemia

Imagem: Freepik

Por Carolina Lopes Marques.

Com o jornalismo digital cada vez mais pautado no imediatismo, os acontecimentos se tornam ultrapassados e obsoletos de forma rápida, principalmente durante a pandemia da Covid-19, quando todos os dias são divulgadas novas informações sobre o vírus e seus efeitos. Entretanto, a web viabiliza acesso mais fácil à memória, possibilitando o reavivamento das notícias e maior contextualização e aprofundamento sobre o assunto. Há também, no meio online, a capacidade de armazenamento, o que permite uma base de dados bastante completa.

De acordo com Rosane Amadori e Márcia Marques, “é certo que a agilidade se consagrou como característica do jornalismo, mas a web instaurou o sentido de imediatismo”. Sendo assim, segundo elas, a notícia online é mais valorizada a partir de sua rapidez e instantaneidade, ou seja, os jornalistas se veem mais impelidos a dar as notícias de forma rápida e em primeira mão. O jornalismo digital tem o imediatismo como principal característica. A rapidez com que as notícias são dadas na web pode atrapalhar o processo de produção jornalística em que a informação é checada com rigor e exatidão, como vimos nas notícias sobre o coronavírus. É a instantaneidade na internet que faz com que os profissionais de comunicação sejam cada vez mais pressionados a lidar com o imediato dos acontecimentos. Esse fator do imediatismo é visto como um fetiche na relação dos jornalistas com o tempo, conforme Nelson Traquina 

A todo momento saem novas notícias sobre o coronavírus, o que contribui para o conflito de informações sobre o vírus, seus sintomas e as formas de cura, como foi o caso, por exemplo, da recomendação contraditória da cloroquina como remédio para combater a Covid-19. Sendo assim, apesar de essa nova forma de se noticiar, pautada pelos avanços tecnológicos das redes, ser baseada em critérios de noticiabilidade e valores notícia, não é anulada a importância da triagem das informações que chegam. Para Sílvia Moretzohn, em “A velocidade como fetiche”, o fascínio acontece em relação à velocidade, tempo, imediatismo e noticiabilidade. A autora ainda alerta para uma adversidade do jornalismo instantâneo na web que é a falta de tempo do jornalista para pensar. Para António Fidalgo a urgência do imediato “sobrepõe-se às exigências da objectividade e da verificabilidade”. 

Com o jornalismo digital prevalentemente pautado no imediatismo, os acontecimentos se tornam ultrapassados e obsoletos de forma cada vez mais rápida. Entretanto, a web viabiliza acesso mais fácil à memória, que torna possível ao leitor obter um conjunto de textos que permite aprofundamento sobre o conteúdo da notícia. O meio online possui a capacidade de armazenamento, o que permite uma base de dados bastante completa. De acordo com Marcos Palacios, esses meios “disponibilizam espaço virtualmente ilimitado para o armazenamento de informação que pode ser produzida, recuperada, associada e colocada à disposição dos públicos-alvo visados”. É dessa forma que a memória é ativada, pois a web viabiliza a recuperação de conteúdos do passado em forma de arquivos digitais como textos, vídeos, fotos ou áudios. Para Palacios, no jornalismo digital, temos um espaço infindável, que quebra com os limites físicos da memória. O jornalismo no meio online, ainda de acordo com Palacios, conta com uma “memória múltipla, instantânea e cumulativa”. 

Dessa forma, essa base de dados possível no jornalismo digital pode ser entendida como uma das estratégias contra a desinformação causada pela grande quantidade de notícias que recebemos diariamente. Os canais de comunicação na web possuem a oportunidade de amplificação de vozes, além de ganhar uma maior potência para produzir e publicar conteúdos, conquistando a atenção de mais pessoas. Essa “potencialização” é defendida por Palacios, pois os “limites espaciais para disponibilização de material noticioso” começam a ser quebrados, o que, para o autor, é uma particularidade que deve ser utilizada de forma que ocorra a reconfiguração das dimensões jornalísticas.

Carolina Lopes Marques é mestranda do Programa de Pós Graduação em Comunicação Social da PUC Minas

Referências 

AMADORI, R. e MARQUES, M. (2001). Os critérios de noticiabilidade no jornalismo on line. In 3o seminário de Ciberjornalismo, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Disponível em: <http://www.ciberjor.ufms.br/ciberjor3/2011/08/17/os-criterios-de- noticiabilidade-no-jornalismo-on-line/>

FIDALGO, A. (2007). A resolução semântica no jornalismo online. In Barbosa, S. (Org.), Jornalismo Digital de Terceira Geração. Covilhã: LabCom. 

MORETZOHN, S. (2000). A velocidade como fetiche – o discurso jornalístico na era do “tempo real”. Biblioteca Online de Ciências da Comunicação. Disponível em: <http://www.bocc.ubi.pt/pag/moretzsohn-sylviavelocidade-jornalismo-3.html>

PALACIOS, M (2002). A memória como critério de aferição de qualidade no ciberjornalismo: alguns apontamentos.  para debate. In: Anais do Workshop de Jornalismo Online, Covilhã.

PALACIOS, M (2014). Memória: Jornalismo, memória e história na era digital. In: CANAVILHAS, João (Org.). Webjornalismo: 7 características que marcam a diferença. Covilhã: Livros LabCom. 

TRAQUINA, Nelson (2004). Teorias do jornalismo: porque as notícias são como são. Florianópolis: Insular.