Por Maria Luiza Sant’Ana Guidugli
Aqueles que vivem nos grandes centros urbanos, “nas residências arejadas, nos edifícios de cimento e vidro” não enxergam (ou não querem enxergar) o problema da maioria absoluta dos brasileiros. Dizem que o povo não sabe receber os meios para melhorar de vida quando estes lhes são dados, que os analfabetos não têm capacidade de votar ou, então, colocam que é preciso importar europeus e americanos, “gente honesta” (e branca) para o país. Durante essas falas, vemos na tela os alvos das críticas: os trabalhadores, o povo nordestino. Para a elite, não passam de vagabundos, mal agradecidos e incapazes. Na voz do escritor Ferreira Gullar, os números assustam: são 80 milhões de brasileiros quando o filme foi produzido, 40 milhões analfabetos. 25 milhões vivem no Nordeste e a ampla maioria destes não possui acesso a alimentos considerados básicos, como carne, ovos e leite.
Hirszman, então, nos leva para o sertão nordestino para ouvirmos as vozes de quem vive na dura realidade da miséria e do analfabetismo, as pessoas tão massacradas pela elite. Homens e mulheres com roupas gastas e rasgadas passam o dia trabalhando nas lavouras de cana-de-açúcar, esquecidos pelo Estado. Não há escolas para as milhões de crianças da região. Como narra Gullar, o analfabetismo se espalha como as doenças e a fome que assolam a região. Tudo está interligado e – por que não arriscar dizer? – planejado.
Logo nos primeiros anos após a chegada dos portugueses, definiu-se o Brasil. As capitanias hereditárias delimitaram as relações desiguais de poder na sociedade que se formava, relações essas que foram intensificadas com a escravidão, como é narrado no documentário. Tal estrutura da sociedade brasileira se perpetua após séculos: muito nas mãos
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