“Love, Death + Robots”: sobre paradoxos, tristeza e algum futuro

Cena do episódio Zima Blue. Reprodução / Netflix

Por Clara Mariz; Esther Armanni; João Pedro Junqueira; Pedro Chimicatti.

“Love, Death + Robots” é uma série antológica de animações adultas produzida pela Netflix, lançada em 2019. Produzida por Joshua Donen, David Fincher, Jennifer Miller e Tim Miller, a série conta com a construção de narrativas completas em episódios curtos (de 8 a 17 minutos), sempre tratando os temas com abordagem futurista.

A temporada disponível possui 18 episódios, que aparecem em uma ordem diferente para cada usuário da plataforma, o que a Netflix afirma ser uma forma de personalizar a experiência de cada usuário. Cada um dos episódios aborda um tema diferente, mas sem se afastar muito da temática central já expressa no título: amor, morte e robôs. 

Ao melhor estilo “Black Mirror”, a estética, a abordagem e as discussões colocadas em cada capítulo são bem diferentes, dando uma ênfase na característica antológica do trabalho, que pode ser visto literalmente de maneira aleatória, sem que as histórias sejam afetadas por isso. Um dos marcos da série, porém, fica para o fato de que praticamente todos os curtas possuem um caráter reflexivo e, de certa forma, filosóficos, que deixam pontas soltas e nos fazem pensar após o fim do episódio.

Pensando na temática proposta pelo título da série, uma das poucas dicas que se tem sobre seu núcleo, o episódio “Zima Blue”, dirigido por Robert Valley, explora muito bem o tema “robôs” enquanto retrata também a morte, porém, diferente da maneira que se vê em outros episódios, como “A vantagem de Sonnie”, dirigido por Dave Wilson e Gabriele Pennacchioli. A passagem no primeiro é tratada de maneira sensível, ressignificando a vida e a morte. O personagem principal do episódio de 10 minutos foi criado para ser um robô que limpa piscinas e com o tempo foi sendo desenvolvido até se tornar um ser pensante e um artista reconhecido. 

Ao decorrer da animação, que remete a cartoons, Zima viaja pelo universo buscando respostas e querendo se tornar apenas um com o cosmos – sendo posteriormente entendido como uma jornada para dentro de si – e, apesar de todo sucesso e reconhecimento, ele sentia falta de fazer o que tinha sido criado para fazer. Aos poucos, o robô artista passa a conectar sua vida passada e a presente em suas obras, deixando a primeira ocupar cada vez mais espaço na segunda, o que é bem demonstrado em suas criações. Até que, em sua última obra, ele recria a piscina que foi feito para limpar, deixando claro que encontrou a resposta que buscava: se abdicar de sua nova vida e retornar ao seu verdadeiro propósito. 

Simbolicamente, Zima significa “aquele que está a sombra”, enquanto “blue”, além da cor, remete a tristeza, em inglês, fazendo jus ao sentimento de miudeza que surge com o episódio e a ideia de que “o nome diz muito sobre as pessoas”. Ao fim, a morte é um retorno à essência, e, ao mesmo tempo, um novo início.

Enquanto isso, episódios como “A Testemunha” conseguem trazer reflexões bem diferentes com uma narrativa muito mais acelerada e frenética. O episódio, que retrata uma perseguição entre uma pessoa que acabou de ver um assassinato e o assassino, passa por ruas de uma cidade futurística, prédios, corredores, uma casa de prostituição e, enfim, um apartamento, dando rapidamente uma forma de situar o espectador no ambiente. 

Com cores que saltam aos olhos, movimentos (tanto de câmera quanto dos personagens) exagerados e efeitos sonoros secos, no episódio, escrito e dirigido por Alberto Mielgo – diretor de arte de Homem-Aranha no Aranhaverso –  fica claro como o estilo da animação ajuda a contar a história trazendo fluidez, estranheza, incômodo e velocidade ao mesmo tempo.

Essa estranheza é também passada pela própria história. O episódio, de poucas falas, apresenta um assassinato nos primeiros frames, personagens desesperados e fora do padrão, uma casa de prostituição e, por fim, uma forma de fechamento da história que apenas a abre mais, de forma que a situação dos personagens só pode existir dentro de um looping temporal, o que deixa a narrativa aberta a interpretações e, ao mesmo tempo, presa ao paradoxo.

A temporada naturalmente não se resume a esses dois episódios mais abordados aqui, mas os recursos aplicados em ambos definitivamente elucidam os caminhos da série. Animações originais e diferentes e roteiros criativos e ficção científica parecem ser os pré-requisitos para que um dos curtas integrem a lista. 

Ainda assim, é importante ressaltar que a originalidade se faz presente mais em forma do que em conteúdo. Apesar de contar excelentes histórias, é possível retirar delas as referências para sua construção. Nada disso muda o fato de que “Love, Death + Robots” é divertida para quem quer se deleitar com um episódio de série, rápido para os que não toleram passar horas maratonando em frente à tela e surpreendente para quem se deixa levar pelas ideias sugeridas nos capítulos.

Love, Death + Robots – 1 temporada (EUA, 2019)

Direção: Joshua Donen, David Fincher, Jennifer Miller e Tim Miller

Roteiro: Joshua Donen, David Fincher, Jennifer Miller e Tim Miller

Duração: 18 episódios com duração de 7 a 20 minutos

Gênero: Série de ficção científica, suspense para a TV, Séries de Terror

Trabalho produzido para a disciplina de Jornalismo Cultural do 8º período do curso de Jornalismo do Coração Eucarístico.

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