Anne With An E: questões socioculturais através dos séculos

Anne With An E estreou em 2017 / Reprodução: Instagram 

Por: Bruna Silveira, Júlia Grego, Kívia Morrana e Luísa Dell Isola.

“Não é o que o mundo tem pra você, é o que você traz ao mundo”. Essa frase, dita durante um dos episódios, caracteriza não somente os ensinamentos que os personagens vivem no decorrer da série, mas também o legado deixado para os telespectadores que acompanharam Anne With An E.

Baseada no clássico “Anne de Green Gables”, da canadense Lucy M. Montgomery, Anne With An E é uma série fruto da parceria entre o canal televisivo CBC (Canadian Broadcasting Corporation) e o serviço de streaming Netflix. Adaptada  por Moira Walley-Beckett, a obra conta a história de uma menina, Anne Shirley, que aos 13 anos, é adotada por engano pelos irmãos Marilla e Matthew Cuthbert, que buscavam ajuda para trabalhar na fazenda de Green Gables, propriedade da família. 

Mas o relacionamento que se iniciou por um erro de comunicação vai amadurecendo ao longo dos 27 episódios que compõem as três temporadas. Através de uma fotografia surpreendente e uma trilha sonora tão poética quanto a própria protagonista, acompanhamos a evolução da agora Anne Shirley-Cuthbert (Amybeth McNulty) acerca de suas percepções sobre o mundo e sobre si mesma.

Com ritmo lento em sua primeira temporada, o piloto é bastante introdutório e pode ser cansativo, já que possui 1h28min de duração. O mesmo acontece nos próximos episódios da primeira parte, que contextualizam a série e apresentam os demais personagens. Neles, descobrimos um pouco do passado de Anne, que cresceu em um orfanato e em casas de famílias, onde sofreu diversos tipos de abusos e traumas. 

O passado da personagem principal e os traumas sofridos por ela acabam moldando sua personalidade, a transformando em uma menina impulsiva, sonhadora e levemente dramática. Ao mesmo tempo, a ruiva também é uma mulher forte, positiva e apaixonada por literatura. Ao longo da série, estes traços se mostram essenciais.

O relacionamento de Anne com os irmãos Cuthberts amadurece / Reprodução: Instagram 

Com muito romance, drama e aventura, a produção não deixa de abordar e retratar questões sociais. Ao longo da jornada da adorável Anne, a menina se depara com assuntos considerados tabus pela época. De maneira responsável e até didática, temas como adoção, liberdade de imprensa e  feminismo são retratados ao longo da jornada. Questão escancarada, o racismo é mostrado pela trajetória de Bash e Mary. A cidade questiona quais seriam as intenções de Bash, somente pela cor de sua pele, sobre Gilbert, colega de Anne e sócio do homem que conheceu durante uma viagem.

Passando também por questões como homossexualidade, liberdade de expressão e de imprensa, abuso de autoridade, bullying, assédio, autoaceitação e tantos outros, a história surpreende em como algumas discussões ainda são atuais e problemáticas, ainda que se passe no século XIX. Na terceira temporada, é exposto o preconceito contra a comunidade indígena Mi’kmaq, que teve grande parte de sua história apagada dos domínios canadenses. Kak’wet, jovem indígena que vira amiga de Anne, enfrenta não apenas o tratamento hostil da cidade de Avonlea, mas também é obrigada a frequentar um centro de catequização para aprender sobre o cristianismo, uma vez que a igreja e membros da cidade acreditam que a tribo seja selvagem e que a religião seja do “demônio”. Suas almas só poderiam ser salvas através do cristianismo.

Anne aprende sobre a cultura Mi’kmaq / Reprodução: Instagram

A história e a protagonista podem ser descritas como à frente de seu século, como diz a música de abertura da série “Ahead by a century”. Anne vive em 1890 e consegue quebrar preconceitos, tabus e paradigmas que são enraizados na sociedade e século em que vive, dando, aos que assistem, esperança de um futuro melhor.

Devido à divergência de contratos entre as empresas e à falta de público esperado, a série teve seu fim anunciado em 2019. A decisão causou revolta entre seus telespectadores, que organizaram uma petição com mais de 1 milhão de assinaturas pedindo a renovação do programa. Porém, encerrada definitivamente na terceira temporada, a história de Anne com “E” tem seu ciclo fechado, ainda que deixe pontas soltas acerca de outros personagens que renderiam uma quarta temporada.

Anne With an “E” – (Canadá, 2017-2019)

Direção: Niki Caro, David Evans, Paul Fox, Sandra Goldbacher, Patricia Rozema, Helen Shaver, Amanda Tapping.

Roteiro: Moira Walley-Beckett, Kathryn Borel, Naledi Jackson, Alina Mankin, Shernold Edwards, Jane Maggs, Amanda Fahey, Tracey Deer. Baseado nos livros de Lucy Maud Montgomery.

Elenco: Amybeth McNulty, Geraldine James, RH Thomson, Lucas Jade Zumann, Dalila Bella, Corrine Koslo, Aymeric Jett Montaz, Dalmar Abuzeid, Cory Gruter-Andrew, Joanna Dougla, Kiawentiio Tarbell

Duração: 27 episódios com cerca de 40 – 50 minutos cada

Trabalho produzido para a disciplina de Jornalismo Cultural do 8º período do curso de Jornalismo do Coração Eucarístico.

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