“Ilha das Flores”: o curta de 1986 que, infelizmente, continua atual e relevante

 

Por: Sara Muniz

Ilha das Flores, próxima a Porto Alegre, era o local onde se depositava o lixo produzido pela capital gaúcha na década
de oitenta. Também é o nome do curta metragem de 1986,de Jorge Furtado, que tem como principal tema pessoas
que sobrevivem com a sobra dos alimentos dos animais. A obra acompanha a trajetória de um tomate, desde a
colheita ao descarte, até a chegada ao lixão da ilha, com o objetivo final de esclarecer a diferença existente entre
tomates, porcos e seres humanos.

A história começa com a produção do fruto, que foi plantado, colhido, transportado e vendido pelo produtor
para um supermercado, onde é comprado, dessa vez por uma consumidora que obtém seu dinheiro por meio da
venda de perfumes, que cheiram a flores, que são compradas pela empresa de perfumaria para então extraírem a fragrância. A película vai apontando como atos mundanos, muitas vezes despercebidos pelo por pessoas
comuns, impactam a vida de todos, mostrando que fazemos parte de um ciclo maior.

O filme utiliza da técnica de desfamiliarização, que a princípio apresenta ao público coisas comuns, das quais o
telespectador já tem ciência, de uma maneira diferente, para que tenhamos uma nova percepção e possamos
analisar as situações por outras perspectivas. Por causa disso, há a constante atribuição de conceitos a tudo o que
está sendo apresentado, dando a ideia de que estamos sendo expostos a tal situação pela primeira vez.
Existe um grande enfoque no que é ser “humano” e na sua capacidade e inteligência e como ele se diferencia dos
outros animais. Entretanto, toda essa diferença em favor do ser humano, não o exime de evitar que outros da mesma
espécie passem fome. À luz dessa conclusão, o ser humano é mostrado, mesmo com toda sua superioridade
intelectual, como um ser irracional.

Nesse contexto, podemos compreender que o curta propõe que reflitamos sobre os efeitos que o sistema capitalista em
tem na vida da população. Ao longo da produção, são tratados assuntos como as desigualdades sociais, a ausência de políticas públicas para solucionar a miséria da população brasileira e a produção de lixo desenfreada, por causa de hábitos consumistas da coletividade.

Quatro décadas após o lançamento do curta, ele ainda segue bastante atual, principalmente agora com a volta do
Brasil para o mapa da fome. O documentário de quinze minutos é atemporal e até os dias de hoje pode ser a porta
de entrada de muitos brasileiros para um maior entendimento da condição subumana que muitos infelizmente são submetidos. O vídeo, tragicamente, reflete a realidade de vários países do globo e após tantos anos continua a representar tristes paisagens e realidades.

2 comentários em ““Ilha das Flores”: o curta de 1986 que, infelizmente, continua atual e relevante

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