Promovida pela Coletiva Malva, a Mostra de Cinema Feminista chega a sua sexta edição em agosto de 2021. Com o objetivo de estimular o trabalho de mulheres no setor audiovisual, a Coletiva reúne diversas obras em uma curadoria cuidadosa e preocupada em não delimitar as experiências dessa categoria que é iminentemente política. Dentre os 126 filmes exibidos, o filme mineiro Filhos da Puta (Santuzza Alves de Souza, 2019) e o espanhol Faça Seu Próprio Pornô – DIYSex (Maria Lorente, Juno Álvarez, Yaiza de Lamo e Mariona Vázquez, 2019) abordam, de maneiras distintas, um dos temas mais difíceis e inarredáveis para os feminismos.
O trabalho sexual ainda desperta fortes conflitos e discordâncias, e não raramente a voz e o olhar das próprias sujeitas que exercem o ofício são obnubilados para se priorizar narrativas – elaboradas desde um lugar de fala outro – de vitimização, desamparo e sofrimento. Não que a situação precária – intencional e politicamente induzida, como já dizia a filósofa Judith Butler – que acomete certos grupos não deva ser tensionada pelo cinema; mas ao trabalho sexual são aferidas imagens de uma espoliação que existe, na verdade, em outras várias atividades laborais no capitalismo neoliberal vigente.