Por Náthaly Escobar
A CNN Brasil (Canal de televisão comercial voltado inteiramente para o jornalismo) convidou há alguns meses o humorista brasileiro Pedro Cardoso, conhecido principalmente pelo papel de Agostinho Carrara em “A grande família”. Vale ressaltar que o humorista comenta bastante sobre política em suas redes sociais, podendo inferir que seja por esse
motivo a escolha do convidado. O programa em questão intitula-se Arena e constitui-se de debates acerca de temas políticos, o famoso intérprete do personagem Agostinho estava lá para comentar sobre o que fora proposto.
Em uma esteira de ideias, o primeiro assunto foi a indicação de Dilma para a nova presidente do BRICS, alguns questionaram o valor do salário e a qualificação da ex-presidente para o cargo, e também o comentário do Presidente Lula sobre uma então ameaça do PCC ao Senador Sérgio Moro. Vale contextualizar que o Senador publicou no Twitter que o e-mail utilizado por membro da organização criminosa utilizava o endereço de nome “lulalivre1063”. O presidente Lula declarou em entrevista que o fato seria investigado, mas que era visível ser uma “armação do Moro”.
Na sequência do programa, Pedro Cardoso é interpelado e pede para comentar não o tema debatido, mas o contexto do jornal em si. Ele diz que a eleição do tema revela o interesse da empresa e questiona o que ela deseja com esse debate, definido por ele como “mera sucessão de monólogos que empobrecem a mobilidade do pensamento”, declarando não haver diálogo sincero e interesse no pensamento do outro, perguntando-se até o motivo que estaria por trás do convite que recebeu para ir ao programa. O ator argumenta que existem questões invisíveis, mas fundamentais para o público perceber aquilo que é evidentemente narrado e em como a ausência de uma sincera dialética no jornalismo interfere na liberdade de pensamento e informação dentro da grande mídia.
Nessa linha de raciocínio, é importante pensar como o jornalismo ajuda na construção de realidades, porém, a partir do momento que a realidade é fundada em interesses de empresas privadas ele perde a sua função social e atua somente como manobra capitalista, cujo o seu principal objetivo é exclusivamente o lucro.
Estabelecendo uma sequência às partes do jornal, o ator e humorista conduz a ideia para o programa e sobre como eles estavam conduzindo o debate. Argumenta que “há uma questão de linguagem. O fascismo brasileiro exerce um domínio sobre as consciências do povo ao controlar os discursos” e destaca o fato de as pessoas não deixarem se modificar em
nenhum momento pelo pensamento do outro, só esperam a vez de confirmar aquilo que sempre acharam que fosse a resposta. Pedro Cardoso também argumentou que quando ele trabalhava na TV Globo ele era uma intercessão entre os interesses da empresa e o público, mas destaca que ele não trabalhava com fatos e sim invenções.
Ao final de toda a construção do pensamento ele propõe uma reflexão aos jornalistas: “Vocês são pessoas livres? Vocês, quando vão trabalhar, sentem alguma pressão do interesse do capitalista que emprega vocês?”. O jornalista Felipe Moura, claramente recebendo instruções, ao invés de responder, encerra a conversa e anuncia outra participação do
programa, terminando a participação do ex-ator da Globo.
Propondo uma continuidade do pensamento, é imprescindível pensar a expansão do jornalismo independente e alternativo, de forma que o meio de comunicação não seja totalmente submetido às vontades do mercado. Os interesses privados que comandam a mídia interferem na qualidade da informação, desde a produção sensacionalista em busca de
audiência, até às narrativas moldadas intencionalmente a partir de interesses minoritários, porém hegemônicos.
Parte importante da imprensa brasileira deve fazer uma profunda revisão de si mesma, é o que diz com razão Fabiana Moraes, jornalista e professora da UFPE, em seu texto “A militância da imprensa comercial que a Folha de S.Paulo ainda tenta esconder”, em matéria para o The Intercept. Por fim, debruçando-se sobre as ideias da autora, é necessário desenvolver uma consistente crítica à grande mídia brasileira com o objetivo de refletir e repensar uma verdadeira dialética no jornalismo do país. É importante que as instituições jornalísticas cumpram seu papel social e atuem de modo a colaborar com a promoção de uma democracia popular e justa.