A Tragédia no Rio Grande do Sul e a urgência de políticas ambientais para o mundo

Por: João Víctor Plá

Imagem reprodução: G1

A tragédia no Rio Grande do Sul deixou escancarado, até mesmo para os mais céticos, que o mundo enfrenta um evidente colapso climático. Desde o início das chuvas no final de abril até o presente momento, mais de meio milhão de gaúchos estão desalojados e 78 mil estão em abrigos. Mais de 127 mil estão sem energia e 136 mil sem água. 157 pessoas são vítimas da tragédia e 88 estão desaparecidas.

No entanto, essa tragédia não é apenas um evento isolado. Em todo o globo, observa-se que tragédias ambientais são cada vez mais comuns. Além do RS, países como o Afeganistão, Indonésia e Quênia, estão sendo assolados por grandes desastres ambientais  nesta primeira quinzena de maio. Essa reincidência não é mera coincidência; há pelo menos 35 anos, ambientalistas e estudiosos alertam para o perigo iminente do aquecimento global e de todas suas vertentes que, infelizmente, mostram seus resultados nos dias atuais.

Alteração do regime das chuvas, ciclones, calor intenso e desertificação são algumas das várias consequências que a crise climática, hoje vivida, causa no planeta. Combinado a isso, percebe-se um explícito descaso dos governos às questões ambientais. Segundo o site de notícias “Brasil de Fato”, o governador Eduardo Leite (PSDB), flexibilizou toda a legislação ambiental e o código ambiental do estado, com mudanças estruturais nas áreas de unidades de conservação. Além disso, depois do ciclone extratropical que atingiu o Rio Grande do Sul em 2023, Leite destinou apenas R$115 milhões para o enfrentamento às catástrofes ambientais, o que representa menos de 0,2% do orçamento total do Rio Grande do Sul. Já a prefeitura de Porto Alegre, chefiada por Sebastião Melo (MDB), não destinou nenhum valor para a prevenção de enchentes.

Além deste descaso, dados comprovam que, de 2021 a 2022, houve um aumento de 27,2% de área desmatada nos pampas. Sabe-se, há anos, que a presença de áreas de matas nativas é fundamental para o escoamento dos rios em épocas de grandes chuvas. Todavia, observa-se um aumento das áreas desmatadas, um apoio por parte do governador à mineração e uma flexibilização da legislação ambiental no estado.

Em março de 1974, uma enchente arrasou o Rio Grande do Sul e José Lutzenberger, um dos maiores ambientalistas do país, já naquela época, escreveu sobre a interferência do homem na natureza e como isso intensifica as tragédias.

“Antes das interferências irracionais do homem, cada local tinha a cobertura vegetal que convinha às condições do lugar. (…) A flora e a fauna, o solo com sua microfauna e microflora estavam de tal maneira estruturados que tinham condições de enfrentar, sem estragos importantes, todas as vicissitudes da região. Se assim não fosse, não teriam sobrevivido até a chegada do homem ‘civilizado’. Nessas condições, a erosão física era praticamente inexistente.”

 

Imagem reprodução: UOL Notícias

O climatologista Carlos Nobre explica que eventos, como o que aconteceu no RS, serão cada vez mais frequentes, o que destaca, portanto, a urgência de priorizar as pautas ambientais.  “Reduzir rapidamente, a jato, as emissões de gases do efeito estufa é absolutamente mandatório. Isso não é uma opção, não é uma escolha”, afirma. Além de dar prioridade às questões ambientais, é imprescindível que os governantes tenham planejamentos e investimentos para evitar tragédias e agir com responsabilidade. São necessárias ações concretas.

Em um artigo de opinião do jornal O Globo, na edição do dia 15 de maio, a jornalista Vera Magalhães comparou a crise climática a uma pandemia. A semelhança não é algo utópico. Pessoas têm morrido, toda a população está sendo afetada de alguma forma e muitos estão presos em casa. É necessário que os governos do mundo enfrentem a crise climática como uma pandemia. A prioridade tem que ser tentar reverter o cenário atual, pelo bem da humanidade. A pauta ambiental tem que estar presente em todos os lugares do mundo. “É hora de dar poder e caneta àqueles que sempre bateram nas teclas de que a emergência climática era uma realidade e de que a necessidade de adequar a economia à transição verde, inclusive energética, era para já”, declara a jornalista.

 

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