Por: Isabela França Prates
A representação cultural na mídia infantil desempenha um papel vital na formação da identidade e das percepções das crianças sobre o mundo. Ao verem suas próprias culturas refletidas de forma positiva e precisa, as crianças ganham uma sensação de orgulho e pertencimento. Da mesma forma, ao serem expostas a outras culturas, elas aprendem a valorizar a diversidade e a desenvolver empatia.
A série “Avatar: A Lenda de Aang”, lançada pela Nickelodeon em 2005, é aclamada por seu rico leque cultural, que se inspira em diversas tradições e práticas de várias partes do mundo. A série se passa em um universo fictício onde existem quatro nações, cada uma representando um elemento natural: Terra, Fogo, Água e Ar. Cada nação é
culturalmente distinta, com bases em civilizações reais.
A primeira, Nação do Fogo, foi inspirada em culturas do Leste Asiático, especialmente a japonesa. A arquitetura, vestimentas e práticas militares refletem aspectos da era feudal japonesa. A Tribo da Água, baseada nas culturas Inuit e outras populações indígenas do Ártico, refletindo um profundo respeito pela natureza e uma adaptação às condições
climáticas severas. O Reino da Terra, inspirado pela China antiga, com sua vasta extensão territorial, estrutura política e filosofia baseada em harmonia e resistência. Por fim, a nação Nômades do Ar, influenciados pelo budismo tibetano e mongol, com uma ênfase em espiritualidade, pacifismo e uma profunda conexão com a natureza.
Os criadores de “Avatar”, Michael Dante DiMartino e Bryan Konietzko, realizaram uma extensa pesquisa para garantir que as representações culturais fossem autênticas e respeitosas. Eles consultaram especialistas em artes marciais, caligrafia chinesa, filosofia oriental e história para criar um mundo que fosse, ao mesmo tempo, ficcional e profundamente enraizado em culturas reais.
A abordagem da série não apenas apresenta esses elementos culturais de forma respeitosa e detalhada, mas também educa o público jovem sobre a riqueza e a diversidade das culturas ao redor do mundo. Isso é crucial em um mundo cada vez mais globalizado, onde a compreensão e o respeito pela diversidade são essenciais.
No caso de “Avatar: A Lenda de Aang”, o canal de YouTube de Xiran Jay Zhao oferece uma análise detalhada das inspirações culturais por trás da série. Zhao explica para os espectadores o quão precisas são essas representações culturais, destacando o cuidado e a pesquisa envolvidos na criação da série. Seus vídeos destrincham elementos como a caligrafia chinesa real, técnicas de artes marciais baseadas em estilos tradicionais e a filosofia oriental que permeia a narrativa. Este tipo de análise é valioso para entender como a mídia pode e deve abordar a diversidade de forma respeitosa e informada.
No Brasil, essa importância é reforçada por iniciativas como os editais afirmativos do Ministério da Cultura, que buscam fomentar a produção audiovisual diversificada, promovendo a inclusão de diretores estreantes de origens variadas, incluindo pessoas negras, indígenas e mulheres.
“Uma História de Amor e Fúria” (disponível em: https://youtu.be/QGAzV30C6BE?si=h7uw1hR2RRQ5Al29 e atualmente na Netflix) é uma animação brasileira, lançada em 2013, que também destaca a diversidade cultural. O filme aborda 600 anos da história do Brasil, passando por momentos cruciais como a colonização, a escravidão, a ditadura militar e as lutas indígenas. Ganhador de 3 prêmios internacionais e indicado ao Oscar de melhor filme de animação na 2014 esse filme é exemplo excelente de como a animação pode ser utilizada para contar histórias complexas e importantes de forma acessível e envolvente.
O filme não só educa sobre a história do Brasil, mas também celebra a resistência e a resiliência das culturas indígenas e afro-brasileiras, proporcionando uma perspectiva rica e diversificada da história brasileira.
Assim, a diversidade cultural na animação é uma ferramenta poderosa para educar e inspirar o público jovem. “Avatar: A Lenda de Aang” e “Uma História de Amor e Fúria” são exemplos brilhantes de como a animação pode celebrar e ensinar sobre a riqueza das culturas do mundo. Ao promover a compreensão e o respeito pela diversidade, essas obras contribuem para a formação de uma sociedade mais inclusiva e empática.