Por: João Victor Plá
Na última quarta-feira (22), o ministro da Fazenda Fernando Haddad participou de uma audiência na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados. A postura do ministro foi um destaque frente aos deputados bolsonaristas, que o acusaram de “negacionista da economia” e que o questionaram sobre o imposto de importação, algo que tem gerado grande repercussão e causado diferentes opiniões no próprio governo.
A sessão me trouxe a lembrança o desenho animado “Papa-léguas e coiote”, o qual todo episódio é uma tentativa frustrada do Coiote pegar o Papa-léguas, mesmo o Coiote usando todas as estratégias possíveis. Assim se sucedeu a audiência. Ultimamente, deputados da oposição têm se comprometido a atarantar o plano de desenvolvimento do país a qualquer custo, talvez na intenção de desmoralizar o ministro e instaurar o caos onde há estabilidade, tal qual o Coiote. “A impressão que dá, é que tem um ‘fantasminha’, fazendo a cabeça das pessoas e prejudicando o nosso plano de desenvolvimento” manifestou o ministro.
Porém, algo a mais me chamou a atenção nesta reunião. Após o ministro ter mencionado o pagamento de 95 bilhões dos precatórios que tinham sido adiados no último governo, o deputado Abilio Brunini (PL-MT), chamou o ministro de “negacionista da economia” e disse que o Brasil não está se desenvolvendo bem na economia. A comicidade nesta acusação foi sem tamanho, ao ver um deputado bolsonarista atribuir o negacionismo a outro. O resultado disso foi o mesmo que dar a arma ao inimigo. Haddad, portanto, não perdeu a oportunidade e lançou a carta Reverse [1] do Uno: “O senhor me chama de negacionista? Defendi a vacina o tempo todo, (…) vocês negam que a vacina previne, negam essas coisas. Negam que deram um calote em precatório, negam que deram calote em governador e eu que sou negacionista?”
A polêmica foi mais um episódio do inconfundível e clássico negacionismo bolsonarista que faz os deputados negarem a existência de uma conjugação econômica positiva, que trata arte e a cultura como algo vão e que espalha a desinformação para todos os lados, na intenção de manipular cada vez mais gente e de desgastar o atual governo.
No entanto, falar apenas deste negacionismo bolsonarista é fácil. Em toda sessão percebe-se um comportamento mais áspero do ministro, que vai além das provocações da oposição. Este comportamento pode ser fruto das diferentes opiniões do projeto que pode impor a volta do Imposto de Importação para compras de até US$50. Deputados do PT, o presidente da câmara Arthur Lira e o próprio presidente Lula têm se posicionado a favor da isenção dos impostos. “Quando discuti, eu falei com Alckmin: tua mulher compra, minha mulher compra, sua filha compra, todo mundo compra, a filha do Lira compra, todo mundo compra. Então precisamos tentar ver um jeito de não tentar ajudar um prejudicando outro, mas tentar fazer uma coisa uniforme” disse o presidente. Contudo, Lula resiste a debater este projeto agora, enquanto Lira quer que haja uma votação o mais rápido possível.
Haddad tem se posicionado a favor dos varejistas, que dizem ser imprescindível essa taxação. Eles afirmam que existe uma concorrência desequilibrada com os importados e essa taxação seria necessária para igualar os sites estrangeiros ao varejo nacional, além de ser um grande instrumento de arrecadação para o governo. A Confederação Nacional das Indústrias (CNI), afirmou que quem mais se beneficia da isenção de impostos de até 50 dólares são as pessoas com renda mais alta.
Talvez essa situação tenha sido um dos motivos da aspereza do ministro, que o avaliou como importante e pontual frente à câmara dos deputados. Os próximos capítulos serão interessantes. Talvez o governo federal encontre um denominador comum, ou talvez gere mais divergências. Fato é: a “taxa da blusinha” ou “taxa das bugigangas” tem dado o que falar.
[1] A carta “Reverse” é uma carta do jogo Uno, um jogo de cartas. Quando você a joga, o sentido do jogo é invertido. Se estiver indo para esquerda, muda para direita e vice-versa.