Dash & Lily, uma série com clima e decorações natalinas. (Foto: Reprodução)
Por Bruna Sanches, Paulo Soares, Tamires Mazurega.
Dash & Lily é uma série, baseada nos livros “Dash & Lily’s Book of Dares” escritos por David Levithan e Rachel Cohn, que conta a história de amor inusitada de dois adolescentes que são o completo oposto um do outro, mas que se assemelham em suas particularidades que os fazem únicos. Lily é uma garota apaixonada pelo Natal, que carrega o estereótipo de “esquisita” desde pequena, principalmente pela maneira de se vestir. Dash é um garoto que odeia o natal e é julgado por seus amigos por ser “intelectual demais”. E ambos são resistentes às coisas típicas da adolescência, porém por motivos diferentes que compõem suas personalidades. Eles se conhecem através da livraria favorita de ambos, na qual Lily esconde um caderno com desafios – com o incentivo de seu irmão para que ela viva uma história de amor – para que alguém o encontre e faça os desafios até conhecer a quem pertence, além disso, eles se comunicam através de recados escritos no caderno. E essa história é muito bem contada por meio do suspense construído até o encontro dos dois que, de início desenvolvem uma relação apenas pela troca de recados no caderno. A montagem das cenas ajuda a construir esse suspense, quando as personagens estão distantes, porém compartilhando momentos juntos através da escrita, representada pela narração em off de cada um enquanto leem ou escrevem. No terceiro episódio isso é muito bem feito com o uso de uma split screen (tela dividida ao meio com duas cenas acontecendo simultaneamente), numa cena que é provavelmente a mais bonita e significativa para a construção da narrativa da série, que é o momento em que eles se abrem um com o outro.
É importante salientar como a construção dos personagens contribui para a história. Todos os núcleos dentro do enredo são contrastantes, dando a profundidade perfeita para desenrolar os conflitos. A complexidade de cada um consegue retratar algo que muitas vezes é deixado de fora em um clichê: a realidade. Somos introduzidos a situações em que às vezes esperamos por algo, que, no entanto, acontece de outra forma. O primeiro encontro de Dash e Lily, por exemplo, não é nada romântico e é até um pouco desconfortável. Todavia, isso retrata a criação de expectativas. Outro ponto interessante de se destacar é como a representatividade é tratada de maneira muito natural, tanto racial e cultural quanto em relação à diversidade sexual e de gênero , que estão presentes em toda a série. Como a representatividade não é o foco, ela não é ponto de discussão, o que não anula a importância de sua presença.
O quarto de Lily expressa sua personalidade. (Foto: Reprodução)
Um dos pontos mais fortes está na direção de arte. Mesmo sendo gravada em Nova Iorque, onde não se pode alterar muito os cenários externos, a série consegue marcar a personalidade das personagens em pontos cruciais, como no figurino e em suas casas. O cenário dos apartamentos dos protagonistas diz muito sobre eles. Enquanto Lily tem uma casa com mais objetos de cena e decorativos e um quarto cheio de cores, que dá a impressão de pequeno e confortável, Dash está em um apartamento moderno, com poucos objetos de cena e com cores mais neutras. O figurino segue a mesma lógica, mas se destaca por ser algo que está sempre com as personagens. Pode-se ver isso nas peças de Lily, que apenas reforçam seu espírito natalino, com roupas coloridas criadas por ela, como seu vestido feito com luzes natalinas. Já Dash usa sempre roupas com cores neutras e sem muito destaque (normalmente um cinza ou bege), o que reforça a indiferença do protagonista a essa época do ano.
Por fim, ao analisar a história de Dash & Lily, pode-se considerar que é apenas mais uma série clichê que conta um romance entre dois jovens, como várias outras. Porém, essa série se destaca em relação às outras em aspectos, como a montagem, a arte e seus personagens, que trazem representatividade à diversas comunidades, o que a deixa acima de muitas outras do mesmo gênero.
Dash & Lily – 1 Temporada (Estados Unidos, 2020). Netflix
Direção: Brad Silberling, Pamela Romanowsky, Fred Savage
Roteiro: Joe Tracz, Carol Barbee, Lauren Moon, Harry Tarre, Rachel Cohn
Elenco: Midori Francis, Austin Abrams, Dante Brown, Troy Iwata, Keana Marie, James Saito, Jodi Long, Glenn McCuen, Michael Park, Gideon Emery, Jennifer Ikeda, Diego Guevara, Agneeta Thacker, Leah Kreitz, Ianne Fields Stewart
Duração: 8 episódios com cerca de 25 minutos
Trabalho produzido para a disciplina Análise e Crítica de Filmes, do curso Cinema e Audiovisual.