Por Gustavo Fernandes.
Em 2020, o longa-metragem de terror Impetigore (Perempuan Tanah Jahanam) do cineasta indonésio Joko Anwar, foi majoritariamente aclamado no Festival Sundance de Cinema. Posteriormente, no fim de 2020, o filme foi escolhido como o representante oficial da Indonésia no Oscar 2021 (a 93ª cerimônia do Academy Awards). Apesar de não ter sido escolhido pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas para compor a lista de indicados ao prêmio de Melhor Filme Estrangeiro, a obra representa com propriedade a força do cinema de terror na Indonésia, cuja indústria cinematográfica tem ganhado cada vez mais força por meio das plataformas de streaming.
No 40º Indonesian Film Festival, Impetigore levou ostensivas 17 indicações, das quais ganhou seis, incluindo Melhor Filme, Melhor Direção e Melhor Atriz Coadjuvante para Christine Hakim. O filme conta a história da jovem Maya, que retorna com sua amiga Dini pela primeira vez à aldeia onde nasceu. Lá, no entanto, Maya descobre que os moradores da região têm tentado localizá-la e matá-la a fim de encerrar uma maldição que assola a aldeia há anos. É interessante notar como Impetigore valoriza a aventura e a fantasia, compartilhando traços com outras obras recentes do terror local, tais como The Doll (2016) e Boneca Maldita (Sabrina, 2018), filmes assinados por Rocky Soraya e disponíveis na Netflix.
Lançado em 2017, a obra que colocou Joko Anwar no radar internacional do cinema de terror, Os Escravos de Satanás (Pengabdi Setan), foi o filme indonésio de maior bilheteria em seu ano de lançamento. No 37º Indonesian Film Festival, o longa-metragem levou 7 prêmios de suas ostensivas 13 indicações. O filme é uma refilmagem de um clássico terror indonésio de mesmo título lançado em 1980. A obra narra a luta de uma família para lidar com uma série de eventos sobrenaturais que culminam numa noite de horror caótico em que diversos segredos são revelados. Assim como viria a realizar em Impetigore, Anwar confeccionou uma obra aventuresca repleta de reviravoltas e muito caos.
Outro nome importante no terror indonésio contemporâneo é o dos irmãos Mo (como são conhecidos Timo Tjahjanto e Kimo Stamboel). Eles conquistaram popularidade na Indonésia em 2007 com seu curta-metragem Dara, que viria a dar origem ao longa-metragem Macabre (Rumah Dara, 2009). O filme conta a história de um grupo de amigos que aceita dar carona para casa a uma garota misteriosa que alega ter sido assaltada. Ao chegarem ao destino, no entanto, uma série de eventos acaba transformando a noite em um pesadelo interminável. A obra dialoga fortemente com seu título, não economizando em violência gráfica e na construção de tensão por meio de elementos gore (violência explícita).
Dando uma pausa a sua parceria com Kimo Stamboel, Timo Tjahjanto conseguiu repercussão internacional com seu longa-metragem Fortuna Maldita (May the Devil Take You ou Sebelum Iblis Menjemput), exibido no 75º Festival de Veneza e distribuído internacionalmente pela Netflix em 2018. O filme acompanha Alfie (Chelsea Islan), jovem solitária cujo pai está acamado devido a uma doença misteriosa. Objetivando descobrir o que aconteceu e se há alguma conexão entre a doença e a morte de sua mãe, ela viaja para o interior do país. O sucesso do longa-metragem fez com que Timo logo realizasse uma sequência, que recebeu o título em inglês de May the Devil Take You Too (Sebelum Iblis Menjemput Ayat 2).
Apesar de ser frequentemente desdenhado em diversos mercados ao redor do mundo, o cinema de terror conquistou o público indonésio e colocou a indústria cinematográfica do país em diversas mostras e festivais de cinema nacionais e internacionais. Abordando tradicionalmente aspectos da cultura e do folclore local, o cinema de gênero no país vem sendo uma grande referência internacional dentro do segmento. Aterrorizar, seja por meio do gore ou do entretenimento fantasmagórico, é algo que definitivamente os cineastas indonésios aprenderam a fazer ao longo das últimas décadas.
Gustavo Fernandes é estudante de Cinema e Audiovisual na PUC Minas.