POR: Nivaldino Ivo Sami
O documentário Maioria Absoluta, dirigido por Leo Hirszman, Brasil, filmado em 1963 e montado em 1964, nos apresenta como era a vida dos brasileiros de classes baixas. Com o advento do golpe militar, o documentário ficou proibido até 1980, período em que foi exibido fora do Brasil.
O mini documentário aborda o analfabetismo que marginaliza 40 milhões de pessoas numa época de sofrimento e miséria, e as condições de vida dos camponeses impedidos de votar, denunciando a desigualdade social no país. Numa época de disseminação de ideologia política e de segregação racial contra os povos escravizados, o filme mostra como eles foram literalmente explorados para trabalhar as terras, sem o devido reconhecimento de seus direitos. As condições eram as piores possíveis, sem falar de alimentação e outras precariedades, mas mesmo assim, demonstraram resistência e esperança em dias melhores.
No filme, alguns cidadãos entendiam que era o problema da grande crise brasileira era a falta de moral por parte dos políticos, mas nem todos tinham essa mesma concepção, e houve respostas contraditórias. Para os discordantes, não caberia apenas atribuir a culpa aos políticos, e que os explorados deveriam aproveitar os pouquíssimas auxílios que recebiam para educar os novos alfabetizá-los.
O documentário nos evidencia de forma evidente a restrição, o preconceito e a segregação racial que existia. O povo do nordeste era o que mais vivia essa dramática situação, onde a maioria só tinham uma refeição por dia e as crianças sem escolas tinham dificuldades para aprender a ler e escrever. Grande parte das famílias morava em casas cobertas de palha com chão de terra batida onde estavam suas camas. Diante de tudo isso, como era possível educar e manter uma boa condição de vida, com tanta vulnerabilidade e sem direitos? Como podiam modificar essa realidade se não tinham sequer liberdade de exercer seus direitos de votar?
Leo Hirszman, através desse documentário mostrou que o analfabetismo mora nas regiões mais pobres do país, com baixa expectativa de vida, longe dos centros urbanos. São imagens fortes, dolorosas e pesadas, que demonstram injustiça, fome, alienação e seria injusto dizer que eles poderiam dar volta por cima ou reverter a situação que passavam sem saúde, educação e sem salário que são direitos mínimos que um cidadão deve ter.
A obra mostra como é cruel e desumano compactuar com um regime que restringe seus cidadãos os direitos mínimos. Ao denunciar essas injustiças e outras mazelas, a arte nos mostra que ela pode estar a serviço da transformação social.