POR: Maria Paula Resende Morais
As celebridades são indivíduos midiáticos, que, por consequência, têm grande visibilidade e influência no cotidiano das pessoas. Entretanto, a vida desses famosos pode ser um tanto conturbada em relação ao público gerando muitos problemas, entre eles a dificuldade de lidar com a visibilidade e o próprio trabalho.
Ao iniciar os estudos acerca da Indústria Cultural e da Cultura de Massa é muito comum abordar Edgar Morin e os estudos sobre os Olimpianos. Entretanto é importante ressaltar que o presente artigo não tem como finalidade reduzir as questões midiáticas da atualidade a teorias básicas propostas no fim do último século, mas reconhecer a importância delas para os estudos atuais.
De acordo com o livro “Cultura de Massas do Século XX”, Edgar Morin (1997) aborda o tema de celebridades como sendo Olimpianos. Ou seja: permeados entre uma natureza humana e divina de destaque na sociedade sendo cultuados, assim como acontecia na mitologia grega.
Na cultura de massas, o Olimpo teve uma configuração um pouco diferente. As novas celebridades passaram a se aproximar do público, uma vez que a exposição na mídia é mais intensa, fazendo com que assim sejam os novos semideuses. Os semideuses são poderosos, mas apresentam defeitos, como o público, se aproximando e integrando à vida cotidiana.
Para além dos estudos de Morin, Douglas Kellner também contribui com o debate sobre as celebridades no livro “A cultura das mídias” (2001). Na obra, Kellner dedica um capítulo para falar sobre a vida e a carreira de Madonna e como sua imagem foi bem construída na mídia. Entre as questões abordadas pelo autor, está a facilidade com que a cantora se reinventa e, consequentemente, mantém a carreira em alta.
Entre diversos exemplos imagináveis para trabalhar os autores, Heath Ledger pode ser encarado como um deles.
Heathcliff Andrew Ledger, conhecido como Heath Ledger, foi um ator australiano, que iniciou a carreira em 1996 em uma série televisiva. Em 1999, estrelou o filme “10 Coisas Que Eu Odeio em Você”, um de seus sucessos. Foi quando começou a ter mais visibilidade em Hollywood.
Foi de 2000 a 2005 que Ledger destacou-se no cinema norte-americano e ganhou seu espaço. Atuou com Mel Gibson e ganhou prêmios como “Futura Estrela Masculina”. Sua carreira, no geral, pode ser comparada à dinamicidade e capacidade de reinvenção explicitada no texto de Kellner sobre Madonna. Ledger interpretou personagens com personalidades muito diferentes. Por estar no “mundo dos filmes”, saber interpretar personalidades diferentes é importante para ajudar no sucesso do artista.
Em 2005, o ator interpretou um cowboy, em Brokeback Mountain. Por este filme ganhou o prêmio de melhor ator e indicações de melhor ator no Globo de Ouro e Oscar. No mesmo ano, atuou em um filme de comédia romântica, mas não obteve sucesso.
Sua atuação mais notável, reconhecida pela crítica e pelo público, foi também seu último trabalho. Em 2007, Heath Ledger começou as gravações do que seria seu último filme, Batman: O Cavaleiro das Trevas. Para dar vida ao icônico vilão, o ator escreveu um diário com características do personagem e muito se especulou sobre isso. A ideia comumente conhecida foi que, devido a sua preparação para interpretar o Coringa, Ledger teve seu psicológico afetado levando-o ao uso de remédios que posteriormente causaram sua morte, antes mesmo do lançamento do filme. Em 2015, saíram notícias sobre um diário com temática circense e descrições sobre a preparação para o vilão. Outro fato revelado por sua família foi que Ledger passou um mês trancado em um quarto de hotel estudando seu diário e na última página estava uma despedida do ator.
Comportamentos como esses observados no ator podem ser considerados influências da Cultura de Massa que visa à produção de herois e semideuses fundamentados no espetáculo. Como consequência disso, no caso de Ledger, em entrevista ao New York Times disse que a construção do Coringa o deixou física e mentalmente exausto, resultando em remédios para o ajudar a dormir. Ou seja, a busca constante pelo sucesso, para se manter como um olimpiano, acabou o deixando doente e, consequentemente, levando-o à morte.
Após sua morte, Ledger venceu a categoria Melhor Ator Coadjuvante nas premiações: Oscar, Globo de Ouro, Prêmios Screen Actors Guild e Prêmios BAFTA, venceu também como melhor vilão o MTV Movie Awards. Ao ganhar o prêmio, Ledger obteve a redenção como artista, sendo lembrado por seus papeis adorados pelo público e não por sua morte trágica.