Por: João Victor Plá
O longa-metragem “A batalha de Argel”, de 1966, dirigido pelo cineasta italiano Gillo Pontecorvo, é uma produção baseada nos acontecimentos da guerra pela independência da Argélia nos anos de 1954 a 1962. A obra foi produzida sob os relatos de Saadi Yacef, um dos líderes revolucionários na luta pela independência argelina, que escreveu na prisão suas memórias da Batalha de Casbah, o que levou Pontecorvo a roteirizar a película. O filme exibe, nos seus 121 minutos, a luta do povo argelino contra as forças coloniais francesas, que ocupavam o país desde 1830 e exibe, de forma clara, os dois lados dessa guerra, além de mostrar como atuavam no conflito e quais eram seus objetivos. O contexto histórico da obra é marcado por um momento em que os países colonizadores europeus lutavam pela conservação da sua influência – atroz – no continente africano, enquanto movimentos que lutavam por independência cresciam. Além disso, mediante a ocupação francesa na Argélia durante mais de 130 anos, podia-se observar um nítido aumento nas desigualdades sociais além de uma separação étnica ferrenha, tendo em vista que comunidades de diferentes origens eram separadas por bairros nas cidades.
O longa, já em seu início, apresenta aos telespectadores o grupo revolucionário Frente da Libertação Nacional (FLN), principal frente para o combate ao colonialismo no país. “Povo da Argélia, nossa luta é dirigida contra o colonialismo, nosso objetivo é a independência e a restauração do Estado argelino.” declara o grupo à população. A FLN surgiu em 1954, oriundo de uma junção de pequenos partidos que tinham o objetivo de se livrar das amarras francesas e obter a independência. O filme destaca a organização da FLN e como eles agiam contra a repressão da polícia, que utilizava métodos de torturas e terror. Nota-se que a Frente tinha como uma de suas bases o islamismo e lutava pelo povo islâmico no seu país com todas suas forças. Pode-se observar, ainda, que a população islâmica da Argélia não se rendia nem à língua francesa, enquanto outros poucos Argelinos, que apoiavam o regime francês no país, utilizavam a língua francesa no seu dia a dia. Esse fator é interessante de se observar pois o islamismo, desde o final do século XIX, sempre foi uma força contra o imperialismo ocidental e o neocolonialismo, o que, trazendo aos dias atuais, é possível fazer uma ligação dessa resistência ao povo palestino, que dia após dia é dizimado por Israel e pelo ocidente. As semelhanças do que é exibido no longa com o que acontece em Gaza não são distantes. Casbah, um bairro árabe na cidade de Argel, capital da Argélia, foi bombardeado pela polícia francesa da época e, continuamente, a população dessa região era submetida a revistas e a grandes repressões por parte da polícia como torturas e maus tratos frequentes. Mediante estas condições, a FLN organizou diversos revides que acirraram ainda mais a relação entre os franceses e os árabes. Dessa forma, em janeiro de 1957, tropas francesas são levadas à Argélia para combater o grupo rebelde e seus simpatizantes, e assim se deu início a Batalha de Argel. A repressão ao povo árabe foi intensa, o que levou a uma grande greve do povo árabe, que tentava resistir.
A resistência do povo árabe não é novidade. Em diversos países do norte africano e do oriente médio a opressão dos países imperialistas esteve presente. Em 1956 o Marrocos declarou independência da Espanha e da França, no mesmo ano em que a Tunísia se tornou independente da França; além da resistência do Irã e de muitos outros países frente ao imperialismo ocidental. A Argélia, em 1962, após anos de luta, obteve a independência.
O filme se faz necessário pois representa a luta de povos, como os palestinos, que são dizimados diariamente por uma força gananciosa e má. A obra se mostra importante, também, por ter sido exibida em 1966, época em que as forças ocidentais tinham mais influência que nos dias atuais e a informação não era tão acessível. Portanto, o longa teve o papel de expor o que acontecia nos países em que não se tinham muitas informações e de influenciar outros povos a lutar contra qualquer tipo de repressão. Outro ponto positivo é a clareza da película, o filme exibe de forma simples todos os acontecimentos da guerra e não é redundante. Um ponto negativo observado é uma romantização exagerada da FLN, que, claro, foram os responsáveis pela revolução e lutaram pelo seu povo, no entanto, é uma guerrilha que matou inocentes e, portanto, acredito que esse fator deveria pesar um pouco mais, o que não diminuiria a grande luta deles que levou à independência da Argélia.
O filme é um trabalho valiosíssimo para a história do mundo e no que tange às relações internacionais. Pode ser considerado, também, um alerta para qualquer tipo genocídio que acontece no globo, logo, seu valor é inestimável e deve ser valorizado nas academias do mundo.