A Interseção Entre Esporte e Política: Estratégias de Poder, Capital e Mobilização Eleitoral

Por João Pedro Diniz Santos

Nos últimos anos ouvimos cada vez mais falar sobre atletas envolvidos em causas sociais, mas também há a atuação política dos dirigentes, que oferecem apoio estratégico e financeiro. Recentemente, líderes da NBA e do UFC desempenharam um papel significativo na eleição de Donald Trump.

Na NBA, ninguém apoiou mais Donald Trump do que a empresária israelense-americana Miriam Adelson, que investiu cerca de US$100 milhões na campanha do republicano, apesar de Trump ter demonstrado querer um apoio ainda maior. Em dezembro passado, Adelson adquiriu a participação majoritária do Dallas Mavericks, comprando-a de Mark Cuban, empresário e figura conhecida do reality show Shark Tank, que criticou fortemente Trump nos últimos anos. Cuban ainda detém mais de 25% da equipe e afirma que a divergência ideológica entre eles não prejudica sua relação com Adelson.

Dan DeVos, dono do Orlando Magic, é cunhado de Betsy DeVos, que foi secretária da Educação durante o primeiro governo de Donald Trump, e também contribuiu financeiramente para suas campanhas. Já James Dolan, proprietário do New York Knicks, apesar de não ter feito doações, é amigo de Trump e disponibilizou o Madison Square Garden para o evento de encerramento de sua campanha.

Embora Kamala Harris e os democratas tenham contado com doadores do mundo do esporte, poucos se empenharam na campanha, como Sheldon Adelson e o presidente do UFC, Dana White. Apoiador de Trump por muito tempo, White chegou a subir no palco durante o discurso de vitória do candidato. Trump venceu a eleição entre os homens por 10%, no que ficou conhecido como o “bro vote” – um grupo que, curiosamente, a imprensa não classifica como “identitário”.

Com o apoio de Dana White, Trump conseguiu conquistar parte do público do UFC, recuperando sua imagem após os eventos de 6 de janeiro e sendo ovacionado em várias ocasiões. Em uma das estratégias envolvendo o UFC, ele enviou campeões de MMA a Michigan, um estado decisivo com grande população árabe, para transformar a insatisfação local com a situação em Gaza em apoio eleitoral. Como resultado, em Dearborn, a primeira cidade dos Estados Unidos com maioria árabe, Trump venceu por uma margem de seis pontos.

É importante ressaltar que, durante o primeiro governo de Donald Trump, muitos atletas boicotaram as tradicionais visitas dos campeões à Casa Branca. O primeiro time a recusar o convite foi o campeão universitário de basquete masculino de 2017, North Carolina, liderado por um treinador crítico a Trump. Por outro lado, as campeãs do basquete feminino, South Carolina, sequer receberam um convite, rompendo uma tradição de décadas.

Quando o Golden State Warriors conquistou o título da temporada 2016-17 da NBA, a tensão ficou evidente: o técnico Steve Kerr já havia declarado, meses antes, que não visitaria a Casa Branca. O astro da equipe, Stephen Curry, também afirmou que não compareceria. A situação ganhou maior repercussão porque, enquanto a ausência de equipes universitárias em visitas presidenciais não era incomum, a recusa dos campeões da NBA, uma das ligas esportivas mais poderosas do mundo, representava um gesto de grande impacto.

Para sair por cima, Trump decidiu quebrar a tradição, e no então Twitter declarou que o convite aos Warriors estava cancelado.  Quando soube que só três jogadores do Philadelphia Eagles, vencedor do Super Bowl em 2018, pretendiam fazer a visita, mais uma vez o presidente cancelou o convite.

Algo que também chama a atenção é que nenhuma equipe campeã da WNBA no período do governo Trump recebeu o convite para ir à Casa Branca, mesmo com a treinadora Cheryl Reeve, do Minnesota Lynx, dizendo que ficou decepcionada por não poder fazer a visita. Para as mulheres, tratamento diferente.

Com Joe Biden, as visitas voltaram à normalidade: o Golden State Warriors, que não havia visitado Trump, por exemplo, foi à Casa Branca depois de voltar a vencer a NBA.

Se Trump já teve um relacionamento tão complicado com os atletas das principais ligas estadunidenses, é difícil imaginar o que pode acontecer lidando com os estrangeiros: dois enormes eventos, as Olimpíadas e a Copa do Mundo, acontecerão nos EUA nos próximos 4 anos. Mas com certeza o republicano deve ter um plano para estas ocasiões, visto que mudou a sua estratégia nas últimas eleições com relação aos esportistas.

A crítica aos atletas milionários, vistos por alguns como desconectados das demandas reais da população, é um debate recorrente, mas que raramente considera o sistema que os sustenta. Afinal, quem os paga? Clubes e federações justificam salários exorbitantes com base nos lucros astronômicos gerados por transmissões, patrocínios e bilheterias, elementos financiados indiretamente pelos próprios fãs, que consomem jogos, produtos licenciados e serviços associados ao esporte. Nesse ciclo, os torcedores, mesmo que inconscientemente, alimentam uma indústria que transforma atletas em celebridades globais, criando um paradoxo: enquanto criticam a desconexão dos jogadores, continuam a financiar a estrutura que os coloca nesse patamar. Isso levanta questões sobre prioridades culturais e econômicas, além do papel do esporte como reflexo das desigualdades sociais.

Portanto, por trás de atletas que recebem milhões, há dirigentes lucrando bilhões às custas de seu trabalho. Essas mesmas figuras não hesitaram em apoiar o retorno de Trump à Casa Branca. Ao explorar as conexões entre o candidato e a audiência esportiva, garantiram o apoio do eleitorado masculino e, consequentemente, a vitória.

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