Crítica de “ O Massacre da Serra Elétrica”

Por: Fernanda Tavares Bordignon

Lançado em 1974 e dirigido por Tobe Hooper, O Massacre da Serra Elétrica (The Texas Chainsaw Massacre) tornou-se um marco definitivo do cinema de terror, sendo um divisor de águas para o gênero. Não à toa, o filme é amplamente lembrado quando se fala de produções que moldaram o horror contemporâneo, especialmente por ter introduzido uma nova abordagem narrativa mais direta e visceral.

Como um dos pioneiros do subgênero slasher, o filme se destaca pela maneira como constrói a tensão de forma progressiva e imersiva. Hooper utiliza uma narrativa econômica, em que cada detalhe, por menor que seja, serve para intensificar a sensação de perigo iminente, culminando em um clímax angustiante. A montagem frenética, repleta de cortes bruscos e secos, aumenta o estado de alerta e confusão, criando um ritmo que parece desmoronar à medida que a narrativa avança. Esse dinamismo visual é amplificado pelo design de som, que usa sobreposições sonoras para mergulhar o espectador em um estado de vulnerabilidade,  espelhando a experiência dos personagens.

A cenografia é igualmente essencial para a atmosfera claustrofóbica do filme. Desde as estradas vazias e desoladas até os postos de gasolina decadentes, cada locação reforça o isolamento e a hostilidade do ambiente texano. As paisagens áridas e sem vida contrastam com a inquietante decrepitude da velha casa de Sally e Franklin, onde o grupo de amigos faz uma parada, e da residência de Leatherface, cuja estética suja e caótica reflete a insanidade de seus habitantes. A casa, coberta de ervas daninhas e rodeada por carros abandonados, por si só já transmite um senso de morte e decomposição. No interior, os móveis feitos de ossos e peles humanas, combinados com a má iluminação e paredes descascadas, criam uma atmosfera opressiva e macabra. A sala de abate, com ganchos pendurados e restos apodrecidos, evoca diretamente a brutalidade de um matadouro, um elemento que é central para a metáfora do filme.

O simbolismo em O Massacre da Serra Elétrica vai além da violência explícita, conferindo ao filme uma complexidade temática inesperada. Logo no início, após o grupo deixar um cemitério onde tumbas foram violadas, passam por um antigo matadouro. Franklin menciona que o local ainda utiliza métodos arcaicos para abater o gado, citando repetidamente o uso de marretadas na cabeça dos animais. Essa informação aparentemente trivial se revela uma premonição do destino do grupo, cujo fim será igualmente violento e desumano. O filme traça um paralelo perturbador entre a desumanização das vítimas de Leatherface e a brutalidade da indústria da carne, onde vidas sencientes são extintas sem qualquer consideração. Tobe Hooper, em entrevistas, apontou que a obra reflete a crueldade inerente à cadeia alimentar industrial, ao substituir animais por humanos no papel de vítimas, reforçando uma metáfora contundente sobre a desvalorização da vida. Segundo o diretor: “De certa forma, eu achava que o coração do filme era a questão da carne, sobre a cadeia da vida e a morte de seres sencientes”.

Essa crítica à desumanização é explicitada não apenas na forma como Leatherface abate suas vítimas com marretadas, ecoando o destino do gado, mas também na ambientação de sua casa, que se assemelha a um abatedouro macabro. A combinação entre o grotesco dos cenários e o uso simbólico da violência dá ao filme uma profundidade que vai além do horror convencional.

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