Por: João Gabriel Ferreira
Lançado dia 13 de novembro de 2009, o filme ‘’ 500 dias com Ela’’ dirigido por Marc Webb, é um filme de romance que se diferencia da mesmice do gênero, possuindo uma trama não muito convencional sobre o amor e relacionamentos. A trama revisita o relacionamento de Tom Hansen e Summer Finn através de uma série de momentos fragmentados em memórias, a história é dividida em 500 dias, mas seus acontecimentos são apresentados de uma forma desconexa, totalmente embaralhados, desafiando o público a ver e entender os altos e baixos do relacionamento sob diferentes perspectivas.
A história se inicia durante o fim do relacionamento entre Tom e Summer, o que, por si só, já é uma quebra do imaginário criado quando se vai assistir a um romance. Tom é um idealista que acredita e sonha com o amor verdadeiro, diferente de Summer que apresenta uma ideia mais cética sobre o ideal do amor romântico. Essa diferença entre ambas visões é abordada de forma delicada e realista, sem ser excessivamente dramático ou sensacionalista, o que traz um tom mais maduro.
Sua estrutura não linear é uma escolha bastante interessante e eficaz, ela cria uma conexão emocional com o espectador ao mostrar os altos e baixos do protagonista. A alternância entre o prazer, a euforia e a decepção dele é um reflexo de como as memórias de um relacionamento podem ser distorcidas pelo tempo e pela dor.
O filme explora com profundidade as nuances e complexidades do amor e da desilusão, diferentemente do modelo tradicional onde o final feliz e garantido. 500 dias com Ela trata da expectativa versus a realidade, fazendo questão de nos lembrar que o amor não é algo fixo ou garantido, mas um processo dinâmico e muitas vezes imprevisível. Nele também é explorada a forma como lidamos com a perda, essa visão é percebida ao seguir o luto do término de Tom em sua tentativa de entender o que deu errado. É mostrado como a memória pode distorcer eventos, fazendo com que o passado pareça mais perfeito ou doloroso do que realmente foi. Isso é simbolizado pela estrutura desconexa do filme, na qual existem momentos de alegria que são seguidos de tristeza, criando assim uma imagem de um relacionamento turbulento.
No quesito personagens e atuações o longa metragem também não fica devendo a ninguém, a performance e Joseph Gordon- Levitt como Tom é profunda e encantadora, conseguindo assim transmitir perfeitamente o mix de esperança e dor que o personagem experimenta, já Zooey Deschanel como Summer traz consigo um tom mais enigmático, desafiando as expectativas românticas, tendo uma visão objetiva e realista sobre relacionamentos, deve se comentar sobre como a química entre ambos os personagens é palpável criando assim uma dinâmica interessante entre dois pontos de vista conflitantes sobre o amor. Precisa ser evidenciado também a direção criativa e trilha sonora. O uso de músicas é um de seus pontos altos, criando uma atmosfera envolvente que ajuda a construir a identidade dos personagens e do filme como um todo. A edição criativa trazendo transições rápidas e não sequenciais, reforça o ritmo acelerado e confuso de estar dentro dos altos e baixos de um relacionamento.
Porém ele não está isento de críticas. Certos espectadores podem achar essa estrutura não linear confusa, especialmente no início. Além disso, o filme demonstra uma desconstrução do romance idealizado que pode ser interpre
tado como uma visão pessimista sobre relacionamentos. Acrescenta-se ainda, que a falta de uma certeza para o futuro de Tom e Summer também gera debates negativos, por não definir uma solução satisfatória para os problemas de Tom, deixando uma sensação de incompletude.
Em resumo, 500 dias com Ela é uma obra que consegue fugir dos clichês e oferece para quem assiste uma visão honesta e dolorosa sobre o que pode ser o amor, abordando temas como a sua idealização, a dificuldade da aceitação de realidade e como as expectativa moldam nossas experiências. Com performances brilhantes e uma direção precisa, o filme lida bem com a realidade emocional do tema, fazendo com que ele seja uma das obras mais cativantes e sinceras do gênero.