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Fotógrafo Pedro Souza com uma camisa do Atlético, preta, de manga longa. Está segurando o tripé e uma câmera na mão.
Pedro Souza fotógrafo do Atlético - Foto: Paulo Henrique França/Atlético

Pedro Souza: dando zoom na vida de um fotógrafo

Acompanhar o time nas viagens, chegar junto com os jogadores no estádio, filmar bastidores, posicionar-se, ajustar os detalhes de câmera, luz, sombra, concentração e 90 minutos de cliques. Essa é a rotina de Pedro Souza, fotógrafo oficial do Clube Atlético Mineiro. Vez ou outra, o reconhecimento pelo trabalho ainda se transforma em prêmio, como o do concurso “Foto do Ano’’ de 2022, promovido pelo Mineirão, com uma foto tirada instantes antes do início do confronto entre Atlético e Flamengo, pela partida de ida da Copa do Brasil de 2022.

Na imagem, em primeiro plano, aparece o jogador Hulk com a camisa preta e branca listrada, a principal do Atlético.  Ao fundo aparece um mosaico em 3D do Galo, o mascote do clube, com um um semblante de raiva.
Foto do jogador Hulk, feita por Pedro Souza, foi premiada em 2022 / Foto: Pedro Souza

A rotina, contudo, não é composta apenas por essa parte romântica. Vestindo a camisa casual do Atlético, uniforme de trabalho, Pedro Souza nos recebe em seu carro, no intervalo de mais um de seus agitados dias. O motivo: compartilhar conosco justamente aspectos como o seu dia a dia atual, mas sem se esquecer do passado e vislumbrar o futuro, abrangendo uma abordagem profissional e pessoal.

Pedro é natural de Belo Horizonte, mas viveu até os dez anos em uma fazenda no Sul de Minas Gerais, antes de se mudar para Ouro Branco. A paixão, porém, nunca se alterou: o futebol. Nas palavras do próprio: “Minha paixão era jogar bola. Eu só gostava de jogar bola”. Ainda prestes a se formar no colégio, movido pelo amor pelo rádio, voltou para Belo Horizonte em 2011 com o intuito claro de fazer algo relacionado a jornalismo e comunicação. A profissão dos sonhos envolvia as duas paixões já citadas, além de outra que aparecerá em larga escala no decorrer deste texto: comentar futebol, principalmente o Galo, em rádio. E a fotografia em meio a tudo isso? Pedro deixa claro que a escolha pelo curso de jornalismo passou longe de tê-la como explicação. O feeling pelo momento perfeito, entretanto, sempre esteve presente, mesmo antes de chegar a encostar em uma câmera. Quando esse momento enfim chegou, a fotografia acabou virando uma brincadeira. Aos 12 anos, começou a pegar câmeras emprestadas para fotografar os torneios de Rally que aconteciam em Ouro Branco. Tudo isso, segundo o próprio, não passava de um mero hobby.

A paixão que mais influenciou e inspirou o destino de Pedro foi o Atlético. A proximidade com o clube foi outro fator que pesou em sua escolha de voltar e, apesar de o sonho de trabalhar no clube aparentar ser algo distante à época, a possibilidade de comentar sobre ele nas mídias o atraía muito. Alguns amigos, como Fael Lima, representante do Galo na bancada do tradicional Alterosa Esporte, do SBT, e criador do blog e canal Camisa Doze, e outros que conhecia da comunidade do clube no Orkut já se encontravam no ramo. O sonho acabou se concretizando muito mais rapidamente que o imaginado, e ele ingressou no clube de forma voluntária em 2015. Trabalhando no Centro Atleticano de Memória, auxiliou na reforma da sede administrativa, virando noites catalogando troféus, conquistas e realizando pesquisas. E assim foi durante várias madrugadas, sem ganhar nada, apenas pelo prazer em ajudar o clube a quem, como o próprio admite, deve tudo. Lá, acabou conhecendo o atual gerente multimídia do Atlético, que posteriormente o convidou para a candidatura em uma vaga definitiva na instituição. Conhecedor dos processos e modo de trabalho local, foi efetivado em 2016 na área de clipagem. Desse modo, permanecia o dia inteiro em frente a cinco telas de computador passando diferentes programas esportivos e recortando tudo o que era falado sobre o clube na TV e em jornais impressos.

Paixão

A fotografia entra de vez na história a partir deste ponto. Pedro identificou uma lacuna dentro do clube e no mercado nacional como um todo no que diz respeito a documentar personagens importantes, como a torcida e base, e transformou essa escassez em oportunidade de fazer algo diferente. É nessa área que permanece e se aprofunda até os dias atuais, realizando também a cobertura, fotografando e sendo videomaker do futebol profissional. Nessa trajetória, Pedro relembra e destaca um conselho recebido em meio aos festejos das conquistas do Galo em 2021, pelo então técnico do clube, Cuca: “Moleque, aproveite ao máximo esses momentos bons e de felicidade no futebol, porque eles são raros, quase nulos. O futebol vai te estressar mais do que dar alegrias”. Ao ser questionado sobre como é viver no mundo do futebol, Pedro dá razão a dica que recebeu à época. Apesar de sentir realizado e costumar dizer que realiza um sonho ao sair de casa todos os dias, admite que é uma rotina marcada por muito desgaste. Os resultados dentro de campo afetam diretamente o ambiente de trabalho, para o positivo ou negativo, sendo necessário gostar muito do esporte e do clube para suportar o estresse. Ao relembrar as experiências profissionais com vendas e sendo auxiliar administrativo de uma usina de aço, recusa qualquer comparação com a rotina dentro da esfera esportiva, considerando mundos completamente distintos.

Viver a rotina profissional dentro de um clube de primeira divisão do futebol nacional é uma experiência muito cobiçada, mas que poucos tem a oportunidade certa. Trabalhar no seu clube de coração, ajudá-lo a se tornar melhor e conviver diariamente com ídolos e superastros mundiais do esporte faz com que o trabalho se torne ainda mais apaixonante. Pedro retrata essa interação dentro de clube com muito carinho por trabalhar no clube do coração, mas também ressalta que, com o tempo e convivência, passou a enxergar os jogadores como profissionais assim como ele e que tem carinho por todos ali dentro. “Dentro do clube é como uma sala de faculdade. Não ‘desgosto’ de ninguém, mas tem atletas que converso mais e que temos uma troca muito boa. O Hulk foi um dos caras que, desde quando chegou, me trata de uma forma que eu não esperava ser tratado. É muito massa isso tudo.” Trabalhar em um time de magnitude nacional traz uma certa fama que Pedro admite não estar totalmente acostumado, mas que gosta muito. “Vejo gente de outras cidades que eu nunca vi na vida me chamando pelo nome e pedindo foto, ou perguntando sobre o clube e acho isso muito massa. Um menino de interior igual eu não pensa nisso quando fala em trabalho, mas o meu tem me proporcionado muito disso e, apesar de eu ainda estranhar um pouco, estou me acostumando e gostando cada dia mais do carinho.”

Ano especial

O ano de 2021 foi um ano especial para qualquer atleticano do mundo, e para Pedro não seria diferente. O Atlético Mineiro terminou com uma seca de 50 anos no Campeonato Brasileiro e atingiu o topo do futebol nacional ganhando também a Copa do Brasil, além do Campeonato Mineiro. Como torcedor, é um privilégio poder presenciar um ano como esse, mas estar dentro do clube e viver diariamente tudo isso é inacreditável até para Pedro, que está dentro do clube desde 2015. “Até hoje não caiu a ficha. Eu ficava tão focado em corresponder às expectativas do clube, da torcida e de mim próprio que passava os jogos e não tinha tempo para pensar no que eu estava realmente vivendo.” O Galo, um time conhecido por nada vir fácil, conquistou o título do Brasileirão com seis rodadas de antecedência e, apesar de ter sido superior o campeonato todo, a torcida, o clube e Pedro só puderam respirar após ter a taça na mão. “Após o jogo contra o Bahia foi o único momento que eu parei, respirei e pensei: ‘Cara, o que eu estou vivendo?’. Ali mesmo ajoelhei e caí no choro igual uma criança, mas no mesmo momento tive que respirar e voltar ao trabalho, pois essa emoção, apesar de estar em mim, eu tenho que capturar ela de outros.”

Viver um título dessa magnitude com o time de coração, lidar todos os dias com ídolos históricos da instituição e trabalhar no clube que ama é o suficiente? Para Pedro, não.  Além de sonhos pessoais, o fotógrafo ressalta o quanto a profissão não é valorizada e, por isso, precisa de mais para viver de forma tranquila. Ele afirma que já viveu muito mais do que podia imaginar e que só de trabalhar dentro do Atlético já é um passo enorme para ele, mas seu sonho hoje é fotografar a Seleção Brasileira. “Acho que todo mundo que trabalha com futebol imagina isso, você trabalhar para sua seleção e pensar: ‘Nossa eu estou representando meu país inteiro’. Mas acho isso meio inalcançável”, diz o modesto Pedro Souza. “Um [sonho] que acho mais possível é cobrir uma Copa do Mundo. Seja por foto, entrevistando, qualquer coisa. Tenho o sonho de um dia cobrir uma Copa.”

A trajetória de Pedro Souza tem como motivação e se entrelaça com a história do Galo. Desde a vinda para BH em busca de mais proximidade ao clube, passando pelo cuidado com a memória da instituição de maneira voluntária, até a participação da construção de grandes conquistas do presente e ambição por ainda mais para o futuro, Pedro constrói sua jornada sem se esquecer de suas raízes no Sul de Minas Gerais, da juventude em Ouro Branco, da paixão por jogar bola, por rádio e, claro, da surpreendente, porém marcante identificação com as câmeras. É dando esse close em sua vida que buscamos documentar, de alguma forma, a história de quem eterniza para milhões de pessoas momentos de tanta alegria, emoção e representatividade.

Perfil produzido por Guilherme Teixeira, Henrico Souza, Lucas Fileto, Lucas de Paiva, Nara Maria e Vinícius Diniz sob a supervisão do professor  Vinicius Borges. 

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