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Eugênio Sávio de óculos e cabelos grisalhos, camisa e calça preta com os braços cruzados, na frente de fundo cinza.

Eugênio Sávio: a lente das Copas

“Cabeça fria, coração quente”: fotógrafo veste “capacete de frieza” para não deixar emoção tomar conta nem perder clique

“Cabeça fria, coração quente”, lema de Abel Ferreira, técnico do Palmeiras. Mas, afinal de contas, o que o comandante alviverde tem a ver com Eugênio Sávio? Tudo. Os dois carregam a mesma ideologia, colocando o profissionalismo acima da paixão pelo futebol. Fotojornalista há mais de 30 anos, ele diz vestir um “capacete de frieza” e se concentrar a fim de que a emoção não tome conta de si e nem o faça perder algum clique que poderia ser a grande imagem da Copa do Mundo.

Copas do Mundo

Acompanhar os jogos do Galo com o pai e o irmão aflorou a paixão de Eugênio Sávio pelo futebol e, mais tarde, pela fotografia, alinhando os dois mundos. Assim, o que era apenas uma paixão de garoto iria se tornar futuramente uma profissão, levando-o para onde nunca imaginou estar: uma cobertura de Copa do Mundo.

Em 1986, a jornada para a maior competição de futebol do mundo, que ocorreu no México, começou em Belo Horizonte, sua cidade natal, tendo o primeiro contato com o ambiente da Copa durante a preparação da Seleção Brasileira de Telê Santana na Toca da Raposa, centro de treinamento do Cruzeiro. Esse contato fez com que portas se abrissem para Eugênio a demanda por imagens ele enxergasse uma possibilidade para adentrar definitivamente no meio futebolístico como colaborador da Editora Abril e da Revista Placar.

O ingresso nesse meio despertou nele a vontade de estar presente na Copa de 94, já que o período da competição se encaixaria perfeitamente em sua agenda profissional. Ele atuava na ocasião como professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), e o torneio aconteceria em período de férias na universidade, de junho a julho daquele ano, nos Estados Unidos. Apesar da vontade de ir profissionalmente cobrir o evento, Sávio foi apenas como torcedor, levando sua própria câmera e arcando com os custos.

Ao chegar em solo norte-americano, encontrou-se com amigos de veículos de comunicação da época, sendo surpreendido com oportunidades de fazer fotos que mais tarde seriam usadas pela mídia brasileira. Como suas fotos tiveram grande repercussão, ele conquistou uma credencial da Fédération internationale de football association (FIFA) para fotografar a fase final do campeonato, não apenas o ambiente nos arredores dos estádios, mas as partidas de futebol.

Já em 1998, o sonho de fotografar uma copa profissionalmente foi realizado, a partir de contrato com a Revista Placar para cobrir os bastidores da competição, sendo responsável por editar e selecionar as imagens, participar da sala de imprensa e fotografar o ambiente ao redor do estádio.

Depois de cobrir a Copa de 98, Eugênio foi colecionando novos carimbos em seu passaporte. Em 2006, embarcou para a Alemanha, em 2010, para a África do Sul, em 2014, atuou no Brasil, em 2018 aterrissou em solo russo e, mais recentemente, em 2022, esteve no Qatar.

A Copa do Mundo da Rússia foi a que mais lhe marcou, proporcionando uma mistura de sentimentos ao registrar uma das fotos mais repercutidas do evento: “o balé de Paulinho”, que furou a bolha do futebol e proporcionou reconhecimento internacional ao trabalho de Sávio.

O sucesso profissional, todavia, veio juntamente com um desafio pessoal. No dia seguinte ao grande clique, o fotógrafo recebeu a trágica notícia da morte do pai, o grande incentivador da sua carreira, tomando a decisão de retornar ao Brasil.

Trajetória

Nascido em Belo Horizonte no dia 4 de outubro de 1966, Eugênio Sávio se especializou na área esportiva cobrindo Copas do Mundo, Olimpíadas, Pan Americano, entre outros eventos esportivos. Formado em jornalismo pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em 1987, atuou como professor da PUC Minas por 31 anos.

A paixão pela fotografia foi algo herdado na vida de Eugênio. Filho de um fotógrafo amador, foi influenciado a pegar gosto pela prática. “Eu sempre gostei de fotografar, tinha essa inspiração com a fotografia dentro da minha casa. Meu pai gostava de fotografar, era um fotógrafo amador, tinha câmera em casa e eu de alguma forma herdei isso dele, esse gosto pela imagem”, explica. Eugênio, no entanto, foi além, ingressando no jornalismo e realizando mestrado na área de fotografia.

Após a conclusão da faculdade, passou por diversos veículos de comunicação, como a Câmera Work Produções Fotográficas e Culturais, da qual é fundador e sócio há 30 anos juntamente a sua família, Editora Abril, Revista Placar, Revista Veja, Associated Press, além de ser idealizador do seu maior projeto cultural, o Foto em Pauta.

Foto em Pauta

O Foto em Pauta foi criado no ano de 2004 por Sávio com o intuito de aproximar o público de fotógrafos importantes e suas produções artísticas. “O Foto em Pauta mistura um pouco essas duas coisas que eu faço, que é ensinar e fazer. Não é acadêmico, é de onde a gente proporciona para as pessoas o acesso e o contato com grandes autores da fotografia mais focados nesse campo artístico”, comenta Sávio.

O início do projeto nasceu na simplicidade, com apenas um projetor, para que o artista pudesse mostrar ao público suas produções e explicar o que movia as suas ideias. Com o tempo se tornou algo maior, alcançando lugares que nem o fundador esperava, como realizar o projeto no Museu Abílio Barreto, na Casa Fiat, no Oi Futuro, no Palácio das Artes, no Memorial Minas Gerais Vale, entre outros lugares. “Sem dúvida, foi além do que podia imaginar. Quando eu estava como você no banco da escola, não podia imaginar o que eu teria”, afirma Eugênio.

A primeira edição do festival ocorreu em Tiradentes, onde ocorre até hoje. Mas, isso não é por acaso, existe um motivo, explica Sávio: “Tiradentes é uma cidade vocacionada para receber eventos. Teve um episódio muito marcante pra mim quando pensei em vir pra cá, que fui em um festival de fotojornalismo no interior da França, há 20 anos atrás. Fiquei muito impressionado e (a partir daí) falei: temos que ter um festival desse no Brasil, em cidade pequena, cidade histórica que proporcione um tipo de integração entre as pessoas bem mais interessantes do que ocorre em festivais no Rio, Belo Horizonte ou outra cidade grande qualquer. Então, fiquei anos sonhando com isso, tentando viabilizar em Tiradentes, só que efetivou em 2011. Fui a Perpignan (no interior da França), uns 10 anos antes de lançar o festival aqui. Então, isso tudo contribuiu”.

Conselho para o futuro

Quando perguntado sobre que conselho daria para os futuros fotógrafos e jornalistas, Sávio diz: “tem que fotografar quem gosta, tem que sair atrás e não imaginar que isso só vai acontecer se você tiver um equipamento muito sofisticado, porque com um celular é possível fazer muitas coisas legais”, sugere.

Por fim, Sávio brinca ao lembrar que um fotógrafo contou o seguinte: “o que você acha que é mais [importante] é uma câmera? Mas o mais importante é um sapato ou tênis confortável para você sair andando na rua para fotografar, porque se não sai na rua e não gasta o seu tênis, você não vai ter foto boa não”.

Conteúdo produzido por Henrique Junger, Lucas Maia, Lucas Faleiro, Lucas Parreiras e Victor Oliveira na disciplina Apuração, Redação e Entrevista, sob a supervisão da professora e jornalista Fernanda Sanglard e do estagiário docente Marcus Túlio.Revisão de texto pela monitora Cristiane Cirilo.

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